A Presidente do Conselho de Administração da Escola do Mar dos Açores, Ana Rodrigues, defende que a aposta na formação representa a possibilidade de maior rendimento. “Vamos imaginar que um pescador tira na Escola pequenas certificações, de mecânico ou de manuseamento de pescado. Poderá exercer outras actividades ou actividades complementares à pesca, que o ajudarão a ter um rendimento mensal mais constante,” exemplifica.
A Escola do Mar dos Açores promove, a 11 deste mês, pelas 18h30, um webinar, que decorrerá online e presencialmente, sobre as oportunidades de carreiras no sector marítimo e actividades profissionais em ascensão, pela Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM). Qual é a importância da iniciativa?
Há uma proposta a nível nacional para alterar as carreiras ligadas à área marítima, mas trata-se também, no fundo, de esclarecer que as coisas não podem parar enquanto vem uma transição de carreira. Existem, depois, as equivalências, como acontece em qualquer nível de ensino. Os nossos formandos têm sempre essa dúvida. Pensam “se calhar não tiro uma formação, porque pode haver mudanças”. Não. A acontecer, haverá ajustes, equivalências, transições automáticas…
Essa transição não deve demover as pessoas de investir na formação?
Nunca, pelo contrário. Cada vez mais, as pessoas têm de perceber que, sem formação, o sector vai sempre ser mais pobre. Por ter passado, na minha vida profissional, pela aeronáutica e dou sempre o exemplo desse sector. Ninguém no ar recusa ter formação, porque sabe que é a única forma de dignificar e de atingir determinados patamares de carreira. O mesmo tem de ser legítimo para a área marítima. Temos transmitido muito esta mensagem. Quanto mais formação tiverem, mais fonte de rendimento podem ir buscar, porque têm legitimidade para o efeito.
Como pode ser visto esse reflexo da formação no rendimento junto dos pescadores e de outras profissões ligadas ao sector?
Vamos imaginar que um pescador tira na Escola pequenas certificações, de mecânico ou de manuseamento de pescado. Poderá exercer outras actividades ou actividades complementares à pesca, que o ajudarão a ter um rendimento mensal mais constante.
Quais são as actividades ligadas às pescas e à área marítima em geral que poderão ter mais potencial no futuro, especialmente nos Açores?
Estamos a tentar criar oferta em todos os âmbitos, quer nas profissões emergentes, quer nas tradicionais. O mercado ditará, mas também devemos nós desempenhar o nosso papel para que isto possa acontecer. Estamos a apostar muito na parte do tratamento de pescado e até no aproveitamento na sua totalidade de todo o pescado. Também temos formações ligadas a gruas, para que possam ter idoneidade e segurança. Depois, há a cada vez mais falada digitalização do mar, que pode motivar formações, a implementar paulatinamente. Vivemos numa altura em que tudo está a acontecer ao mesmo tempo.
“Vamos imaginar que um pescador tira na Escola pequenas certificações, de mecânico ou de manuseamento de pescado. Poderá exercer outras actividades ou actividades complementares à pesca, que o ajudarão a ter um rendimento mensal mais constante”.
A digitalização também chega, portanto, a esta área…
O mar tem sido cada vez mais debatido. Não o era, apesar de nós sermos mais mar do que terra. Os Açores devem olhar para isso muito seriamente. A verdade é que temos uma importância estratégica do ponto de vista do país, da Europa. Hoje fala-se de economia azul. O pescador pode contribuir até para o turismo, pode fazer algumas coisas ligadas a esse sector.
No campo da construção naval, que trabalho está a ser desenvolvido pela Escola do Mar?
Temos o curso de construção naval, com equivalência ao 12º ano, que abriu este ano. Neste momento, temos 21 alunos e contactos de outros interessados. A construção naval é uma das profissões de que mais há necessidade em Portugal e mesmo no estrangeiro.
Em relação à construção naval nos Açores, interessa formar pessoas para essa área?
Sobretudo é algo direccionado para os Açores, para fazer face à escassez que existe na Região. É só reparar quantos verdadeiros técnicos de construção naval nós temos. Basta ver as métricas.
Os Açores, sobretudo a ilha do Pico, tiveram tradição na construção naval. Trata-se de recuperar esse caminho?
É algo a que se está a assistir aos poucos, com os estaleiros da Naval Canal, mas a verdade é que falta mão-de-obra qualificada. Em todos os sectores, mas mais ainda neste, que esteve tantos anos adormecido. Vamos continuar, a Escola do Mar, a apostar neste curso em específico. É um curso que permite ir para as plataformas, para o estrangeiro, como também dar uma resposta local. Temos a cidade da Horta, esta cidade mar, que recebe tantos iates, e agora estão a construir um parque de invernagem. Haverá sempre a necessidade de estaleiro. Há mesmo uma necessidade de mão-de-obra qualificada, enquanto damos uma resposta aos jovens na área do mar, para que consigam auferir aqui um bom ordenado, sem terem necessidade de emigrar.