O Sushi Lá em Casa surgiu na pandemia ainda como uma “brincadeira” e hoje é uma empresa familiar de sucesso e em expansão. O casal Diogo e Érica Miguel confeccionam e entregam em casa entre 15 a 20 pedidos por dia e fazem todo o tipo de eventos, como festas de aniversário e casamentos. Este ano, a grande novidade para os amantes de sushi é que poderão saboreá-lo na praia e com vista para o pôr- do-sol mais emblemático da ilha. O quiosque Os Sabores da Areia ficará localizado na praia dos Mosteiros e faz parte da expansão deste negócio.
Correio dos Açores – Quando é que surgiu o gosto pela cozinha e em especial pelo sushi?
Diogo Miguel- Em 2010 estava a servir na tropa, e surgiu a oportunidade de tirar um curso na escola de hotelaria através do exército. Como não tinha o 12º ano concluído, aproveitei e conclui com curso de cozinha. Nas férias cheguei a trabalhar em restaurantes de amigos, de forma a ganhar mais algum dinheiro porque na altura as coisas não eram como são agora.
Como o gosto em trabalhar em cozinha era tanto, rescindi o meu contrato com o exército e fui trabalhar para a hotelaria, onde comecei como cozinheiro. Entretanto, apareceu uma vaga relacionada com sushi no Parque Atlântico e aceitei. Em 2015 surge a oportunidade de trabalhar para o resort de Santa Barbara. Aí o gosto pelo sushi aumentou.
Quando surgiu a ideia de criar o Sushi Lá Em Casa?
O Sushi Lá em Casa surge quando estávamos em lay-off devido à pandemia de covid-19. Os clientes começaram a pedir sushi e comecei mais na base da brincadeira. Quando as coisas começam a estabilizar e quando era para regressar ao trabalho, disse ao meu patrão que tinha gosto em ter um negócio meu e saí do resort.
Como é feita a selecção dos produtos e ingredientes?
Tentamos utilizar sempre produtos regionais, em especial os peixes que eram nobres e que já são muito usados no sushi. Pessoalmente preferia evitar o salmão, no entanto, é o dos mais pedido. Mas dou prevalência aos peixes dos Açores como o chicharro, vejas, cavalas e a tainha. Pois para mim esses peixes têm mais importância do que propriamente os peixes de água doce.
O que é que distingue o seu sushi?
O nosso sushi distingue-se pelo sentimento com que se faz cada peça, como tratamos cada ingrediente. Como é de take away, temos sempre o cuidado para que as coisas cheguem ao cliente da melhor forma.
Quais são as peças favoritas?
Para quem é iniciante, os favoritos são as peças fritas pois não querem ter um contacto tão intenso com o peixe cru. Os que já estão mais familiarizados preferem os sashimis, gunkans ou niguiris, peças que levam mais peixe cru, digamos assim.
Qual é a sua inspiração na criação das peças de sushi?
A inspiração para fazer sushi provavelmente vem do berço. Eu cresci numa família de mergulhadores e de pescadores e isso também faz com que tenha aquele gosto pelas coisas que vêm do mar.
Pedimos muito a opinião do cliente para sabermos se estão a gostar. É toda uma envolvência, desde criar as peças até ao feedback. Temos a particularidade de ir trabalhando ao gosto do cliente.
Qual o preço médio de uma caixa?
O preço médio varia à volta dos 26 euros, no caso de uma caixa de 30 peças.
Como é o processo de embalagem e de entrega do sushi?
Recebemos a encomenda. Depois informamos o cliente que apenas podemos processar encomenda mediante 24 horas de antecedência, isto porque gerimos a parte da encomenda e preservação do peixe para se poder utilizar no sushi. Ou seja, antes do podermos utilizar, há todo o um processo até o peixe poder ser trabalhado no sushi.
As encomendas normalmente são feitas através das redes sociais, como Instagram ou Facebook, ou então através de contacto telefónico.
As nossas entregas são feitas gratuitamente, desde a zona de Ponta Delgada até à zona da Lagoa, a partir dessa zona têm um custo simbólico. As 24 horas de antecedência também servem para podermos gerir o nosso roteiro, pois todos os dias temos encomendas diferentes, em sítios e horários diferentes.
Tem ideia de quantas encomendas já fez? Em média quantas por mês?
Nunca fiz essa conta. Sei dizer que por dia temos por volta de 15/20 clientes, mas por escolha nossa. Pusemos esse limite porque somos só duas pessoas a trabalhar e porque ao limitar a quantidade de sushi podemos entregá-lo nas melhores condições.
Sabemos o que conseguimos gerir num dia e, portanto, queremos primar mais pela qualidade das nossas peças do que pelo número elevado de clientes, onde a qualidade das peças poderia baixar.
Quais são os principais clientes?
Os meus principais clientes são pessoas de classe média/alta. Qualquer pessoa pode encomendar sushi connosco, não temos número mínimo de peças. Todos têm direito às mesmas regalias. Temos um grupo de clientes muito selectivo, exigente e que nos procura por causa disso.
Também temos serviço de catering. Fazemos todo o tipo de eventos, como baptizados, casamentos e festas de aniversário.
O serviço catering tem tido muita saída?
Sim. Principalmente na altura do Verão. Temos várias modalidades de catering: podemos empratar o sushi na nossa cozinha e depois montamos tudo no espaço do evento, ou podemos produzir o sushi mesmo na hora. Mas o serviço que é mais pedido é o de take away.
Há alturas específicas em que tem mais encomendas?
O nosso sushi é mais forte na época baixa e mais fraco na época alta. Na minha opinião, isso deve-se ao facto de as pessoas sairem mais no Verão, vão, por exemplo, à praia e depois comem nalgum sítio perto. Como está frio no Inverno, as pessoas pedem mais comida para comer em casa. Em contrapartida, temos mais eventos no Verão.
Como tem sido a recepção das pessoas?
A reacção tem sido muito boa, mas, às vezes é difícil explicar o nosso serviço a quem nos contrata. Por exemplo, vamos a um casamento e as pessoas pedem sushi para apenas 100 pessoas, porque nem toda a gente gosta. Mas o que acaba por acontecer durante o evento é que a curiosidade das pessoas vai aumentando e querem experimentar. A verdade é que num evento conseguimos por toda a gente a comer sushi. As pessoas ficam encantadas com a decoração, com as peças, com a forma como é feito e começam a perceber que o sushi não ébem o que elas pensavam. Muitas vezes as pessoas dizem que o sushi é só peixe cru, mas o sushi é muito mais que isso.
Como descreve a evolução do seu negócio?
Desde 2020 até aos dias de hoje, consigo lhe dizer que já estamos num patamar muito bom. Começamos do zero e fomos sempre adquirindo as coisas. Hoje em dia já temos uma cozinha de catering e uma carrinha de distribuição. Temos uma base sólida.
Por vezes a introdução de novas pessoas pode não correr bem e, portanto, somos só nós que fazemos o sushi. Queremos manter aquilo que nos levou a ser bons. Se quisermos folgar preferimos fechar um dia.
A nível de Segurança Alimentar – HCCP, temos todos os cuidados no transporte, não fazemos transportes num carro particular nem numa caixa que não seja própria. Temos todos os cuidados possíveis até a nossa comida chegar ao cliente.
Vivem só da venda comida para fora ou mantem outros empregos?
Exactamente. Vivemos da comida do sushi. No início isso foi algo que nos fez ficar de pé atrás pois somos uma família que deixou os seus empregos para formar uma empresa. Na altura foi um risco, mas valeu a pena pela adesão e feedback positivos que vamos tendo.
Tem planos de expandir o negócio?
Neste momento vamos construir uma cozinha nova e depois vamos tentar ter um mini sushi bar. Expandimos o negócio do sushi e compramos um quiosque, embora este quiosque não tenha nada a ver com o Sushi Lá em Casa. Vai ter snacks e tudo mais com o complemento de sushi. No Verão temos uma descida da procura do sushi ao domicílio, e, neste sentido, decidimos levar o sushi para o pé das pessoas para colmatar esta parte. De momento, o quiosque só está a funcionar com snacks e na época alta é que vamos inserir o sushi para ver a adesão das pessoas. Se a adesão for boa, claro que as coisas podem continuar a aumentar e a evoluir.
Onde está localizado o quiosque?
Neste momento o quiosque está nos Mosteiros. A segunda fase do projecto é criar um sushi bar nos Mosteiros virado para o pôr-do-sol. Os projectos vão surgindo consoante as coisas. Tínhamos uma reticência quando abrimos o sushi, mas correu bem e continuamos. Agora compramos o quiosque, mas como ainda estamos na época baixa, não conseguimos prever qual o movimento que vai ter e aí vamos introduzindo o sushi devagarinho. Acho que as pessoas vão ficar espantadas quando perceberem que têm sushi para comer depois da praia. Chama-se Os Sabores da Areia e fica mesmo ao pé da praia dos Mosteiros.
Daniela Canha
Frederico Figueiredo