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Legislativas nacionais (I)

Depois dos debates começou a campanha eleitoral, com todas as máquinas partidárias na rua, em força, para conquistar o voto dos eleitores, principalmente os muitos indecisos que as conversas de café e as sondagens ainda revelam. Uma indecisão que poderá ser fruto da muita oferta, levando a maiores dificuldades na interpretação e escolha de quem deve acolher o voto de cada um, mas também do eterno afastamento dos eleitores dos seus representantes, eventualmente o espelho de um sistema que deixa uma franja grande de pessoas fora das oportunidades que a comunidade oferece, parecendo estar cada vez mais adstritas a um conjunto cada vez menor de beneficiários. Levando ao sentimento de injustiça que não mobiliza as pessoas, a não ser para o voto rancoroso, e as leva a não quererem participar neste momento do nosso processo democrático.
O aumento de custo de vida, a perceção de que as leis não são respeitadas por todos de igual forma, a noção de que alguns são mais beneficiados pelo regime do que outros, a escassez de ensejos no que concerne ao elevar do nível de vida das classes sociais mais baixas. O nível de impostos em todas as áreas, nomeadamente no que diz respeito ao trabalho e ao consumo, as imprecisões da justiça que advêm, aos olhos do povo, de erros de quem governa e de quem legisla, que governa mal e legisla ainda pior. A consequência disto, para quem já se sente desmobilizado, é juntar os pontos e achar que os erros de quem governa e legisla, são condição necessária para que a justiça não funcione, e assim os mais ricos e poderosos possam eximir-se às suas responsabilidades. Sabemos que não é assim, mas para quem já não acredita no regime que construímos há quase cinquenta anos, este é só mais um episódio desta descrença.
Perante isto, vamos a eleições da mesma forma como sempre fomos. Os programas eleitorais são um poço de vacuidades, que serve para ocupar algum tempo de antena no dia da sua apresentação, já que as generalidades que lá constam pouco dizem aos cidadãos comuns. À exceção de algumas propostas de reformas, como o caso das leis eleitorais pelos liberais, ou uma ampla proposta de reformas em várias áreas pelos sociais-democratas, em particular nas áreas sociais e na economia, tudo o resto é para manter como até aqui. E foi por via desta forma de olhar para o país que a direita radical prosperou, agregando os descontentamentos, algum desespero e muita vontade de mal dizer sobre o país. E uma parte deste mal dizer é mesmo merecida, pelo simples facto de que se tem vindo a ignorar os sinais. Os sinais de que muito não está bem. Assim chegamos às eleições antecipadas de março.
Um governo que caiu depois de dissolvido o parlamento, após suspeitas de corrupção terem invadido gabinetes ministeriais, depois de catorze demissões de um executivo de maioria absoluta. Um dos demissionários, Pedro Nuno Santos, apresenta-se agora como pretenso candidato à chefia do governo. Pelos sociais-democratas, Luís Montenegro, antigo líder parlamentar durante o mandato de Pedro Passos Coelho, durante a execução do programa da troika, negociado pelo executivo anterior, da responsabilidade de José Sócrates. Tanto num caso como no outro, e depois da experiência traumática das últimas duas maiorias absolutas, será difícil que qualquer um venha a agremiar os votos necessários para, isoladamente, obter os imprescindíveis 116 deputados.
Ainda assim, será mais fácil para Luís Montenegro, principalmente por duas razões. A primeira, porque a memória da dramática maioria absoluta da qual PNS fez parte, continua muito presente na memória do país.
A segunda, porque parece que os socialistas estão a empurrar Montenegro para ela, quando acenam com o fantasma da direita radical, lembram um primeiro-ministro que venceu as eleições de 2015, e aludem a um conjunto de críticas ao passado pré-outubro de 2015, como se não tivessem existido governos durante os últimos oito anos, e ninguém os tivesse comandado.
Mas se não chegarem lá, existe uma terceira razão, mais ampla, para a criação de uma maioria. A distribuição de votos, entre liberais e sociais-democratas, pode chegar ao número mágico, quando socialistas e os restantes partidos à sua esquerda têm vindo a perder gás nos estudos de opinião e na opinião pública. A oferta de «Mais Ação» não é seguramente sinónimo de mais trabalho. E muito menos ainda, de mais votos.

Fernando Marta

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