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O saber e a verdade

1- Hoje é dia de eleições, e quando estamos perto de comemorar cinquenta anos do 25 de Abril que abriu as portas à Democracia, é necessário lembrar que neste período houve momentos muito difíceis para o país e para as pessoas, com o ponto mais alto a 11 de Março de 1975, aquando das nacionalizações da banca e dum vasto sector empresarial.
2- As nacionalizações incluíram também os bancos e empresas dos Açores, como a Fábrica de Tabaco e a de Cervejas, assim como uma parte do capital da SATA que era detido pela TAP.
3- O país entrou num período de instabilidade política com a declaração da Independência das colónias e o retorno em massa dos portugueses, facto que durou até ao cerco da Assembleia Constituinte e à retenção dos Deputados. A instabilidade prosseguiu com manifestações orquestradas e que só tiveram fim com o 25 de Novembro.
4- Nessa altura, os Açores reclamavam a consagração da Autonomia na Constituição e coube-lhes um papel importante perante a conjuntura difícil que existia, devido ao facto de sermos a fronteira entre o continente europeu e o continente americano e termos a base militar na Terceira.
5- A 25 de Abril de 1975, as eleições para a Assembleia Constituinte validaram o projecto Autonómico, o povo depois saiu à rua para “selar” o projecto do qual era o “Guardião”, voltando à rua a 6 de Junho, e a 22 de Novembro, três momentos cruciais para os Açores e para a Autonomia.
6- Introduzimos estes factos porque importa lembrar às actuais gerações a caminhada que temos feito desde a implantação da III República, que levou a que o país seja o que é, com virtudes e com defeitos. Enquanto isso, os Açores tornam-se num exemplo pelo valor que têm, ancorados na imensidão do mar que nos pertence e pela plataforma que servimos entre a Europa e a América.
7- Chegados aqui, precisamos de massa crítica que assuma o seu papel, olhando o futuro dos Açores e dos Açoreanos. Não é hábito falar de como se começou a gizar os alicerces para a criação do ensino superior nos Açores, quando estávamos no ano de 1970.
8- Na altura, havia muitos alunos que tinham terminado os estudos na Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada, mas apenas um grupo muito reduzido tinha condições de prosseguir os estudos em Lisboa.
9- Nessa altura era Ministro da Educação Veiga Simão e tinha como Secretário de Estado, Augusto Athayde. Informados de que estava programada uma visita a Ponta Delgada do Ministro, um conjunto de alunos, em colaboração com o Director da Escola, Aníbal Cymbron Bettencourt Barbosa, prepararam uma petição a entregar aos visitantes, requerendo a aprovação da criação de uma Escola Superior nos Açores.
10- A argumentação foi sólida e transformou-se numa promessa de que o pedido seria deferido. E assim foi, mas depois seguiu-se o 25 de Abril e o arranque da Escola Superior dos Açores ficou a aguardar.
11- Em 1975 fizemos dois requerimentos e uma reclamação através da Assembleia Constituinte ao Presidente da República para que fosse aprovado em definitivo a instalação da Escola Superior. Entretanto, a resposta chegou, justificando que as escolas superiores iriam ser substituídas por Institutos Superiores, razão pela qual o processo estava a demorar. Voltei mais tarde através de uma intervenção na Assembleia, mas já para me congratular com a aprovação da criação do Instituto Superior nos Açores.
12- Retomo esta matéria, porque no dia 6 de Março, na cerimónia de entrega na Universidade dos Açores do título de Doutor Honoris Causa ao Engenheiro José Braz, o novo Doutor disse: “Os gestores não sabem tudo e a Universidade também não é dona da verdade.”
13- O título está muito bem aplicado, e isso leva-nos aos primórdios da sua instalação e do percurso que foi tendo com o Reitor José Enes ao leme, e que fez um trabalho possante no arranque, contando sempre com a cooperação do Governo Regional, mormente aquando do incêndio na Reitoria que se seguiu à visita do Presidente da República, Mário Soares, tendo-se erguido com rapidez outras instalações no campus da Universidade para que prosseguissem os trabalhos.
14- Por isso, é tempo da Universidade olhar para as responsabilidades que tem na formação da massa crítica que a Região precisa para progredir com o saber e acção de cada formando.

Américo Natalino Viveiros

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