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Protestos

Corria o ano de 1962. No fim do mês de agosto, na Escola Prática de Infantaria em Mafra, o soldado miliciano apresentou-se perfilado, com botas e metais do fardamento a brilhar, barba e cabelo cortados a preceito e dentro das NEP’s (normas de execução permanente) dizendo a seguinte frase, previamente instruída pelo seu comandante de pelotão.
A frase foi a seguinte:- apresenta-se o soldado miliciano 1655/62 para receber o pré (vencimento).
Dada a ordem para avançar ele dá dois passos em frente e, sempre na posição de sentido, estende a mão esquerda para a mesa onde estava um capitão e um sargento. O soldado miliciano recebe dois escudos e cinquenta centavos; depois fecha a mão, faz a continência, dá dois passos à rectaguarda, faz meia volta e, batendo com o pé direito, destroça. De notar que o montante recebido dava para pouco mais do que uma carteira de cigarros.
Claro que isto foi no tempo em que o serviço militar era obrigatório, e em que decorria uma guerra nas chamadas províncias ultramarinas onde Portugal chegou a ter mais de cem mil homens em armas.
Hoje, nada disto acontece, nem pode acontecer porque o serviço militar não é obrigatório.
Com a entrada da democracia em Portugal achou-se, e bem, profissionalizar as forças armadas. Todavia com regras. Pelo que me é dado observar, as regras não serão tão rígidas como eram antigamente, mas, em matéria de protestos, ou mesmo de greves, as regras são claras.- são pura e simplesmente proibidas!
Só o facto das associações de militares virem a público aventar a hipótese de manifestações de protesto por parte dos seus associados já é de si problemático.
Isto porque, apesar de não estarmos em “guerra aberta” seja com quem fôr, necessitamos de ter umas forças armadas responsáveis e com discernimento suficiente para não incutir o sentimento de mêdo às populações. Bem antes pelo contrário; devem transmitir um sentimento de segurança e de amor à pátria. O sentimento pátrio aqui não pode ser o constante daquela anedota em que, o instruendo distraído, ao ser interrogado sobre quem era a pátria, ele responde que era a mãe do 27. Não! Não pode ser assim!
Como também não pode ser o que se está passando com a polícia, com a GNR e com os guardas prisionais. Nestes casos, que são absolutamente distintos do das forças armadas, estes profissionais têm carradas de razão em protestar contra a descriminação que o governo tomou em relação ao subsídio de risco dado à PJ.
Tanto a GNR, como a PSP e a Guarda Prisional têm funções semelhantes – no que ao risco e perigo diz respeito. Não têm as mesmas funções é certo, mas são muito semelhantes lidando, na maioria das vezes, com os mesmos protagonistas, só que em tempos diferentes.
Mas tudo isto acontece, por incúria duma Assembleia da República que teima em não produzir legislação que vá de encontro às necessidades dos servidores do Estado. Tal como não fiscaliza a acção dos sucessivos governos em relação ao património do Estado.
Todos sabemos e observamos que, muito dele está caindo de podre devido às infiltrações de água. A falta de pintura, a manutenção e apetrechamento de equipamentos para melhor funcionamento das instituições são matérias que parecem não merecer atenção aos governantes.
Isto para já não falar, só para citar alguns exemplos, na falta de pessoal em repartições como o Registo Civil, Notários, Registo Predial e Oficiais de Justiça em Ponta Delgada. Tenho conhecimento de que, em certos casos, só para renovar um documento, obriga o cidadão a deslocações onerosas.
Os governantes têm de saber que as novas tecnologias não substituem as pessoas que são necessárias para o bom andamento dos processos. Quando alguém passa à situação de reforma, ou baixa prolongada, tem de ser substituído por outra pessoa porque, o computador, só por si, não substitui o funcionário. Ainda bem!
Ultimamente têm sido muitos os protestos contra o governo. Muitos deles com razão demonstrando que os últimos governos só têm desgovernado o país.
É que ninguém se sente bem, desde os professores aos agricultores, passando pelos profissionais de saúde e funcionalismo público em geral, todos têm motivos para protestar.
A meu ver, isto só demonstra que temos sido mal governados desde há algum tempo.
É tempo de dizer basta!

P.S. Texto escrito pela antiga grafia.

Carlos Rezendes Cabral
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