Presidente do Executivo da Junta de Freguesia das Calhetas há dois anos, Cátia Tavares aponta o problema na orla costeira, a carência habitacional, a falta de estacionamento e a circulação de viaturas a alta velocidade na estrada regional como as principais dificuldades da freguesia.
Correio dos Açores – Que retrato faz da freguesia das Calhetas?
Cátia Tavares – Calhetas é uma freguesia com uma zona habitacional pequena junto ao mar e com uma grande área agrícola. É uma freguesia que está em franca evolução. Cada ano tem havido um crescente aumento de novas casas, com jovens casais, mas também podemos encontrar pessoas idosas que ficam um pouco isoladas nas suas casas. A Junta de Freguesia tem apostado na dinamização cultural e social da freguesia, disponibilizando ao longo do ano diversas actividades para a população, aliando a inovação com a tradição. Por exemplo, neste momento, preparamos uma vez por mês actividades para o núcleo sénior da freguesia, em parceria com a Associação Novo Dia.
Qual a dimensão da carência de habitações na freguesia?
Por um lado, temos tido cada vez mais casas novas. Estão a ser vendidos lotes e quem os compra são casais jovens que têm filhos. No entanto, há o outro lado da moeda. Temos muitas casas na freguesia bastante envelhecidas. São casas que não foram tratadas ao longo dos anos, com telhados muito velhos e em que chove dentro. Em toda a ilha, existem casas muito velhas e degradadas, e há muitas casas abandonadas. Numa freguesia pequena como as Calhetas que tem, suponhamos, cerca de 450 casas, se mais de 50 casas estiverem abandonadas ou degradadas, é grave. Isso faz com que não haja habitação. Alguns casos são de pessoas que emigraram há 40 anos, nunca mais regressaram, e as casas foram ficando fechadas. O mais grave de tudo é a burocracia existente para tratar destes casos. Hoje em dia, tendo em conta o custo de vida, não é qualquer pessoa que consegue adquirir um terreno para fazer uma casa. Acredito que se conseguíssemos reabilitar estas casas e arrendá-las – não para alojamento local -, facilitava muito. As pessoas já não continuavam a viver com os pais por fracos recursos e não abandonavam a freguesia.
Na sua opinião, o que se poderia fazer para solucionar este problema?
Atendendo ao número de casas que existem em toda a ilha em mau estado, se houvesse uma maneira de facilitar o processo de venda a outras pessoas ou até ao próprio Estado, que também tem carência de habitações para habitação social, seria excelente. Assim, o próprio Governo poderia reabilitar essas casas.
Além da carência habitacional, que dificuldades a freguesia enfrenta actualmente?
Temos o problema da orla costeira. Nos últimos meses, temos tido derrocadas ao longo de toda a orla costeira, na Rua do Porto, na Rua da Boavista e isto preocupa-nos. Sabemos que as derrocadas vão continuar a acontecer, não se pode impedir.
Outro problema prende-se com a velocidade a que passam os carros na estrada regional. Como as ruas junto ao mar estão cada vez mais condicionadas ao trânsito, por causa das derrocadas, as pessoas andam mais pela estrada regional e como os carros também não podem transitar em baixo, circulam com mais frequência na estrada regional e muito depressa. Ainda por cima, não há passeio em todos os sítios. Já pedimos um reforço e temos mais uma lomba, mas ainda não é suficiente. A sinalização luminosa seria boa. Além disso, com a situação da orla costeira, também começámos a ficar com falta de estacionamento. Temos grandes problemas em arranjar estacionamento na freguesia. Estamos a tentar ver se conseguimos adquirir um ou dois terrenos, com o apoio da Câmara Municipal, para solucionar este problema.
Com a problemática da orla costeira, a freguesia tem que crescer para dentro, para a parte da estrada regional. Se o objectivo é retirar as casas junto ao mar, o PDM (Plano Director Municipal) tem que avançar com isso. O que vale é que a freguesia é grande e tem espaço para crescer.
Em que ponto de situação estão as obras de requalificação da orla costeira? Que implicações tem o mau tempo?
Neste momento, estamos na primeira fase da requalificação que decorre junto à igreja, que é um local muito frequentado. A obra está a avançar a bom ritmo e julgo que até está adiantada. Quando o mar está mais mexido, nota-se que algumas pedras mudam de lugar, mas penso que o mau tempo não tem trazido problema a esse nível.
Qual a dimensão da pobreza na freguesia? Em que dimensão o número de pedidos de apoio à Junta de Freguesia aumentou?
Temos, mais ou menos, os pedidos de apoio das mesmas pessoas. Por vezes, se não conseguimos apoiar, reencaminhamos para a assistente social. Embora o número de pedidos não tenha aumentado de forma significativa, existe pobreza envergonhada. Sabemos que existe, apesar de não conseguir quantificar. Ouve-se conversas aqui e ali, em que as pessoas se queixam que as coisas estão caras e dizem que no mercado já não conseguem chegar a tudo.
O tráfico de estupefacientes e o número de toxicodependentes têm aumentado na freguesia? E a criminalidade tem crescido como consequência da toxicodependência?
Sabemos que há pessoas que consomem, mas isso não tem trazido problemas de criminalidade. Eles estão na sua vida e, felizmente, não dão problemas a ninguém.
Qual é a abordagem da Junta de Freguesia ao desenvolvimento do turismo? E qual o seu impacto sócio-económico na freguesia?
Temos um hotel, situado nos Fenais da Luz, que fica muito próximo da freguesia. (…) Vemos que estes turistas visitam a freguesia durante o dia, ao contrário dos turistas que vêm para os alojamentos locais que não aparecem muito na freguesia.
Tencionamos fazer um panfleto, a indicar os locais a visitar nas Calhetas e colocar uma placa identificativa em cada sítio com a história sobre aquele local, tal como a igreja ou o fontanário, por exemplo. O nosso objectivo é distribuir esses panfletos nos alojamentos e penso que isso trará mais pessoas ao centro da freguesia.
Na verdade, precisamos de um pouco de investimento particular nas Calhetas. Estamos a necessitar de um sítio onde os turistas possam comer, porque não temos nada na zona. Conseguindo chamar mais turistas, espero que alguém desenvolva um projecto desse género.
A freguesia tem potencial para se desenvolver mais? Em que áreas?
Sem dúvida que tem. Com a requalificação da orla costeira, teremos uma nova zona de acesso ao mar que poderá ser potenciada para desportos do mar, por exemplo. Ficaremos com uma nova zona balnear até. A mais-valia da nossa freguesia é o mar. Temos também muita terra, o que permite a expansão da freguesia. No fundo, a freguesia tem muita dimensão e extensão, mas o centro é a zona do mar.
Quais são as principais prioridades de desenvolvimento nos próximos anos?
As prioridades para os próximos tempos são chamar o turismo para a freguesia e completar a requalificação da orla costeira. Empenho-me em fazer das Calhetas um postal de visita, que as pessoas venham e gostem de visitar a freguesia. Espero, aos poucos, conseguir concretizar este objectivo.
Carlota Pimentel