Iniciativa decorreu nas Capelas, no âmbito dos 430 anos da paróquia e sublinhou a necessidade da inventariação e resgate do património móvel religioso dos Açores
A igreja de Nossa Senhora da Apresentação, nas Capelas, promoveu esta Quarta-feira à noite uma conferência sobre o seu órgão histórico no âmbito dos 430 anos da paróquia, uma iniciativa integrada no projecto DIO 500, que está a desenvolver o estudo da História Religiosa dos Açores, no contexto da preparação dos 500 anos da Diocese de Angra.
“Cuidar do que não se vê: o órgão histórico da Igreja de Nossa Senhora da Apresentação – Capelas” foi o título da conferência proferida por Isabel Albergaria Sousa, Directora do Conservatório Regional de Ponta Delgada, que fez um levantamento da história e da função deste órgão, no contexto alargado da história do órgão nos Açores , marcada segundo a investigadora por três fases: a da fundação da diocese e o início da década de oitenta do século XVIII; a fase final do Antigo Regime e o período após a implantação do Liberalismo.
“O património de órgãos históricos portugueses nos Açores corresponde à segunda e terceira fases (1788-1892), e coincide com o período do chamado ciclo da laranja neste arquipélago”.
“A posse de um órgão funcionava como elemento legitimador da importância da igreja e reflectia o seu poder económico, que se traduzia no tamanho e plano decorativo da caixa e no número de registos do instrumento” afirmou a investigadora sublinhando que “os órgãos são considerados o espelho do tempo em que são construídos”, pelo que “o conjunto de órgãos históricos portugueses, existente nos Açores, constitui um património de indiscutível valor artístico”.
No caso em apreço, o órgão da Igreja Matriz das Capelas “é um interessante exemplar da organaria portuguesa”, datado de 1821, com o número 94 na oficina do organeiro português António Xavier Machado e Cerveira, tendo sido o primeiro órgão de armário que se conhece nos Açores, com dois pedais anuladores.
Foi classificado como bem móvel de interesse público, pelo Governo Regional dos Açores, em 2021 e segundo testemunhos orais dos paroquianos da Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, citados por Isabel Albergaria Sousa, “o órgão desta igreja emudeceu há cerca de 70 anos, embora se conservem a caixa do armário e todos os componentes do instrumento, inclusivamente a tubaria.
“Deixamos o desafio para o restauro do instrumento, que seria uma fonte dinamizadora não só no contexto litúrgico, mas também cultural, num compromisso com o património dos capelenses e dos Açores.”
Segundo a palestrante são poucas as fontes históricas escritas relativas à história do órgão; ainda assim estima-se que no final do século XVIII, em 1767, o bispo D. António Caetano da Rocha quando determinou a construção de uma nova igreja nas Capelas tenha procedido à “encomenda de um órgão, se não para a inauguração, pelo menos nos anos imediatamente subsequentes”.
Isabel Albergaria Sousa salientou ainda que “a esmagadora maioria dos materiais musicais encontrados no arquivo musical da Igreja de Nossa Senhora da Apresentação incorpora o órgão e comprova que esta igreja fazia parte do circuito musical constituído pelas igrejas do arquipélago que tinham um órgão”.
Para o padre Hélio Soares, pároco da igreja e membro da comissão que integra o projecto DIO 500, a questão do património e da sua inventariação é fundamental para o conhecimento da história da religião nos Açores.
O Projecto DIO 500 é o resultado de um protocolo de cooperação entre a Universidade dos Açores, através do CHAM – Centro de Humanidades, a Universidade Católica Portuguesa, através do Centro de Estudos de História Religiosa, e a Diocese de Angra, através do Instituto Católico de Cultura que tem como objecto a cooperação das três instituições no âmbito do Projecto DIO 500, dedicado à investigação histórica e patrimonial da Diocese de Angra no âmbito da comemoração dos 500 anos desta Diocese (1534-2034), o qual culminará na elaboração de uma plataforma digital dedicada à história da Diocese de Angra e à edição da obra “História Religiosa dos Açores”, em 2034.
I.A.