Desde jovem que Octávio Leal denotou uma habilidade para treinar. Ao Correio dos Açores, o actual técnico da equipa de futsal do Barbarense, da Terceira, que milita na segunda divisão nacional, explica o que o levou a trocar a equipa do Lusitânia pelo seu actual clube, o porquê de não haver jogadores açorianos no plantel e aborda o futuro do clube.
Correio dos Açores – Como chegou a treinador principal do Barbarense?
Octávio Leal – O meu percurso no futsal começou há alguns anos, ainda jogava na formação e já ia recebendo convites para ser treinador adjunto nos escalões de formação por parte do Carlos Brasil. Quando integrei a Universidade dos Açores, fui sempre tirando formações e estando presente em encontros de treinadores para não estagnar muito a minha evolução, uma vez que, neste período, não estava directamente ligado à modalidade.
Quando voltei para a Terceira, recebi o convite do treinador Frederico Cardoso para fazer parte da sua equipa técnica, como treinador adjunto, no Lusitânia. Fui ficando no Lusitânia, mesmo com a chegada de novos treinadores. Com a entrada do treinador Carlos no clube fui treinador dos juniores masculinos e femininos. Continuei com o treinador Cláudio até à época passada, que foi a primeira época onde comecei a exercer funções a tempo inteiro como profissional. No ano passado estivemos na luta pela subida de divisão.
Este ano assumi o lugar de treinador adjunto de outro clube, o Barbarense, e já atingimos todos os objectivos que assumimos no princípio da época. A manutenção já está garantida. Foi um percurso ainda curto, mas com grandes vivências.
Chegou para ser treinador adjunto e actualmente é o treinador principal. Quer explicar esta situação?
Eu sempre fui adjunto e é nesta função que me sinto confortável. A minha carreira é toda como treinador adjunto. No entanto, surgiram alguns problemas que levaram à saída do treinador principal. Foram questões do foro pessoal, que nada têm a ver com o seu profissionalismo nem com o clube. Não havendo opções claras para assumir a equipa, a Direcção entendeu que eu estaria preparado para assumir o desafio e fui logo a primeira opção. O convite foi-me feito e aceitei o desafio, também como forma de ajudar o clube e os jogadores, visto já os conhecer e conhecer a ideia de jogo.
O vosso objectivo principal era a manutenção?
Sim, era o nosso principal objectivo. O Barbarense tem o objectivo claro de se estabilizar na secunda divisão a curto/médio prazo. Para o conseguir tem que estabilizar o clube a nível financeiro e necessita de estar alguns anos na segunda divisão. Chegar à fase de subida, conseguindo a manutenção logo na primeira fase, é muito bom. Estar a jogar a este nível é muito importante pois permite que os jogadores cresçam. Este ano foi o ano onde chegamos mais longe na Taça de Portugal e fomos o primeiro clube açoriano a disputar uma Taça da Liga. Podemos dizer que acima de tudo é uma época de sucesso, com os objectivos cumpridos sem entrar em grandes aventuras que é o principal.
O vosso plantel é composto por jogadores fora da Região. Em sua opinião, o jogador açoriano não tem qualidade para competir a este nível?
A questão do jogador açoriano é muito simples: há qualidade nos Açores mas, neste momento, será mais uma questão de mentalidade. O jogador açoriano não está preparado para assumir um projecto profissional. E isto deve-se a questões pessoais, profissionais e de rigor que afectam, na maioria das vezes, o seu crescimento. Obviamente que tendo uma forma de seleccionar os jogadores que se encaixam mais no nosso projecto, olhamos para fora da Região com bons olhos até porque a base de recrutamento é maior. Nos Açores, a base de recrutamento é menor e, na generalidade, o rigor do atleta açoriano também é menor. Qualidade há, tem de haver mais compromisso do jogador açoriano que, muitas vezes, é o que falta. As portas para os jogadores açorianos estão sempre abertas. Poucos estão aptos a serem profissionais, visto que trabalham durante o dia e a maioria dos jogadores está reticente a deixar o seu trabalho para chegar a este patamar.
O futsal é um desporto rentável para ser uma profissão?
Neste momento o futsal ainda não é rentável ao ponto de um atleta fazer vida disto, mas depende sempre de si. Há jogadores que conseguem fazê-lo, mesmo na segunda divisão. A segunda divisão, neste momento, paga bem e qualquer clube paga, minimamente bem aos jogadores e permite-lhes correr esse risco. Também tem de haver da parte do jogador esse compromisso, essa entrega e esse profissionalismo, porque é um meio difícil. Ou somos melhores e trabalhamos para sermos os melhores ou então não dá para fazer vida disto. Há países em que é possível dar o salto da segunda divisão onde é muito rentável, apesar de não estar, ainda, ao nível do futebol de onze.
A sua transição do Lusitânia para o Barbarense foi pacífica?
Foi muito pacífica, até porque já havia algum interesse declarado por parte do Barbarense para que isso acontecesse. O Lusitânia estava interessado na minha continuidade mas não chegamos a acordo e acabei por aceitar outra proposta e outro projecto. Hoje estamos aqui e amanhã podemos estar noutro local. Sempre fui o mais profissional possível no Lusitânia, eles sabem isso. Em nenhum momento dei menos de mim e trabalhei menos em prol do clube.
Fui uma das peças fundamentais para o crescimento do clube e se o clube está onde está hoje, também se deve, ao meu esforço e há minha dedicação.
Que principais diferenças consegue encontrar entre o Lusitânia e o Barbarense?
Em primeiro lugar há uma diferença de estrutura. O Barbarense caminha para ser um clube profissional e tem todas as condições para que isto aconteça. Tem um projecto claro de crescimento, um bocadinho diferente do que é o projecto do Lusitânia. No Lusitânia existe mais um projecto de seniores, com o objectivo de vir a subir. Isto nota-se, por exemplo, nas contratações que fizeram agora na segunda fase. Já o Barbarense opta por criar uma estrutura profissional, não só da parte administrativa mas também da parte do staff e equipa técnica, que permite depois apostar nos jogadores. Temos uma aposta grande na formação e é um clube muito estável que não tem nenhum objectivo que não possa ser concluído, ou seja, não tem objectivos irreais. O projecto é sustentado, não dão um passo maior que a perna e é isto que permite ao Barbarense estar onde está, sem dúvida.
Que objectivos restam para o fim da época?
Neste momento tínhamos o objectivo de chegar aos quartos-de-final da Taça de Portugal que, infelizmente, não conseguimos cumprir e tínhamos o objectivo de ficar nos quatro primeiros. Queremos ser competitivos e não queremos, de todo, desistir da competição apenas por os objectivos já estarem cumpridos e então criamos o objectivo interno de ficar nos quatro primeiros. Acima de tudo, vamos continuar a trabalhar com seriedade para criar as bases daquilo que será o Barbarense do próximo ano. Perceber que peças são fundamentais para o próximo ano e também perceber que lacunas temos para melhorar e ter um Barbarense, no próximo ano, igualmente competitivo ou, quem sabe, um pouco mais forte.
Na próxima época tenciona voltar a ser treinador adjunto ou a experiência como principal deixou-o com vontade de assumir um projecto?
Existe a proposta por parte da Direcção para que continue como treinador principal. É uma decisão que terei de tomar e que será tornada pública muito em breve.
Frederico Figueiredo