António Medeiros, 48 anos, Presidente da Junta de Freguesia de Nossa Senhora dos Remédios desde Outubro de 2017, afirma que a carência de habitação, principalmente para os casais mais novos, a falta de emprego, que provoca a saída de muitos jovens das Lombas do Alcaide e do Loução, e a toxicodependência, que tem vindo a aumentar na freguesia, são as principais dificuldades actualmente.
Correio dos Açores – Que retrato faz da freguesia de Nossa Senhora dos Remédios?
António Medeiros (Presidente da Junta de Freguesia de Nossa Senhora dos Remédios) – A freguesia de Nossa Senhora dos Remédios é a terceira maior do concelho da Povoação e a mais nova, constituída no ano de 1957. É uma freguesia com grande potencial de crescimento devido à sua geografia. Tem grande procura em termos de habitação e também em relação ao turismo.
Como consegue conciliar os interesses das Lombas do Loução e do Alcaide?
Em primeiro lugar, só é possível graças ao bom desempenho da nossa equipa (do Executivo). Ouvimos toda a população, tentando sempre satisfazer as suas necessidades e resolvendo os problemas que possam surgir. Fazemos sempre o possível para tratar das duas Lombas de forma igual. Partilhamos cada evento e actividade entre as duas localidades, intercalando todos os anos entre ambas.
Quais são as principais dificuldades que a freguesia enfrenta actualmente?
Uma das maiores dificuldades é inerente a todo o país: a falta de habitação, principalmente para os casais mais jovens. Outro problema que sentimos na freguesia é a falta de emprego, que provoca a saída de muitos jovens. Além disso, a toxicodependência tem vindo a aumentar, e sentimos isso nesta freguesia.
Qual a dimensão da carência de habitações na freguesia de Nossa Senhora dos Remédios?
Efectivamente, nota-se uma maior carência de habitação na freguesia, apesar de ser verificada cada vez mais procura, principalmente a nível de arrendamento. Esta carência tem sido provocada pela aquisição de diversas moradias por estrangeiros que acabam por inflacionar o custo das residências, tornando a sua aquisição inacessível para uma franja da população local. Esta situação tem-se verificado em todo o país.
Verifica-se, também, o aumento e a criação de novos empreendimentos turísticos, o que acaba por reduzir o número de habitações existentes.
Assim, há certamente alguma fuga dos jovens da freguesia, principalmente dos que optam por estudar fora da localidade e que, cá, não conseguem arranjar emprego na sua área. Também é visível alguma emigração por parte destes à procura de uma vida financeira melhor.
O tráfico e o número de toxicodependentes têm vindo a aumentar na freguesia? Que impacto o consumo de drogas está a ter na sociedade local?
Nota-se um aumento de toxicodependentes na freguesia. A meu ver, isso é provocado também pela falta de ocupação laboral, falta de actividade física, entre outros. O impacto provocado na sociedade é de medo, por receio que haja roubos e vandalismo, como já se ouve falar em outras localidades.
A criminalidade tem aumentado na freguesia como consequência da toxicodependência?
Por enquanto, não verificamos que isso aconteça.
Em sua opinião, o que se poderia fazer para solucionar estes problemas?
Em relação à habitação, temos feito aquilo que nos é possível para atenuar este problema. Neste momento, estamos a dar condições a duas habitações da Junta de Freguesia, para as reabilitar, para duas famílias. Temos apoiado, a nível logístico e administrativo, famílias que necessitem de auxílio nas candidaturas ao apoio à habitação, promovidas pela Secretaria da Habitação. Também é necessário a criação de loteamentos novos a custos controlados, através do Governo Regional dos Açores e do município, principalmente para os casais mais jovens.
Relativamente ao emprego, é necessário haver uma aposta maior na formação especializada nas áreas com mais necessidade, de modo a encaminhar as pessoas para as diversas empresas, colmatando a procura existente. Por exemplo, nas áreas de construção civil, agricultura e turismo.
No que diz respeito à toxicodependência, creio que pode ser colmatada com mais acompanhamento através da área social e criando ocupações para os consumidores de estupefacientes.
Qual a dimensão da pobreza na freguesia? O que tem feito a Junta de Freguesia a este nível?
A freguesia de Nossa Senhora dos Remédios não é das mais pobres. No entanto, tentamos sempre identificar as necessidades de cada um e encaminhamos para as entidades competentes, de modo a que cada problema seja resolvido atempadamente.
O número de pedidos de apoio à Junta aumentou? Em que dimensão e áreas?
O apoio mais requisitado à Junta pela população é na área da habitação. Não tendo orçamento suficiente, temos recorrido a vários esforços junto das entidades competentes para resolver estes problemas. Na área social, cedemos o nosso espaço às várias assistentes sociais do município e da segurança social, para que possam acompanhar, de perto, a comunidade e os seus problemas. Também fazemos esforços para apoiar a cultura da nossa freguesia, apoiando todas as festividades culturais e religiosas e, ainda, damos apoio à escola do primeiro ciclo.
Como tem evoluído o sector agrícola na freguesia com as dificuldades crescentes na agro-pecuária?
Nossa Senhora dos Remédios é uma freguesia rica na área da agricultura, tendo mesmo um grande número de jovens a trabalhar neste sector. Apesar disso, sofrem também muitas dificuldades, como o baixo preço do leite, prejuízo das intempéries, entre outros. A Junta de Freguesia contribui com a limpeza de todos os caminhos agrícolas do seu perímetro, garantindo o bom acesso a todas as explorações da freguesia.
Qual é a abordagem da Junta de Freguesia ao desenvolvimento do turismo? E qual o seu impacto sócio-económico na freguesia?
O turismo tem vindo a crescer nesta freguesia e a Junta acompanha esta evolução. Com o aparecimento de novos empreendimentos turísticos, principalmente dos alojamentos locais, a Junta sentiu a necessidade de criar condições de oferta para quem nos visita. Começamos por requalificar um antigo posto de leite, situado na Lomba do Alcaide, transformando-o no Cantinho do Artesanato, onde se pode encontrar todo o tipo de artesanato e produtos locais do concelho, valorizando assim todos os artesãos locais e a nossa cultura. Outra aposta desta Junta é nos trilhos. Tendo começado com a abertura de trilhos para a prática de enduro e downhill, demos continuação aos trilhos pedestres. Recentemente, foi aberto um novo trilho pedestre nesta freguesia, dando destaque aos moinhos, valorizando a fauna e flora encontradas nas proximidades da ribeira, passando pelo Museu de Trigo, algumas ruínas de levadas e moinhos, escavações na rocha e outras belezas naturais. Em relação ao impacto socio-económico, estes investimentos mantém os turistas na freguesia, dando outra vida ao comércio local, principalmente aos mercados e bares.
Também acolhemos e apoiamos actividades promovidas por outras entidades, tais como o Rallye Açores e o Povoação Trail, que atraem gentes de todas as partes, promovendo a freguesia e as suas paisagens, nomeadamente a Alameda dos Plátanos, um caminho ladeado por plátanos centenários.
De que forma a freguesia está a preservar o seu património cultural e a promover actividades culturais locais?
Desde que tomei pose como Presidente, sempre tive a preocupação na preservação de todo o património cultural da freguesia, requalificando e recuperando todo o património da freguesia, desde os seus edifícios, coretos, triatos, fontenários e ajuda na manutenção dos edifícios paroquiais. No que diz respeito às festividades locais, apoiamos e contribuímos para a realização das mesmas.
Temos a homenagem a Nossa Senhora dos Remédios, ao Divino Espírito Santo e aos Santos Populares. Estamos sempre presentes em todas as actividades culturais da freguesia, dando apoio logístico, financeiro e até cedendo mão-de-obra dos nossos colaboradores.
A freguesia tem potencial para se desenvolver mais? Em que áreas?
A freguesia tem um enorme potencial de crescimento na área habitacional e no turismo, tendo em conta a sua geografia e as suas belezas naturais. Para além disso, contamos com as associações da freguesia para dinamizar e continuar a desenvolver as actividades culturais e desportivas. Estas entidades sabem que podem contar sempre com o apoio desta Junta, que continua a dar condições para que seja mais apelativo o investimento empreendedor na freguesia.
Quais são as principais prioridades de desenvolvimento nos próximos anos?
Acreditando no grande potencial desta freguesia, uma das prioridades é insistir na criação de mais condições para a habitação local e apoio social. Pretende-se também criar todas as condições de bem-estar para todas as faixas etária, desde apoiar o ATL e a escola, as associações de juventude, culturais, desportivas, até à criação de um Centro de Dia para os idosos. Fortalecer a união entre as duas lombas, mantendo o nosso lema de “Duas Lombas, Uma Só Freguesia!”.
Carlota Pimentel