O parlamento nacional apresenta uma maioria à direita, mas Luís Montenegro como líder da Coligação, já se manifestou disponível para ser Primeiro-Ministro sem contar com o CHEGA, esperando que o Presidente da República o indigite. Assumiu que mantém a palavra de que vai governar em maioria relativa, sem contar com André Ventura. “Na expectativa de que isso vai acontecer, o meu compromisso é de que a mudança se vai cumprir com novos políticos e novas políticas” (…).
Depois de uma longa noite eleitoral, taco-ataco, já de madrugada a Aliança Democrática (AD), composto pelo PSD, CDS-PP e PPM, venceu as eleições legislativas nacionais (29,3%) por uma magra vantagem em relação ao Partido Socialista (PS) 28,7%. Ou seja, menos um por cento e apenas dois deputados separam a AD (79) do PS (77), faltando ainda a distribuição dos votos dos emigrantes, que no total são mais 4 deputados e não se sabe como serão distribuídos. O maior crescimento eleitoral da noite de Domingo vai para o CHEGA (48 deputados).
O LIVRE também cresceu e passou de 1 para 4 deputados, ficando agora com um grupo parlamentar. Portanto, deixa de ser o partido de um homem só. Rui Tavares fez uma campanha eleitoral serena e conseguiu o que pediu aos portugueses.
“São umas eleições que não estão fechadas e nos deixam na incerteza. Não sabemos neste momento condições de governabilidade que podemos ter nos próximos meses”, disse o líder do Livre, assumindo a felicidade de ter mais deputados na sua bancada.
A Iniciativa Liberal, por seu turno, queria aumentar o seu grupo parlamentar, não conseguiu, manteve os 8 deputados, assim como o Bloco de Esquerda os 5 e o PAN 1. Todos cresceram em percentagem não em mandatos. Quem desceu foi a CDU de Paulo Raimundo que passou de seis para quatro deputados, considerando o líder comunista que a vitória da AD “ é um risco sério de empobrecimento democrático”, destacando que as acções do passado feitas pelo PSD e PS é que fizeram com que o CHEGA crescesse.
Nos Açores a vitória em percentagem foi da AD (39,84%) mas em termos de mandatos ficou com os mesmos dois que o PS (29,18%). Os socialistas perdem um deputado à Assembleia da República nesta eleição face a 2022. Assim, a novidade do xadrez político foi a eleição de 1 deputado pelo CHEGA, que se consolidou como a terceira força política (15,76%) no arquipélago, à semelhança do que aconteceu a nível nacional. No novo cenário político, dos Açores na Assembleia da República estarão Paulo Moniz e Francisco Pimentel (AD), Francisco César e Sérgio Ávila (PS) e Miguel Arruda (CHEGA).
O parlamento nacional apresenta uma maioria à direita, mas Luís Montenegro como líder da Coligação, já se manifestou disponível para ser Primeiro-Ministro sem contar com o CHEGA, esperando que o Presidente da República o indigite. Assumiu que mantém a palavra de que vai governar em maioria relativa, sem contar com André Ventura. “Na expectativa de que isso vai acontecer, o meu compromisso é de que a mudança se vai cumprir com novos políticos e novas políticas” (…).
“Sempre disse que vencer as eleições era ter mais um voto e que só nessa circunstância assumiria funções de primeiro-ministro”, afirmou, após conhecidos os resultados e no discurso de vitória, que foi muito pequena. “Parece incontornável que a AD ganhou as eleições e o PS perdeu as eleições. No nosso entendimento os portugueses disseram que queriam mudar de governo, que queriam mudar de políticas, e querem que os grandes partidos se possam apresentar de forma renovada e elevada e que é necessário que os partidos devem privilegiar o diálogo entre líderes e partidos”.
Contudo, perante os militantes no quartel-general do partido para a noite eleitoral, apelou à responsabilidades dos partidos políticos, nomeadamente do PS para que deixe a AD governar. Ao som de “Portugal, Portugal”, Montenegro agradeceu a todas e a todos os portugueses que confiram na AD e destacou “a tolerância democrática do povo português”, destacando o facto de os cidadãos terem exercido o seu sentido de voto em massa “e creio que é mérito de todos os candidatos”. A abstenção deste acto eleitoral foi de 33,85%, muito abaixo dos mais de 40% de há dois anos.
A vida do PS começa agora
e Ventura quer diálogo
Do lado do PS, Pedro Nuno Santos já deixou claro, depois de assumir a derrota, que a oposição será socialista e que Montenegro não espere que os socialistas o ajudem a governar, destacando a elevada participação dos portugueses que só engradece a democracia que os portugueses tão arduamente conquistaram. “Temos um partido forte e unido e apesar da diferença tangencial da AD”, garantindo ter felicitado Luís Montenegro assumindo claramente. “Vamos liderar a oposição, renovaremos o partido e procurar conquistar os portugueses e trabalharemos ao longos dos próximos meses descontentes com o PS. O Chega deve um resultado expressivo que não dá para ignorar (…), pois não há 18,1% de portugueses racistas e xenófobos. Queremos reconquistar os portugueses e mostrar que as soluções não passam nem pela AD nem pelo CHEGA. Temos que conquistar os que estão descontentes, descontentes com a política, descontes com o sistema político e descontentes com o PS”.
Para Pedro Nuno Santos o caminho dos socialistas “começa agora” e, citando Mário Soares militante nº 1 do partido, “só é vencido que desiste de lutar”.
Já André Ventura assumiu que será “muita irresponsabilidade” de Luís Montenegro não contar com o CHEGA para governar Portugal, porque continua disponível para negociar com a AD. “só um líder e um partido muito irresponsável deixarão o PS governar quando temos na nossa mão a possibilidade de fazer um governo de mudança”, sublinhando que Domingo “acabou o bipartidarismo em Portugal”, garantindo que o CHEGA ainda será vencedor de eleições legislativas nacionais, o poderá levar seis meses, um ano ou mais, mas esta é a convicção do líder do CHEGA. No seu discurso de festa pelo feito alcançado, só visto com o PRD de Ramalho Eanes que depois desapareceu, Ventura fez questão de sublinhar que o partido cresceu, cerca de um milhão e cem mil votantes, contra jornalistas e comentadores que fizeram uma campanha de ataque ao partido. “O CHEGA é o partido mais perseguido em toda a história da democracia portuguesa”, disse.
Também o chefe de Estado não escapou às palavras de André Ventura por eventualmente ter dito que não aprovaria um Governo com o Chega. “Não é o presidente da República que diz quem pode e quem não pode ser Governo em Portugal”, registou, e os portugueses mostraram isso.
Agora, só resta esperar pelos resultados dos círculos da Europa e e de Fora da Europa e saber onde os quatro deputados que faltam para fechar os lugares disponíveis (4) no hemiciclo serão distribuídos. Nesse compasso de espera, Marcelo Rebelo de Sousa já tomou a decisão de ouvir os partidos políticos com assento parlamentar. Inês Sousa Real do PAN será a primeira a ser recebida hoje em São Bento, ao que se segue as restantes forças partidárias por percentagem de votos, e uma por dia, sendo que o último será Luís Montenegro, como líder da AD e futuro primeiro-Ministro de Portugal. Estas reuniões decorrerão todas às 17h00 e prolonga-se até dia 20, altura em que devem ser conhecidos os resultados dos emigrantes.
Um novo Governo só deve tomar posse em Abril. Até lá António Costa mantém-se como primeiro- ministro em gestão.
Nélia Câmara