Correio dos Açores – Como surgiu a ideia para criar o evento Sopas Solidárias pela Fajã de Baixo?
Luís dos Anjos (Presidente da Junta de Freguesia) – O projecto “Fajã de Baixo Solidária” nasceu em 2013 e ao longo de quase três anos tivemos a dar respostas sociais a famílias mais carenciadas da freguesia. Entretanto, Tiago Matias, dos Rotaract – Núcleo dos Rotários de Ponta Delgada, contactou connosco para apresentar o projecto “Sopas Solidárias pela Fajã de Baixo”, sendo que aceitamos a proposta e fizemos em conjunto a primeira edição em 2016. Na estreia do evento, tivemos 13 associações e instituições da freguesia no mesmo local, no mesmo evento, algo nunca visto antes.
Quando tomamos posse, em 2013, sentimos que havia algum desconforto entre algumas associações, algum afastamento, quase que nem se conheciam umas às outras. Conseguimos, então, no primeiro ano, em 2016, ter a alegria de estarmos todos juntos.
Na 2.ª edição tivemos 22 associações, na 3.ª e 4.ª edição foram 25, na 5.ª eram 26 e na 6.ª edição foram 24. Este ano, na 7.ª edição, temos o recorde de 27 associações, instituições e movimentos, o que nos dá muita felicidade em ver que as pessoas estão cada vez mais a convergir com a freguesia. Podíamos ter alcançado as 30 sopas, mas tivemos três ou quatro (associações) que por razões de logística e até de recursos humanos não poderão fazer parte.
Fazemos sempre este evento no primeiro Sábado do mês de Março. Apenas não aconteceu em 2021 e 2022 devido à pandemia, caso contrário esta seria a 9.ª edição.
Quais os objectivos desta iniciativa que se tem mantido anualmente?
Os objectivos são sempre os mesmos. Partindo do princípio que toda a receita angariada reverte a favor de projectos sociais da freguesia e para a freguesia. Todas as despesas inerentes ao projecto são assumidas pela Junta de Freguesia. É uma forma de nós podermos colaborar com todos. Portanto, toda a verba angariada é receita limpa. Não é deduzido qualquer valor. Quanto à receita angariada, quer da venda de bilhetes, quer da venda do bar e das malassadas, é tudo somado e em reunião posterior ao evento com todas as associações que participaram, os projectos são apresentados pelos participantes de cariz social e, de acordo com todos os presentes, a divisão é feita de forma uniforme e a contentar todos.
Este ano vamos ter perto de 600 malassadas por parte da Marcha Santa Rita e do Império São João, que vão fazer em conjunto. Posso avançar que, no ano passado, devido às condições que a Casa do Povo da Fajã de Baixo se apresentava, foi votado, unanimemente, que todo o valor angariado, mais de seis mil euros, fosse revertido a favor dessa instituição.
Nos anos anteriores foram vários os participantes beneficiados, tais como a Casa do Povo, Casa de Saúde, Escola Linhares Furtado, Escoteiros, Lares de Nossa Senhora dos Anjos, Estufinha e mais alguns que de momento não me ocorrem.
Têm atingido a solidariedade que pretendem?
Tudo é bem-vindo. Somos todos empenhados no evento. Temos a colaboração de todas as associações, instituições e movimentos da freguesia.
Somos ambiciosos, claramente, mas não vamos ser mais papistas do que o papa. Toda a receita angariada tem sido de forma positiva. Não é qualquer evento que angaria quantias avultadas. O primeiro evento teve a adesão de quase duzentas pessoas na Casa do Povo, e estava totalmente lotado. A partir da 2.ª edição e até à 5.ª, a Escola Linhares Furtado disponibilizou o polivalente, tendo o enorme apoio de docentes e funcionários para que tudo corresse da melhor forma.
No ano passado, tendo a possibilidade de utilizarmos o recentemente inaugurado Centro Cultural e Educacional de Fajã de Baixo – Francisco Faria, na Rua do Monte, aumentou grandemente a venda de ingressos, ultrapassando as 600 pessoas que nos visitaram. Este ano, estamos prevendo atingir as 700 pessoas.
É habitual receberem muitas pessoas de outras freguesias?
Há bastantes pessoas que aparecem de outras zonas da ilha. Aliás, este ano já vendemos alguns bilhetes a pessoas de outras freguesias. Nós estamos abertos a toda gente, são todos muito bem-vindos. Já abrange uma grande parte de pessoas de fora da cidade e da freguesia. Isto, é muito bom.
Quantas pessoas vão estar na preparação? E quantas panelas?
Temos 27 sopas, 27 panelas. São 27 associações: Agrupamento 739; Assembleia de Freguesia; CAR Nossa Senhora dos Anjos; Casa de Saúde São Miguel; Casa do Povo de F. Baixo; Casa do Tempo; Comissão de Festas; Confraria das Sopa S. de São Miguel; Confraria do Ananás dos Açores; Creche Estufinha; Cresaçor; EB1/JI Prof. Dr. Alexandre Linhares Furtado; Equipa Atlético Fajanense; Fajã de Baixo Solidária; Ginástica Postural; Grupo Coral; Grupo Folclórico F. Baixo; Império da Trindade CPFB; Império de Corpo de Deus; Império de São João; Império de São Pedro; Império de São Vicente de Paulo; Junta de Freguesia; Marcha de Santa Rita; Marinha – Instalações Navais de Santa Rita; Movimento da Catequese e Rancho de Romeiros, que neste Sábado sairão em romaria, mas vão deixar alguém responsável para representar os romeiros. Teremos várias pessoas na preparação das sopas e, durante o evento, cada participante terá duas pessoas a servir a sopa.
Cada associação vai fazer a sua própria sopa ou terá de seguir uma lista de sopas?
Cada instituição apresenta a sua sopa. Nos primeiros anos, nós apresentávamos uma lista de sopas para serem escolhidas. Hoje, não é necessário. Todos fazem a sua sopa, por exemplo, a Cresaçor vai apresentar uma sopa ucraniana, a Casa do Povo com uma sopa de ervilha, a Fajã de Baixo Solidária com uma canja de galinha, os Romeiros vão apresentar uma sopa de feijão branco, esta já ganhou dois prémios no Festival de Sopas da Casa de Saúde representando, na altura, a Fajã de Baixo Solidária.
Nós não estamos aqui para concorrer com ninguém e a Casa de Saúde sempre colaborou connosco, visto que o Festival de Sopas da Casa de Saúde acontece em Setembro e nós fazemos Sopas Solidárias em Março. Assim mantemos um relacionamento saudável e não há concorrência directa entre as duas partes. De salientar que a Casa de Saúde colabora com cerca de 20 utentes neste evento e da sua responsabilidade. São pormenores que nos dão felicidade.
Além das 27 associações, há mais alguma associação que não vai fazer sopa mas que irá colaborar?
Apenas estes 27 participantes se disponibi-lizam para o evento, nenhuma outra parte que não colabora com sopa fará parte da logística. Temos um grande apoio da Casa de Saúde, disponibilizando uma grande quantidade de panelas e suportes, visto que nem todos os participantes têm panelas desta dimensão. Portanto, há um envolvimento de todos. Por isso, mesmo que não participem com a sopa e se quiserem ajudar, são bem-vindos.
Outras freguesias da ilha deveriam aderir e fazer uma edição de Sopas Solidárias?
É uma pergunta pertinente. Nós fomos pioneiros, em 2016, das Sopas Solidárias pela freguesia, não no Festival de Sopas – são duas coisas distintas.
Inclusivamente, já temos participado em alguns eventos fora da freguesia e com o mesmo intuito, mas cada um faz à sua maneira. Não estamos aqui para concorrer com ninguém.
Há lugar para todos. Acho muito bem que outras freguesias façam o mesmo, pois é uma forma de unir todas as associações da freguesia, é mais um evento para apresentar à comunidade e é mais uma forma de ajudar na parte social.
O que este evento significa?
Significa associativismo, convergência, amizade e, acima de tudo, um bem comum! Tem sido uma mais-valia para a freguesia.
Estando o meu mandato, enquanto Presidente, prestes a terminar e sendo mentor do projecto Fajã de Baixo Solidária, continuarei a dar o meu melhor para que este projecto não fique pelo caminho.
Quais são os grandes projectos que estão em curso na freguesia?
Não é necessário apresentar grandes eventos à última da hora. Basta manter aqueles que temos apresentado ao longo dos últimos anos. Um dos projectos que está a terminar é uma obra que vai acolher a Segurança Social e também um gabinete de enfermagem, forma de centralizar os serviços no Largo da Igreja, para se juntarem aos CTT e aos serviços administrativos da Junta. É o último projecto que nós, enquanto Executivo, temos para apresentar este ano. Quanto a eventos, poderá surgir ainda um festival, há o projecto “Rua com vida”, que costuma acontecer sempre depois das grandes festas em honra da Nossa Senhora dos Anjos. Queremos este ano trazer de volta a excursão paroquial, com o apoio da Junta de Freguesia de Fajã de Baixo e estamos certos de que teremos acordo da nossa Paróquia.
Tem algo mais para acrescentar?
Aos residentes da Fajã de Baixo, queria lançar aqui um apelo: eu sei que muitas vezes no Inverno é complicado sair de casa quando está a chover e está frio, mas temos feito vários eventos a nível cultural, social e outros sem a adesão que nós esperávamos. Isto acontece em todo o lado. Faço o alerta para que as pessoas possam sair de casa e venham aos poucos eventos que nós fazemos, assim dá para distrair e sempre se aprende algo com qualquer evento que esta Junta de Freguesia promova.
Filipe Torres