O ano de 2024 trouxe-nos três ou quatro eleições, no mesmo ano em que se comemora o 50º aniversário do 25 de abril. Poderia ser uma crise política? Podia. Mas, infelizmente, estamos perante uma crise de regime.
E o que fazem os protagonistas, partidos políticos, instituições e cidadãos para resolver esta crise?
A maioria dos interessados recorre a subterfúgios verbais, como “a justiça a funcionar” dando cobro à existência de duas eleições; e “a democracia a funcionar” justifica as outras duas eleições.
Vivemos uma crise de regime. Um regime moldado pelos partidos políticos e por nós cidadãos. Pelos partidos que continuam incapazes de se autonomizarem de passados cadastros ou das opções que em nada beneficiam o partido, sem visão e interesse por Portugal (o interesse é individual e fechado em interesses partidários); e nós, cidadãos, ainda muito pouco exigentes perante quem se apresenta para nos representar e facilmente responsivos à mensagem rápida e à manifestação pelo contra.
Perante esta crise de regime as campanhas eleitorais decorreram e decorrem sem qualquer abalo de consciência cívica dos políticos candidatos. Os mesmos modelos de entradas e saídas de instituições, de debates de ataques e promessas infindáveis.
Da direita à esquerda, continuamos apenas a ter dois partidos que podem assumir a liderança de governos: PS ou PSD. Esta evidência é unicamente responsabilidade dos outros partidos que não apresentam programas de governo que respondam ao país (a leitura aos programas eleitorais destes partidos clarifica a ausência de propostas em áreas essenciais para o país), aproveitando-se de soundbites que captem a atenção de uma parte do eleitorado e da sua componente emocional.
Ninguém pode ser alheio ao que este regime democrático criou e evoluiu nos últimos 50 anos. Eu e muitos leitores somos filhos e filhas da luta democrática sem medo, mas estamos a ser atropelados pelos “facilitadores” que se aproveitam da liberdade e do modelo de justiça deste regime – responsáveis maiores por esta crise de regime que se vive.
As eleições são o tempo dos partidos e dos cidadãos. A crise do regime que vivemos perante as relações entre poder político e poder judiciário, só será alterada perante um assalto de consciência cívica dos cidadãos face ao estado atual e com a certeza que estes não são devedores do poder político, mas sim credores.
Sónia Nicolau