Ao longo dos últimos anos tenho escrito sobre o desprezo que os partidos políticos, de todas as ideologias, têm mantido sobre o desporto. Quer nestas ilhas, quer a nível nacional. Uma vergonha. A maioria dos políticos surge nos principais acontecimentos a debitarem palavras sem estarem devidamente preparados e conhecedores. “Apostamos na formação” são as palavras de ordem. Fica bonito e cai bem. E depois, quando os praticantes atingem a idade critica dos 14 anos? Que reformas estruturais e de fundo estão programadas? Nada. Nos Açores temos navegado ao sabor das ondas do momento.
Mas eis que as 18 Associações de Futebol lembraram-se de avivar a memória dos políticos com um comunicado durante uma reunião em Coimbra, realizada há 15 dias. Sem repercussão até agora e, provavelmente, até ao dia das eleições. É chover no molhado.
Pelo menos as Associações saíram de uma das habituais reuniões plenárias com algo de positivo, sem serem os chavões do “profícuo”, “importante”, “identificamos as dificuldades” (ainda andam a descobri-las), etc. É que de concreto para o futebol amador, pouco se tem visto de melhoria para os clubes saído destes encontros.
No aludido comunicado, as Associações manifestam “estranheza e insatisfação pelo facto do desporto não ser considerado um desígnio e uma prioridade nacional efectiva contrariamente ao que se verifica com outros países”. Criticam os orçamentos “globalmente iguais desde há vários anos o que não proporciona um investimento adequado e justo, quer aos clubes, quer às instituições que organizam toda a actividade desportiva, que muito contribuem para a dinamização económica do país”.
As Associações referem ainda o défice de infra-estruturas desportivas e da “ausência persistente de uma política de fiscalidade incentivadora e apelativa para atletas, agentes desportivos, clubes e instituições, que estimule a capacidade de investimento e a competitividade internacional.”
Além de reclamarem a criação de um Ministério do Desporto, falam do “esquecimento, desde há muitos anos, do estatuto do Dirigente Desportivo Voluntário (tema de um artigo meu no Açoriano Oriental a 12 de Janeiro), não estimulando a participação de quem já está envolvido no fenómeno e muito menos o seu rejuvenescimento.”
É agradável sentir alianças à minha causa, embora só com a inclusão de todas ou da maioria das modalidades se possa atingir algo de concreto.
DESPORTO VOLTA À CULTURA no novo elenco do Governo Regional dos Açores, ficando sob a tutela de Sofia Ribeiro, cujo trabalho na Educação, área onde tem uma vasta experiência, não tem justificado reparos de maior.
A experiência na área da secretaria da Saúde não resultou para os “entendidos” do Governo. O falhanço do desporto na legislatura interrompida não está relacionado com quem a tutelou, até porque quer Clélio Meneses quer Mónica Seidi têm um histórico de ligação ao desporto regional de que Sofia Ribeiro não possui. E quem tem o cordão umbilical compreende melhor.
O problema do desporto regional é sempre o mesmo: orçamentos reduzidos, com acentuação nos últimos, e adiar uma profunda reforma porque a atual tem mais de 20 anos. Está desactualizada.
Se não for cumprida pelo menos metade da necessária e indispensável reforma da orgânica de todo o desporto; da requalificação e manutenção dos equipamentos e, principalmente, o que se pretende e para onde se pretende (o actual é a continuidade de deitar dinheiro ao lixo, com esporádicas vitórias de consolação), a secretária e o director regional vão manter o barco à tona, com reparos de todo o lado.
LUÍS CARLOS COUTO não deve continuar no cargo de director regional do Desporto. É o que consta nas bases das duas principais ilhas do maior partido que sustenta o governo da Coligação. Resta esperar para ver.
Fala-se que a professora e mestra de Educação Fisica, Elisa Sousa, 38 anos de idade, deputada pelo PSD pela ilha de Santa Maria na legislatura de 16 de Novembro de 2020 até 21 de Fevereiro passado, será a nova inquilina do cargo.
Sem grandes referências no desporto daquela ilha, durante a legislatura não teve uma única manifestação sobre o desporto. As duas intervenções e os oito requerimentos abordaram assuntos diversos, sobretudo referentes à ilha que representou. Foi secretária geral do grupo parlamentar do PSD e presidente da Comissão Política Geral, da qual fez parte, assim como da Comissão Permanente.
Quando me soam nomes com currículos com um vago conhecimento do desporto destas ilhas, torço o nariz. Porém, a confirmar-se, oxalá que a professora Elisa me surpreenda e a todos os elementos ligados às várias modalidades.
VERMELHO E AZUL MISTURADOS em muito maior número na bancada nascente, a designada bancada Açores, nos 68 minutos jogados e em falta do encontro dos quartos de final da Taça de Portugal de futebl que opôs o Santa Clara ao FC Porto.
O bom tempo que se fez sentir na tarde de quarta-feira, a contrastar com o temporal de 7 de Fevereiro que impediu a conclusão da partida, levou ao estádio de São Miguel 6 226 espectadores, a grande maioria ausente no primeiro jogo.
Como se mantém a tradição de guardar a aquisição do bilhete para a última da hora, decorria o intervalo e ainda existia uma fila com uns bons 50 metros na única bilheteira aberta
Os micaelenses são um provo sereno, que aceita, talvez em demasia, a falta de educação e de estarem lado a lado dois conceitos de clubite. Voltou a acontecer.
O Santa Clara já não tem uma larga massa adepta genuína. Passou a ser de ilha em primeiro lugar e da Região já muito distante, agravada por não ter o fulgor de há 20 ou mais anos.
Alguns adeptos torciam em voz alta pelo FC Porto de uma forma tolerante. Intolerante foi o incentivo de uma menina (???), equipada a rigor com as cores azul e branco, acompanhada por mais duas colegas, usando linguagem grosseira que só a ela não a envergonhou. O olhar de desconforto e de repugnância não foi suficiente para reduzir as obscenidades. Revelou que efectivamente a educação anda pelas ruas da amargura. Sinais dos novos tempos. Infelizmente, está assim.
José Silva