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Arrancou nos Açores programa de prevenção através de detecção de bactéria identificada como o principal factor de risco para cancro gástrico

Nesta entrevista, João Macedo, Presidente do Centro de Oncologia dos Açores (COA), fala sobre a implementação do programa de prevenção do cancro gástrico na Região, um projecto-piloto nacional que se inicia nos Açores, no âmbito do programa nacional das doenças oncológicas, e utiliza as farmácias como pontos de rastreio. Segundo o Presidente do COA, vai ser feita uma avaliação para que a iniciativa possa ser replicada noutras regiões do país, além dos Açores.

Correio dos Açores – A implementação do programa de prevenção do cancro gástrico nos Açores, através das farmácias, surge no âmbito do National Cancer Hub. Quer explicar?
João Macedo (Presidente do Centro de Oncologia dos Açores) – Este programa surgiu no âmbito do National Cancer Hub, uma iniciativa conjunta da Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB) e da DGS, que convidou várias entidades e operadores ligados à patologia oncológica para fazer parte de um grupo de trabalho de apoio à estratégia oncológica a nível nacional.
Foram criadas várias áreas temáticas, sendo uma precisamente a área da prevenção. O Centro de Oncologia dos Açores está incluído neste grupo de trabalho, assim como a Associação de Farmácias de Portugal, a Associação Nacional de Farmácias, entre outras instituições de variadas origens.
No âmbito deste grupo de trabalho, surgiu a idealização deste projecto-piloto na área da prevenção do cancro gástrico, um cancro que está entre os mais frequentes, com uma mortalidade e incidência elevada no país e na Região, superior até à média europeia. A ideia da iniciativa é precisamente propor estratégias inovadoras na área da prevenção que possam ser alvo de estudos. O passo seguinte é avaliar os indicadores, e ver a sua replicabilidade e escalabilidade para outras áreas, não só a nível regional, mas também a nível nacional para outras zonas do país onde também se verifica uma elevada incidência de cancro gástrico.

Anunciou que 80% dos cancros gástricos têm origem na bactéria Helicobacter pylori. Como funciona o processo de rastreio para a detecção da bactéria nas farmácias? Pode explicar quais são os passos subsequentes após a detecção da bactéria?
Este é um rastreio de uma bactéria, a Helicobacter pylori, que está identificada como o principal factor de risco para cancro gástrico. Em alguns casos, as pessoas podem ter a bactéria e nunca ter cancro gástrico, no entanto, numa percentagem da população, essa bactéria pode, a longo prazo, derivar para cancro gástrico ou outro tipo de patologias. É expectável que haja uma elevada incidência na nossa população.
Neste momento, como é um projecto-piloto, o programa funciona apenas nas farmácias da ilha Terceira. A pessoa pode dirigir-se directamente à farmácia ou pode ser abordada pela própria farmácia, que a convida para participar. A participação é voluntária. Após ser explicado o programa, a pessoa assina um consentimento e é-lhe fornecido um kit, um pequeno tubo, para fazer a colheita de fezes em casa. Depois de fazer a colheita, a pessoa entrega o tubo novamente na sua farmácia, a qual enviará ao laboratório para fazer uma análise laboratorial, para ver se existe a presença dessa bactéria.
Se não existir, a pessoa recebe o resultado por SMS; no caso de existir, a pessoa é convocada para uma consulta médica, onde é explicada a situação e é proposta uma terapêutica de medicamentos, no regime normal da prescrição médica, para prosseguir com a erradicação da bactéria. No final do tempo da terapêutica, é feito um novo teste para confirmar se a bactéria foi erradicada com sucesso.

Esta iniciativa vai estender-se a outras ilhas dos Açores?
Primeiro, a ideia é o projecto ir para o terreno. Vamos procurar medir todos os indicadores relacionados com o projecto. Temos um apoio, técnico, científico e financeiro, de entidades de referência, nomeadamente o IPO do Porto, através do PRECAM – grupo que se dedica ao diagnóstico precoce –, o IPO de Coimbra, entre outras entidades que vão trabalhar connosco, posteriormente, na avaliação dos resultados do projecto. A nossa expectativa é que corra bem e que possa trazer dados positivos para podermos alargar inclusivamente a nível nacional.

O que se espera alcançar com este programa de prevenção? Qual será o seu impacto na saúde pública e na qualidade de vida dos açorianos a longo prazo?
Este é um programa de prevenção oncoló-gica, em que estamos a falar na erradicação de uma bactéria que é, comprovadamente, o principal factor de risco para o cancro gástrico. Esta é uma possibilidade interessante, na medida em que permite resultados concretos na vida das pessoas num espaço relativamente curto de tempo. Geralmente, quando se fala em prevenção oncológica, fala-se em actuar sobre factores que normalmente demoram muito tempo a ter efeito e eficácia comprovada. Isto é, factores ligados aos hábitos de vida, tais como exercício físico, cessação tabágica, consumo de álcool, entre outros, que demoram muito tempo a ter efeito. Já este é um programa que permite a eliminação de um factor de risco num espaço de tempo relativamente curto, de forma eficaz.
Desde logo, pretende-se actuar no terreno, na vida das pessoas, num factor de risco, tentando erradica-lo e também sensibilizar a população para a sua existência. Além disso, procuramos ter esta política de proximidade, aproveitando as farmácias como um veículo de saúde pública em termos de sensibilizar a população para a prevenção, participação nos rastreios e para o próprio método. Ou seja, desmistificar um pouco este método de colheita das fezes, que é importante também para outros rastreios, nomeadamente para o cancro colo-rectal.

Que cancros têm maior incidência nos Açores?
Nos Açores temos uma situação genericamente parecida com a nacional. Cancro da mama, próstata, pulmão e colo-rectal são os mais incidentes na Região, em termos globais. Numa posição já próxima destes, temos o cancro do estômago.

Qual é a média de adesão aos rastreios que efectuam?
A média não é uniforme e varia consoante o tipo de rastreio. Temos uma faixa de adesão ao rastreio do cancro da mama bastante elevada, na ordem dos 75% em média. Aliás, temos ilhas onde esta adesão até é superior. No âmbito do rastreio do cancro do colo do útero, temos também uma taxa de adesão já muito perto dos 70%. No rastreio do cancro colo-rectal, a taxa de adesão é um pouco mais baixa, a rondar os 30%. No programa de intervenção existente no cancro da cavidade oral que, apesar de não existir de forma alargada no resto do país é um problema na Região, temos uma taxa de adesão próxima dos 40%.

Quais são os próximos rastreios programados?
Neste momento, há indicações da União Europeia para que os Estados-membros estudem projectos-piloto de implementação de três novas áreas de rastreio para os cancros do pulmão, da próstata e do estômago nas zonas onde houver maior incidência. Actualmente, nos Açores, estamos a estudar e a trabalhar na implementação de um projecto-piloto na área do rastreio do cancro do pulmão, que tem uma incidência muito elevada na Região, até superior à média europeia.

Carlota Pimentel

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