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“Discordo em absoluto de Vasco Cordeiro e o PS/Açores deve abster-se na votação do Programa de Governo da Coligação”

João Ponte foi Secretário Regional da Agricultura e Vice-presidente do PS/Açores. Nesta entrevista, em que partilha o seu lado pessoal, responde ‘a ferro e fogo’ às questões agrícolas e às posições que o PS/Açores tem adoptado. Ao nível da agricultura deixa duas mensagens fortes. Diz que em dois anos se perderem 21 milhões de euros no sector e apresenta razões: a anulação dos “rateios nas ajudas pagas aos agricultores, faltando verbas para as outras áreas dentro do orçamento da agricultura (como diz o povo “o dinheiro não estica”) e a falta de receita para financiar o plano da agricultura”. Ainda sobre o sector agrícola, não tem dúvidas: “há 7 anos não concordava e continuo a não concordar com a estratégia de reduzir a produção para condicionar as indústrias”. Mas, em relação à actuação recente do PS/A, não é menos crítico. Discorda, em absoluto, da estratégia do líder do partido. Começa por afirmar que os Açores “não aguentam mais eleições regionais”. E afirma que discorda, em absoluto, da estratégia do líder regional do Partido Socialista, Vasco Cordeiro. “Os mais de 41.000 açorianos que votaram no PS-Açores fizeram-no porque achavam que era a melhor solução para a governação dos Açores. Não transmitiram com o seu voto, eu pelo menos não interpreto como tal, que, se o PS-Açores não formasse Governo, estava impedido de viabilizar um Governo da coligação.” É uma entrevista em que João Ponte é igual a si mesmo.

Correio dos Açores – Descreva dados que o identificam perante os leitores.
João António Ferreira Ponte, lagoense, nascido há 57 anos em Santa Cruz, freguesia berço da Lagoa, onde resido. Filho de António Augusto da Ponte, agricultor aposentado, e de Maria da Glória Pires Ferreira, doméstica (no activo). Casado, pai de dois filhos espectaculares, o Nuno e a Sara e avô “babado” do António, de dois anos.

Fale-nos do seu percurso de vida no campo académico, profissional e social?
Pese embora tenha nascido em Santa Cruz, como os meus pais passaram a residir na freguesia do Rosário, frequentei o ensino primário na Escola Marquês Jácome Corrêa, tendo sido aluno da professora Raquel Simas Cardoso (uma excelente professora, exigente e amiga, que marcou uma geração de lagoenses), a qual tive a honra e o privilégio de homenagear com a atribuição da medalha de mérito do município, aquando das minhas funções como Presidente da Câmara Municipal de Lagoa.
Fiz o ensino preparatório na antiga Escola dos Frades e o ensino secundário na Escola Secundária Domingos Rebelo, no ramo de Eletrónica. Em 1985, ingressei no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, tendo concluído a licenciatura em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, em julho de 1990.
Fui bolseiro dos Serviços Sociais e residi em Lisboa, na Residência Universitária Pedro Nunes, na qual fui Presidente da Comissão de Residentes, durante 3 anos.
Em Agosto de 1990, ingressei na Electricidade dos Açores – EDA, onde me encontro em funções presentemente.
Em Setembro de 1991 fui cumprir o serviço militar obrigatório, tendo frequentado o Curso Especial de Oficiais Milicianos, no Regimento de Infantaria de Faro, destacamento de Tavira. Fui, posteriormente, colocado como Aspirante na Direção do Serviço e Fortificações e Obras do Exército, em Lisboa e, posteriormente, em Ponta Delgada. Foi uma experiência muito rica em termos de camaradagem, sentido de compromisso e de disciplina.
De 1990 a 1997, desempenhei funções de engenheiro eletrotécnico na EDA. De 1991 a 1997, desenvolvi a actividade de projetista nas áreas de instalações eléctricas, telefónicas e de segurança, como profissional liberal, tendo sido ainda consultor dos Serviços Municipalizados da Câmara Municipal de Ponta Delgada.
Em Março de 1997 suspendi o contrato para iniciar o exercício de funções públicas.
De 1997 a 2002, desempenhei a função de Administrador-Delegado da Norma-Açores. Ao assumir essas funções, por razões de ética profissional, suspendi todas as actividades de consultor, o que ainda hoje se mantém.
Em 2000 e 2001, fui deputado à Assembleia Legislativa Regional dos Açores. Entre os anos de 2003 e 2004, fui Director Regional das Obras Públicas e Transportes Terrestres.
Em Janeiro de 2005 assumi a presidência da Câmara Municipal da Lagoa, cargo que exerci até Março de 2015 e ao qual renunciei para iniciar funções como Presidente do Conselho de Administração da Atlânticoline.
Mais recentemente, entre 2016 e 2020, desempenhei as funções de Secretário Regional da Agricultura e Florestas, no último Governo liderado por Vasco Cordeiro.
Exerci, ainda, as funções de Presidente da Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores e de membro do Conselho Diretivo da Associação Nacional de Municípios Portugueses, durante 4 anos.
Procurei desempenhar o meu percurso profissional sempre da mesma forma, com empenho, paixão, disponibilidade, humildade, estando próximo das pessoas e com o sentido de serviço público. Foram mais de duas décadas de trabalho exigente, mas também muito gratificante.
Em 1991 aderi ao Partido Socialista e em 1999 fui coordenador da Secção do PS-Açores na Lagoa, função que assumi durante 14 anos. Fui ainda Secretário Coordenador da Ilha de São Miguel e, entre 2010 e 2012, integrei o Secretariado Regional e fui um dos Vice-presidentes do PS-Açores. Em Janeiro de 2013, cessei todos os cargos que tinha no Partido Socialista, mantendo-me como militante de base, por onde, aliás, comecei.

Que influência tiveram os seus pais na sua formação académica?
Sendo filho e neto de agricultores, não seria uma surpresa se tivesse seguido as pisadas do meu pai e avôs. Mas, na verdade é que, sem nunca ter o objectivo de ingressar no ensino superior, por ironia do destino, acabei por ingressar no Instituto Superior Técnico em Lisboa. A minha mãe, mais do que o meu pai, empenhou-se muito para que eu fosse para a universidade, o que era perfeitamente compreensível, pois eu estando cá sempre ia ajudando o meu pai nas lides agrícolas.
Não foi um período fácil, os recursos financeiros em casa dos meus pais eram escassos – recordo que em 1985 o salário mínimo agrícola era de 82,3 €, enquanto o salário mínimo geral era 95,8€ (uma diferenciação, que para além de ser disparatada, era imoral e injusta, tendo terminado em 1991), mas com a bolsa de estudo e com grande capacidade de sacrifício dos meus pais foi possível eu concluir com sucesso o meu curso.
Por tudo isso tenho um sentimento de enorme gratidão e orgulho dos pais maravilhosos que tenho e que sinto que é recíproco.

Como se define a nível profissional?
Nem sempre é fácil falarmos de nós próprios com a isenção que o tema exige. De qualquer modo, é meu costume exercer as minhas funções sempre com grande empenho, disponibilidade, lealdade e exigência. Aliás, a exigência que me caracteriza é a mesma que coloco nos outros e a mesma que exijo a mim próprio. Outro aspecto que prezo é ter paixão naquilo que se faz. Não concebo fazer algo a contragosto.

Quais as suas responsabilidades?
Depois de 24 anos fora da empresa onde comecei a trabalhar há quase 34 anos, regressei à EDA em Novembro de 2020. Confesso que os primeiros meses não foram fáceis, mas adaptei-me.
Presentemente, estou em comissão de serviço, como responsável pela área dos Aprovisionamentos e como Coordenador da Equipa de Projecto de Implementação de SmartMeters (contadores inteligentes).
Esforço-me todos os dias para “dar” à empresa o melhor que posso e sei, e, na verdade, sinto-me perfeitamente integrado e motivado, que é o mais importante.

Como descreve o sentido de família no tempo de seus pais. Qual o sentido que ela tem hoje e que espaço lhe reserva?
Nasci e cresci numa família modesta, com poucos recursos, daí que o meu pai tivesse de emigrar durante uma temporada para o Canadá, mas nunca faltou o carinho, a educação, o exemplo e os bons valores (sempre que foi preciso, a vassoura de milho “trabalhou”) … Apesar dos 89 anos do meu pai e dos 80 da minha mãe, não prescindo dos seus bons conselhos e reparos.
Procurei transmitir igualmente aos meus filhos aquilo que recebi, pese embora reconheça que, por força das circunstâncias do meu percurso profissional, fui um pai e marido ausente. No presente tento compensar.
A família é, no fundo, o nosso “porto de abrigo”.

Que importância têm os amigos na sua vida?
Os amigos são importantes e insubstituíveis na vida de qualquer ser humano. Em cada fase da nossa vida vamos ganhando novos amigos, que muitas vezes, apesar da distância física ou do tempo, nunca deixam de ser amigos. Depois existem aqueles, a que chamo os “bons amigos”, que estão sempre presentes.

Para além da profissão que actividades gosta de desenvolver no seu dia-a-dia?
Sempre que tenho disponibilidade gosto de ouvir música, ver filmes históricos ou baseados em factos verídicos e estar na cozinha. Diariamente, vou à minha quinta tratar da Gina (a minha cadela e guardiã daquele espaço) e, quando os dias estão maiores, aproveito para fazer trabalhos ligeiros. Na agricultura, trabalho é o que não falta! No Verão procuro tomar banhos de mar diariamente, ao fim do dia…
Ao longo de todo o ano, aos fins de semana e feriados, divido o tempo entre o trabalho na quinta e os banhos de mar.

Que sonhos alimentou em criança?
Ser piloto da força aérea, mas não passou de um sonho… possivelmente por isso ‘Top Gun’ seja um dos filmes da minha vida.

O que mais o incomoda nos outros?
A ingratidão e a deslealdade.

Que características mais admira no sexo oposto?
Alguns “bons amigos” aconselharam-me a não responder a esta questão…

Gosta de ler? Diga o nome de um livro de eleição?
Na minha juventude não lia muito, pese embora frequentasse a biblioteca na Lagoa e, na altura, tenha lido a colecção de “Os Cinco”. Depois da leitura dos livros escolares e do jornal do Sporting, já restava pouco tempo para outras leituras. Só mais tarde, quando me cruzei profissionalmente com meu “bom amigo” Ricardo Silva (ele Director Regional da Habitação e eu das Obras Públicas) é que este me fez despertar o gosto pela leitura, que ainda mantenho e que procuro que seja diferenciada, excepto romances.

Como se relaciona com o manancial de informação, nomeadamente as notícias falsas, que inunda as redes sociais?
Cada vez utilizo menos as redes sociais como fonte de informação. Admito que há alguns anos, com o início do lançamento das notícias falsas, o risco de “cairmos” na mentira era maior.
Presentemente, com atenção redobrada, com alguma facilidade consegue-se distinguir o que é falso do verdadeiro.

Como lida com as novas tecnologias e que sectores devem a elas recorrer para melhorarem o respectivo rendimento?
Já lidei melhor… já fui claramente ultrapassado pelos meus filhos.
No presente, e cada vez mais no futuro, as novas tecnologias são uma ferramenta essencial e insubstituível para qualquer tipo de organização e em qualquer negócio. Hoje, quando se fala nos desafios da inovação, na eficiência, na notoriedade dos produtos ou no aumento das vendas, os quais concorrem para a melhoria do rendimento, a realidade é que seria impensável vencê-los sem o recurso às novas tecnologias.

A inteligência artificial está no centro do debate e pode por em risco o ser humano. Até onde deve ir essa inovação?
Não creio que isso possa acontecer. Desde logo, porque foram os seres humanos a criar a inteligência artificial (IA). Por outro lado, a União Europeia também já deu sinais importantes, com o estabelecimento de regras para a utilização da IA, pese embora ainda exista a necessidade de se aprofundar a regulação e legislação com o detalhe e a clareza que o tema exige.
A IA é uma matéria relativamente nova, que transporta consigo oportunidades que devem ser potenciadas em benefício das pessoas e das empresas, mas encerra também muitos riscos se não for bem utilizada.

Costuma ler jornais?
Sim. É uma excelente rotina diária. A digitalização da imprensa, também, veio facilitar a tarefa.

Gosta de viajar? Que viagem mais gostou de fazer?
Quem não gosta?! Conhecer outras realidades, culturas diferentes, expandir conhecimentos e viver as novas experiências que as viagens proporcionam é sempre muito compensador e agradável. A minha actividade profissional proporcionou-me a possibilidade de viajar muito. Recordo-me, por exemplo, de viagens marcantes às comunidades de emigrantes lagoenses nos Estados Unidos e Canadá – foram sempre viagens muito afectuosas e intensas. Nos últimos tempos as viagens têm sido de cariz familiar, preferencialmente, para estar com os filhos, que trabalham em Lisboa, e com o meu neto.

Quais são os seus gostos gastronómicos? E qual é o seu prato preferido?
Sou um apreciador de boa comida. Como gosto de cozinhar, por isso tenho a vida muito facilitada. Sou, mas não devia, um grande apreciador de doçaria. Mas existem dois pratos que não posso deixar de mencionar, pastéis de bacalhau e assado misto com recheio, ambos confeccionados pela minha mãe.

Que notícia gostaria de encontrar amanhã no jornal?
Citando Fernando Pessoa, “saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos”, por isso, neste momento, o meu maior sonho prende-se com o fim das invasões da Ucrânia e da Faixa de Gaza. Os ataques nesses territórios têm sido intensos e devastadores, com consequências humanitárias profundas. É penoso e doloroso assistir à destruição massiva desses territórios. O que está a acontecer na faixa de Gaza é inaceitável. É imperioso um cessar-fogo no conflito entre Israel e o Hamas e urgente a necessidade de garantir o acesso à ajuda humanitária em Gaza.

Se desempenhasse um cargo governativo descreva uma das medidas que tomaria?
Há 17 anos, fez-me a seguinte pergunta: “Qual a obra de eleição para si no concelho, enquanto autarca?”. Na altura respondi: “Sem dúvida a obra social nas suas diferentes vertentes, que muitas vezes é a menos visível, mas a que mais satisfação e realização transmite a um autarca.”
Se desempenhasse um cargo governativo a minha linha de acção seria no mesmo sentido. Sem dúvida tomaria medidas no domínio social, que contribuíssem para a redução da pobreza, do desemprego, das dependências e do insucesso e abandono escolares, sem esquecer as dificuldades das famílias que procuram o acesso a uma habitação condigna.
Enquanto não formos capazes de encontrar soluções concretas para resolver estes problemas, estaremos condenados a ser uma Região com enormes fragilidades. Passados estes anos todos, continuo a achar que boas políticas sociais têm um impacto tremendo na qualidade de vida e no desenvolvimento económico da Região.

Qual a máxima que o/a inspira?
Nada se consegue sem trabalho!

Em que época histórica gostaria de ter vivido?
Sem dúvida, a presente. Sinto-me um privilegiado pelo que já vivi e por tudo o que consegui concretizar.

Qual a sua opinião sobre a forma como o sector agrícola tem evoluído na Região?
A evolução do sector agrícola nos últimos anos foi muito marcada por um conjunto de dificuldades, umas de origem interna e outras de origem externa, que não podemos controlar, mas que podemos sempre minimizar os impactos.
O aumento dos custos (factores de produção, combustíveis, financeiros e mão-de-obra), a escassez de mão-de-obra e o preço pago ao produtor condicionaram, e muito, o rendimento dos agricultores.
Acresce a isso o atraso na execução do anterior quadro comunitário e o adiamento da entrada do novo quadro, que acabam por atrasar os pagamentos das comparticipações dos projectos de investimentos ou por impossibilitar a apresentação de novos projectos, condicionando, e muito, a gestão das explorações agrícolas.

Depois de 4 anos de críticas duras à gestão do anterior Governo nos investimentos, nas infraestruturas (caminhos, água e energia elétrica) e na manutenção dos caminhos, a verdade é que, depois de um início auspicioso em termos de compromissos, aquilo que se sente quando se fala com os agricultores é “nunca esteve tão mal”.
Os atrasos nos pagamentos dos contratos programa com as organizações de produtores atingiram uma situação nunca vista no passado.
Também no domínio das taxas de execução dos planos da agricultura, o PSD sempre foi muito crítico, mas também aí o que se verifica é que não conseguiram melhores taxas e, em apenas dois anos (2021 e 2022), o sector agrícola perdeu 21 milhões de euros, devido à não execução da totalidade dos montantes previstos em orçamento.
Não creio que tudo isto tenha sido propositado ou por inabilidade do titular da pasta da agricultura. Foi, na minha opinião, devido a dois factores: a aposta deste Governo em anular os rateios nas ajudas pagas aos agricultores, faltando verbas para as outras áreas dentro do orçamento da agricultura (como diz o povo “o dinheiro não estica”) e a falta de receita para financiar o plano da agricultura.

Concorda com a redução de produção de leite nos Açores para que as indústrias não descem o preço, aumentando o número de explorações de gado de carne?
Há 7 anos não concordava e continuo a não concordar com a estratégia de reduzir a produção para condicionar as indústrias. Aliás, se dúvidas houvesse, basta analisar o que aconteceu, uma pressão muito grande das organizações de produtores para reduzir a produção de leite, na expectativa que os preços subissem. Na verdade, os preços até subiram, mas por pressão dos mercados externos. E, mais recentemente, verificou-se uma descida muito significativa do preço.
Pensar que o produtor baixando a produção o preço do leite vai aumentar é um erro. Sem produção não criamos rendimentos.
Naturalmente, cada produtor, em função da capacidade e rentabilidade da sua exploração, em articulação com a sua indústria, é que deve saber se o caminho é reduzir a produção, manter ou até aumentar.
Outra coisa diferente é a reconversão de explorações de leite para a produção de carne, projecto iniciado pelo anterior Governo do PS, que está a dar bons resultados.
No domínio da valorização do preço do leite, ainda temos um longo caminho a fazer na inovação da indústria, no reforço da notoriedade das nossas marcas nos mercados e na melhoria da eficiência das explorações. Para tal é preciso, vontade política e afectar muitos recursos e muita persistência. O PRR e o Plano Estratégico da PAC 2023-2027 são oportunidades que não devem ser perdidas para darmos um salto qualitativo na nossa agricultura e para melhoramos os rendimentos dos agricultores. Por mais resilientes que estes sejam (e são na verdade), sem agricultores não há agricultura e sem agricultura não existem Açores.

O pilar do sector agrícola está a perder dimensão com o crescimento do turismo? Quer esclarecer?
De modo algum, mais turismo significa mais consumo interno. Vai ser necessário produzir mais para responder ao crescimento da procura interna.
Para tal é importante um pacto regional entre o governo, a produção e a distribuição, e porque não da hotelaria, para privilegiar o consumo das nossas produções locais.
Um dos riscos que existe é, na distribuição do orçamento, não caber à agricultura o montante financeiro na dimensão que o sector precisa, pela importância estratégica que esta tem para a Região, para o seu desenvolvimento económico e social e para o nosso futuro colectivo.

Que analise faz à situação política regional?
A situação política na Região é o resultado da votação das eleições, onde cada açoriano votou de forma livre e democrática de acordo com as suas opções partidárias, em resultado da apreciação que fizeram dos diferentes programas de Governo e da avaliação à governação dos últimos 3 anos.
O resultado foi a não existência de uma maior absoluta, que seria, à partida, um garante de estabilidade durante 4 anos.
Temos um quadro parlamentar exigente e desafiante para os partidos, onde deverá prevalecera responsabilidade e os superiores interesses dos açorianos, em vez dos tacticismos partidários.
Os Açores não aguentam novas eleições antecipadas. As empresas precisam de estabilidade, é preciso a toda a força (já passaram 3 dos 7 anos) executar os fundos do novo quadro comunitário de apoio 2021-2027, colocando-os ao serviço da economia e do desenvolvimento da região.
Os açorianos não querem novas eleições!

Os Açores são ingovernáveis sem que um partido tenha maioria absoluta? Pode explicar.
De modo algum. Os mais de 41.000 açorianos que votaram no PS-Açores fizeram-no porque achavam que era a melhor solução para a governação dos Açores. Não transmitiram com o seu voto, eu pelo menos não interpreto como tal, que, se o PS-Açores não formasse Governo, estava impedido de viabilizar um Governo da coligação.
O caminho do PS-Açores foi outro, sufragado à pressa, por unanimidade dos órgãos do partido e alinhado com o líder nacional do PS. O mesmo líder que, passados poucos dias, veio dizer, com algumas nuances pelo meio, que afinal no país se o PS perder, viabilizará um Governo da AD em minoria, mas só se sente obrigado a fazê-lo se houver reciprocidade e não conseguir apresentar uma alternativa à esquerda.
É verdade que, presentemente, a situação é diferente do que a ocorrida em 1996, mas foi possível governar sem maioria absoluta, até com muitos bons resultados.
E porque não agora?!

Que comentário lhe merece a postura que o líder do PS/Açores tem adoptado perante a maioria relativa do Governo de coligação de José Manuel Bolieiro?
É uma estratégia que discordo em absoluto.
Sobre este tema estou bastante tranquilo, visto que, num artigo de opinião escrito na noite eleitoral, defendi que o PS-Açores, como maior partido da oposição, democrático e responsável, e por tudo aquilo que Vasco Cordeiro afirmou durante a campanha eleitoral sobre as ameaças e os perigos da extrema-direita para a democracia e para o futuro da Região e, sobretudo, colocando os interesses dos açorianos e da Autonomia à frente de outros interesses, deveria estar, de forma democrática, disponível para viabilizar o programa do Governo da coligação PSD/CDS/PPM, abstendo-se.

Porque entende que o PS/A deve viabilizar o Programa do Governo da coligação?
Complementando aquilo que já referi, faz-me alguma confusão votar contra um programa do Governo, que ainda nem se conhece. Não é um bom exemplo de transparência política e não fica bem ao PS-Açores, sendo um partido do arco da governação.
Aquilo que eu esperava, e tal como eu, muitos socialistas e não socialistas por esta Região fora, era uma decisão responsável, acrescida ao facto do PS-Açores ter governado a Região durante 24 anos, na defesa da democracia e da autonomia regional.
No meu entendimento, a abstenção, nesse caso, não significaria a diminuição das responsabilidades da oposição, em criticar o que está mal, em fiscalizar, em propor alternativas e em apresentar melhores soluções para os problemas que a Região enfrenta, para além de que viria retirar protagonismo à extrema-direita e dar a devida estabilidade à região, que tanto é reclamada pelas empresas e pelos açorianos.

João Paz

                  
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