Edit Template

Sobre os resultados eleitorais

É incontornável a vitória de André Ventura e do partido Chega. Elegeu deputados em todos os círculos eleitorais, à exceção de Bragança, alcançando resultados transversais a todo o país, de norte a sul, regiões autónomas incluídas. Desta vitória, que alguns qualificam como hecatombe do sistema partidário tradicional, é ainda mais assinalável a eleição de um deputado pelo círculo dos Açores, outro pelo círculo da Madeira, e alguns segundos lugares em distritos importantes, muitos tradicionalmente votantes do espectro político mais à esquerda, como foi o caso de Setúbal ou Beja.
No Algarve chegou ao primeiro lugar, uma região que chegou a eleger deputados dos partidos à esquerda dos socialistas. Acaba com uma bancada que pode chegar à meia centena de deputados, depois de apurados os dois círculos da emigração (Europa e fora da Europa). São demasiados para os tentarem esconder, ignorar ou desconsiderar quem neles votou. Serão muitos para que não consigam obter ganhos negociais. No fundo, não vão desaparecer, nem aqueles que neles votaram.
Um dos grandes derrotados da noite é o PCP, a que se junta uma derrota geral dos partidos de esquerda, com natural exceção do Livre.
Apesar de ter ido buscar antigos dirigentes e deputados, numa tentativa de contrariar o desaire de 2022 – quando perdeu metade do grupo parlamentar – terminou a noite eleitoral com uma bancada ainda menor. A generalidade dos analistas e académicos assegura que esta é a consequência natural do fim do comunismo a leste, e as realidades que esse fim destapou. Apesar da resiliência de alguns partidos comunistas no sul europeu, como o grego e o português, a manutenção de países na pobreza nos quais o sistema de partido único sobreviveu, por um lado, ou a conversão desses países ao capitalismo mais feroz, por outro, acabam por ser a outra razão plausível para o definhamento desta força política que foi essencial à consolidação da democracia no nosso país. A estocada final, com a eleição muito localizada de deputados, e o seu afastamento aparentemente definitivo do grande Alentejo, anunciam que melhores tempos não virão.
A exceção que foi o Livre ancora-se num discurso que não é tradicional na esquerda que conhecemos. Ecológica, europeísta, de defesa da Ucrânia que não encontrou sinónimo nas restantes forças políticas minoritárias da mesma área. Esta alteração ideológica radical no discurso dos partidos à esquerda dos socialistas, sempre mais concentrados no mercado de trabalho, nas organizações sindicais e na pureza ideológica conseguida nalgum passado já distante, foi bem acolhida pelos eleitores, muitos habituados a votar mais ao centro.
Por outro lado, o Bloco de Esquerda, apesar de ter mantido o mesmo número de deputados, acaba por ser também uma das vítimas do seu próprio passado, já que a quebra de eleitos e votação obtidos em 2022 se mantêm, quando a expectativa da nova liderança era claramente uma subida no número de mandatos. Caso simétrico aconteceu com os liberais.
No elenco da derrota generalizada dos partidos que outrora compuseram a geringonça, o PS é o grande perdedor. Aliena mais de cinquenta mandatos, perde o governo e perde representação social, em muitos casos para o Chega. As análises do pós-eleições questionam-se como, perante os acontecimentos dos últimos oito anos, depois de duas legislativas antecipadas marcadas por casos, conseguiram os socialistas um score tão próximo da coligação vencedora.
É inquestionável a capacidade de reinvenção do PS, em particular depois de José Sócrates e após a quantidade e dimensão dos acontecimentos protagonizadas pelos elencos governativos de António Costa.
A derrota só não é tão clamorosa, pela vitória à tangente da AD.
Apesar de sair por cima, Luís Montenegro tem muito com que se preocupar.
Terá de governar com um orçamento que não é o seu, ao mesmo tempo que viu serem-lhe cerradas as portas para aprovação dos orçamentos subsequentes pelos socialistas, e abertas as portas pelo Chega, abertura esta dependente de negociação prévia.
A negação definitiva da direita radical pelo líder social-democrata é um caminho estreito que terá de percorrer, com pedras no caminho que o poderão fazer tropeçar.

Fernando Marta

Edit Template
Notícias Recentes
Governo define áreas previligiadas de cooperação com Juntas de Freguesia
Confirmada Sentença de 16 Meses de Prisão por Homicídio em Rabo de Peixe
Jovens líderes da diáspora visitam os Açores
Mais 1,5 milhões de euros para a ‘Tarifa Açores’
Jovens da Escola Secundária da Lagoa com várias actividades na Semana Mundial do Espaço
Notícia Anterior
Proxima Notícia
Copyright 2023 Correio dos Açores