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Bispo de Angra falou naRibeira Grande da “injustiça do esquecimento”, da guerrae da falta de esperança

A solenidade do Senhor dos Passos comemorada na Ribeira Grande no Domingo, primeiro com a Eucaristia de manhã e depois com a procissão de tarde, é porventura, um dos momentos mais simbólicos em São Miguel, mobilizando algumas centenas de fiéis pelas ruas do concelho nortenho da ilha. Este ano, a festa foi presidida pelo bispo de Angra que na homilia da Missa dominical lembrou, a partir da imagem do Pretório de Pilatos, onde Jesus foi apresentado como culpado, as injustiças do mundo de hoje, como as guerras e a violência nas relações, a pobreza e a exclusão social e as dependências, que afectam cada vez mais jovens.
“Ali, sob a aparência de julgamento e vergonha de justiça simulada, é condenado um inocente”, afirmou o prelado destacando que se trata de “uma cena que se repete hoje um pouco por todo o lado: a condenação, exploração ou esquecimento de inocentes. Basta pensar nas tragédias da guerra e outras que matam inocentes esfomeados, em toda a pobreza e exclusão social de que fala o Relatório da Cáritas portuguesa ao apontar mais de 500 mil pessoas que vivem em privação material e social severas”.
O bispo falou, ainda, dos números do abandono escolar que nos Açores continuam a ser mais do dobro da média nacional, dos consumos de drogas, sobretudo sintéticas, entre os mais jovens e da violência no namoro, cujos dados apontam para situações gritantes nos Açores.
“Ontem mesmo, saiu a notícia de um Estudo nacional que inclui os Açores e onde se conclui que 39,9% dos jovens pode ter sofrido de violência psicológica no namoro. Violência onde deveria haver felicidade, respeito e dignidade? Como é possível violência no que deveria ser um tempo de crescimento no amor?”
“Caros jovens e famílias, é preciso decididamente ajudar a que ninguém desista, dizer-lhes que vão conseguir, que é preciso trabalho para continuar a valorizar-se, que assim conquistarão a liberdade e mais capacidade para o futuro. Alguém que lhes diga: se for preciso ajudo-te” e evite o pior, porque, caso contrário, a esta, outras desistências e derrotas se seguirão”, incentivou o bispo de Angra.
“Cristo continua a ser julgado e condenado quem sabe, nos caminhos que percorremos também nós”, disse lembrando, contudo, que a atitude de Jesus não foi de derrota mas de vitória; por isso, a cruz representa a liberdade.
“Deus quer homens livres que libertem outros homens” afirmou D. Armando Esteves Domingues.
“Ele veio dar a vida e ensinar que o amor cristão não tem limites. O nosso Deus é Jesus Cristo que não foge da cruz mas transforma-a em instrumento de amor e salvação e, com esta, cada nossa cruz! “disse o prelado, dirigindo-se particularmente aos jovens no concelho que regista a maior taxa de população juvenil do país.
“O mundo começa aqui, onde vivemos e muda-se aqui se seguirmos Jesus e defendermos as nossas convicções. Também no mundo juvenil há cruzes que clamam por ressurreição, por mudança. Quem dirá “podemos mudar”?” interpelou o bispo de Angra, desafiando os cristãos a não serem derrotistas.
“O cristão é, em razão do seu baptismo, a presença de Cristo entre os homens. O cristão sabe que nem sempre a tempestade vem para afundar o barco, muitas vezes ela serve para fazer andar mais rápido sobre as águas. Se nos lembrarmos que quem comanda é Jesus, o tamanho das ondas não nos abalará” disse ainda D. Armando Esteves Domingues apelando a uma verdadeira conversão neste tempo da Quaresma, destacando exemplos de cristãos que se converteram e foram grande imitadores de Cristo, como por exemplo Alexey Navalny “que foi vítima da sua luta pela liberdade e pela justiça no seu país, a Rússia. Foi perseguido, preso e agora eliminado. Ele que falava de liberdade e paz”.
“Para levar esperança a estas cruzes, somos precisos todos, todos, todos como dizia o Papa. Para os governantes devemos pedir inspiração e coragem, mas cada um e cada instituição é fundamental. Se as minhas atitudes forem contra os mandamentos, arrastarei outros comigo, mas se forem construtivas, ditadas pelo amor ao próximo, basta ajudar uma pessoa e o mundo ficará melhor. Também ele o fará!” afirmou.
“É precisa a participação na Igreja e na sociedade, nomeadamente, votando e envolvendo-se na política ou causas cívicas como cidadãos consequentes com a sua fé cristã. Caros jovens, Cristo diz-nos que vale a pena o compromisso com o bem comum, até ao ponto de arriscar a vida se necessário” disse ainda invocando o exemplo de Maria, mãe de Jesus, que nunca o abandonou.
“Ver Jesus na sua Via-sacra, apetece ir abraçar Maria, a sua mãe e dizer-lhe que sofremos com ela, choramos com ela e com todas as mães, com todos os que sofrem em todas as pobrezas. E dizer-lhe que também confiamos até ao fim como ela. Não paramos no meio da viagem da vida, não retiramos o olhar do rosto sofredor do filho Jesus, mas também não retiramos o olhar do Céu donde nos vem a salvação que a cruz explica”, concluiu o prelado.
A Festa do Senhor dos Passos na Ribeira Grande tem um vasto programa. A festa é organizada pela Irmandade dos Passos da Ribeira Grande.
IA

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