A antecipar o próximo dia 8 de Março, Dia da Mulher, foram ontem apresentados os resultados do estudo nacional ART’Themis+ numa conferência de imprensa promovida pela Associação para a Igualdade e Direitos das Mulheres – UMARAçores.
Estiveram presentes, na iniciativa, a Presidente da UMAR Açores, Maria José Raposo; Tânia Moreira da Fonseca, do Instituto da Segurança Social dos Açores; Cristina Canto Tavares, vereadora da Câmara de Ponta Delgada com o pelouro da Acção Social.
Para apresentar o estudo, e em representação da UMAR – Porto, estiveram presentes a coordenadora do Projecto ART’THEMIS+, Margarida Pacheco e a psicóloga Margarida Maia. Ambas integram a equipa de investigação do estudo “Violência no Namoro em Portugal: vitimação e concepções juvenis.”
No encontro, a vereadora Cristina Canto defendeu que“o sucesso do combate à violência no namoro passa, em grande medida, pela aposta na Educação”.
Estudo obre violência no namoro
Este estudo abrangeu 6.152 jovens entre 12 aos 21 anos, ou seja, do 7º ao 12º ano de escolaridade, entre os quais 500 jovens da rRgião Autónoma dos Açores de escolas do Faial, Terceira e São Miguel.
O estudo está dividido em seis formas de violência: Controlo; violência psicológica; perseguição; violência sexual; violência através das redes sociais e violência física.
“E temos dois indicadores de violência: a vitimarão, ou seja, se já sofreram algum tipo de comportamento abusivo ou violento; e a segunda dimensão é a legitimação, se acham que aquele comportamento é violência no namoro. Todos os comportamentos que estão no nosso estudo são comportamentos abusivos,” explicou Margarida Pacheco.
A especialista também chama atenção para diferença entre legitimar um comportamento como violência no namoro e normalizar/aceitar o mesmo: “Nós não perguntamos se a violência no namoro é normal numa relação, nós perguntamos se determinado comportamento é violência no namoro. É muito diferente. Porque a legitimação não passa pelos jovens acharem o comportamento normal ou aceitável, é não acharem grave o suficiente para ser considerado violência no namoro”.
Legitimação da violência no namoro
De acordo com Margarida Pacheco, “todos os 6.152 jovens respondem à legitimação porque é a percepção que eles têm das relações abusivas, mas a vitimarão só faz sentido responder quem já esteve numa relação de violência de namoro, portanto, a amostra da vitimarão é mais pequena”.
Adianta que “dos 6152 jovens, 68,1% legitima pelo menos um dos comportamentos abusivos. É uma percentagem muito elevada, dos 15 comportamentos, pelo menos um. Isto não quer dizer que 68,1% dos jovens legitimam só um comportamento, porque há jovens que legitima só um comportamento, outros que legitimam 5 ou 6, etc.”
De acordo com o estudo, o controlo é legitimado por 54,6% dos jovens. Dentro do controlo, o comportamento mais legitimado é ‘pegar no telemóvel ou entrar nas redes sociais sem autorização’ (37,1% dos jovens acham que não é violência).
Já 33,5% dos jovens legitima, pelo menos, um dos comportamentos de violência psicológica e a mais elevada (27,9%) não acha violência insultar durante uma discussão, seja ela presencial, ou por mensagens. 31,1% dos jovens legitimam a perseguição, seja ela presencial ou online, sendo os mesmos 31,1% a considerar o comportamento de ‘procurar insistentemente’ como normal.
30% dos jovens legitimam a violência sexual, sendo que o comportamento mais normalizado é o ‘pressionar para beijar’. Por sua vez, 18,9% legitimam a violência através das redes sociais. O comportamento mais legitimado, por 14,7% dos jovens, é o de ‘insultar através das redes sociais/ internet. 18,59% legitima a violência sexual.
Ao falar da violência sexual, a coordenadora do Projecto ART’THEMIS+, Margarida Pacheco, explica que os crimes de perseguição ou de violência sexual normalmente acontecem com pessoas conhecidas. E que as vítimas têm mais facilidade em reportar violência física e outras violências do que violência sexual, pois “como a violência sexual é tão banalizada dentro da intimidade, não se consideram vítimas daquele comportamento. Quando acontece fora de uma relação dizemos que é violação, mas quando é o marido ou o namorado já não é. Consideram uma obrigação ou aceitável.”
Adianta ainda que “a educação sexual ainda é um tabu muito grande (…) Mas a educação é um direito do jovem. Quando usamos o termo sexual, pensamos sempre em relações sexuais. Mas, educação sexual não é sobre relações sexuais, é sobre o nosso corpo, a nossa auto-estima, comunicação, aceitar ou não.”
“Não acho que esta geração seja mais violenta, acho que hoje nós falamos mais sobre violência. Se fossemos a pôr em causa a questão desta geração, seria algo como ‘todos os jovens que nasceram em 2000 têm um gene para a violência’, mas não funciona assim. Se os jovens são violentos é porque a sociedade é violenta. Somos nós que passamos essas informações. Quando as crianças e os jovens legitimam estes comportamentos, é porque estes comportamentos não são só legitimados por eles” afirmou.
Indicadores de vitimação
De acordo com a psicóloga Margarida Maia, da UMAR Porto, nos “indicadores de vitimação auto reportada só respondem jovens que referem já ter estado ou estar numa relação de namoro, amorosa ou análoga a umas dessas formas. 63% dos jovens refere ter experienciado um dos indicadores de vitimação questionado. As formas são agrupadas da mesma forma da legitimação, ou seja, são 6 formas de violência.
“A forma mais reportada é o controlo, com 45,5% dos jovens a reportarem. E quando nos focamos no comportamento mais específico, 27,8% refere o proibir de falar com pessoas amigas ou colegas. Isto traz-nos dados muito preocupantes,” referiu.
No caso da violência psicológica são 39,9% dos jovens que reportam ter sofrido deste abuso e das formas mais auto reportadas são os ‘insultos durante uma zanga’ (31,2%). Depois a ‘violência através das redes sociais’ (20,7%), com 18,9% a identificarem os ‘insultos através das redes sociais’.
De acordo com a psicóloga, “continuamos enquanto sociedade a achar que violência é algo físico e tudo o que não é físico não é uma forma de violência. Às vezes até pode ser visto como uma brincadeira. Temos de desconstruir esta ideia de que a violência é só física”.
A quarta forma de violência mais auto reportada é a perseguição com 20,4%. Segue-se a violência sexual com 18,5%: aqui a mais reportada foi o ‘pressionar para beijar’ com 13,3%. A violência física é a menos auto reportada (11%), sendo que o ‘empurrar e o esbofetear sem deixar marcas’ é o mais reportado neste tipo de violência.
D.C.