Os debates esclareceram a posição dos partidos na economia. De realçar as posições estratégicas e com plano estruturado: o PS definiu como estratégia para alterar o rumo da economia a especialização inteligente, pela via da produtividade( aumentando a cadeia de conhecimento, retendo e captando recursos humanos e o estímulo à criação de empresas) ; o PSD e a Iniciativa Liberal dizem querer transformar a economia pela via fiscal (reduzindo impostos, esperando reter capital humano e o estímulo à instalação de empresas).
Um dos elementos essenciais para o sucesso ou insucesso do modelo económico a implementar é a Administração Pública- esteve em falta nos temas debatidos. A Iniciativa Liberal resume a sua ambição para a Administração Pública na quantidade de lápis consumidos.
A estratégia do PSD poderá ter efeitos mais imediatos, mas efémeros e sem impacto a longo termo na economia; a do PS será mais consolidada e mais demorada no tempo. Como ambos sabem, mas não dizem, num país com as características de Portugal o caminho não pode apenas ser um, mas sim um misto de ambos, podendo existir uma maior ênfase num ou noutro, mas nunca excluindo um deles.
Os países liberais não têm o nosso modelo económico, nem o nível de conhecimento ou educação. Não basta importar políticas públicas para qualquer população.
Por outro lado, algum jovem deixará uma oferta de trabalho, com melhores rendimentos, melhores perspetivas de carreira, por um “desconto” na carga fiscal? não. Falta o sonho, a ambição de um país que se espelha, desde logo, no seu modelo económico. Na falta, a ambição emigra.
Portugal vê jovens a saírem (maioritariamente qualificados em áreas emergentes) e jovens e não jovens a entrarem (nem sempre qualificados). O nível de educação e conhecimento na nossa sociedade é ainda reduzido. São estas desregulações que não permitem definir de forma dogmática apenas uma das intervenções na economia, ora propostas pelo PSD/IL ou pelo PS.
Pedro Nuno Santos tem toda a razão: é preciso fazer como outros países decidiram há anos a definição de setores estratégicos para a economia para o desenvolvimento do país. Não o fizemos no continente, nem nos Açores, infelizmente após milhares de milhões de euros investimentos.
Nos Açores ensaiou-se uma espécie de estratégia inteligente e, para agradar, adaptou-se um cruzamento com setores transversais. Não estimulou a economia, não criou setores estratégicos para a região e não incutiu nos setores existentes graus de inovação que permitam uma transformação da economia nos Açores.
Se o PSD ganhar a 10 de março não é certo que implemente uma proposta do PS, como a especialização inteligente. Proposta original ou alterada. E, desta forma, Portugal continuará sem setores específicos para garantir o seu desenvolvimento estratégico e inteligente. O desconto da carga fiscal para jovens e empresas ambiciosas será muito pouco.
Se o PS ganhar a 10 de março possivelmente implementará uma estratégia inteligente definindo apoios específicos para implementar a especialização inteligente, mas rapidamente verá que terá que continuar a apoiar os outros setores de atividade, criando uma versão 2 do agora proposto, pela nossa, ainda, incapacidade ao nível do conhecimento e capital humano. Para uma especialização inteligente da economia, a montante, deverá incidir na qualificação das crianças e jovens em todo o seu percurso académico e social e em paralelo com forte investimento na investigação e desenvolvimento.
Portugal precisa de uma ambição económica e social. Precisamos de um sonho de um Portugal real.
Sónia Nicolau