A Junta Regional dos Açores do Corpo Nacional de Escutas (CNE) realiza, entre os dias 22 e 24 de Março, o VI INDABA Açores, um encontro de dirigentes que se realizará em Ponta Delgada e na Escola Secundária da Lagoa, como forma de assinalar o início da comemoração do centenário do CNE na Região. “Indaba” é uma palavra zulu que significa “reunião de chefes”. O evento contará com a participação de duas centenas de dirigentes provenientes das várias ilhas do arquipélago para discutir propostas para o futuro. De acordo com João Tavares, chefe regional do CNE, a iniciativa convida a reflectir sobre o impacto do escutismo e do CNE na sociedade açoriana. O propósito é “tirar conclusões sobre a acção no presente e obter linhas orientadoras para o desenvolvimento da associação no futuro.”
Correio dos Açores – Como está o CNE a preparar-se para celebrar o seu centenário nos Açores?
João Tavares (Chefe Regional do Corpo Nacional de Escutas) – A Região dos Açores do Corpo Nacional de Escutas está a preparar diversas actividades para a comemoração do centenário do escutismo na Região em conjunto com as sete juntas de núcleos, onde se vai desenvolver várias actividades escutistas, com início em 2024 e finalizando com 2025, tais como VI INDABA regional, acampamentos de núcleos nas diversas ilhas e actividade do centenário, a realizar na ilha Terceira em Julho do próximo ano, envolvendo todos os escuteiros da Região.
Qual é o significado do tema “Desbravar o futuro juntos?” para o movimento escutista? Como se relaciona com a história e os valores do CNE?
O modo como esta equipa se compromete em trabalhar com todos para explorar novas possibilidades, definir metas claras, e a forma como está comprometida com o desenvolvimento dos jovens e do movimento escutista como um todo. É, também, um convite a uma gestão participativa, colaborativa e orientada para o crescimento e sucesso sustentado do escutismo na Região.
O que se espera alcançar com o VI INDABA açoriano? De que forma este evento contribuirá para o planeamento do futuro do CNE na Região?
Com o IV INDABA, pretendemos alcançar os seguintes objectivos: estruturar um momento de reflexão e discussão entre os dirigentes, procurando assim chegar a todos os seus associados, independentemente da ilha em que desempenham a sua missão; estimular e aprofundar a participação e envolvimento dos dirigentes do movimento, nas suas comunidades e sociedade envolvente; proporcionar a partilha de experiências, ideias e convicções entre os participantes.
Somos desafiados a reflectir, entre nós e com a sociedade em que nos inserimos, e a pronunciarmo-nos sobre: o impacto do escutismo e do CNE na sociedade açoriana e nas comunidades locais de pequena dimensão, considerando o presente e o futuro da associação na Região; o escutismo e o poder transformador do voluntariado; o papel dos dirigentes do CNE; o empoderamento juvenil e a educação não formal como ferramenta de envolvimento e crescimento, que influencia positivamente a vida das crianças e jovens que passam pelos nossos agrupamentos.
Esperamos tirar conclusões sobre a nossa acção no presente e obter linhas orientadoras para o desenvolvimento da associação no futuro.
Quais são os principais desafios enfrentados pelo CNE nos Açores hoje?
Um dos principais desafios que enfrentamos é o recrutamento de adultos para a associação, em especial para os agrupamentos locais, onde se desenvolve toda a dinâmica escutista com os jovens.
Como é que o movimento se está a adaptar para superar esse desafio?
Apostando na formação adequada dos dirigentes (voluntários adultos) para conseguir vencer as adversidades existentes nas diversas comunidades locais, de forma a estarem preparados no chamamento dos jovens para o movimento escutista e trabalhando com os jovens a sua formação integral, através do método escutista.
Pode partilhar algumas das discussões e propostas que estão a ser feitas em relação ao futuro do Corpo nacional de Escutas na Região?
Algumas discussões e propostas têm como principal objectivo promover uma reflexão e debate sobre temas como: O Escutismo na Região e o papel do CNE na sociedade nos últimos 100 anos; Cidadania em acção: dirigentes do CNE e o poder transformador do voluntariado; O Empoderamento juvenil: a Educação não formal como ferramenta de desenvolvimento.
Qual tem sido o impacto do CNE na sociedade açoriana e nas comunidades locais ao longo do tempo da sua existência na Região?
O papel do CNE e o seu impacto na sociedade açoriana tem sido na educação para a cidadania, através do seu projecto educativo não formal. Verifica-se que os jovens que integraram as fileiras do escutismo têm outra forma de estar e de agir na sua comunidade, diferenciando-se de outros que não ingressaram no movimento escutista.
Em que medida o empoderamento juvenil é uma prioridade para o CNE? Como é que a educação está a ser utilizada como uma ferramenta para o desenvolvimento dos jovens nos Açores?
O Corpo Nacional de Escutas (CNE) é uma organização que promove a educação não formal e o desenvolvimento pessoal dos jovens, especialmente através da prática do escutismo. O empoderamento juvenil é uma prioridade central para o CNE, e reflecte os princípios e valores do movimento escutista.
O CNE promove o empoderamento juvenil de várias maneiras: participação activa – os jovens são incentivados a participar activamente na tomada de decisões dentro dos agrupamentos, desde a planificação de actividades até à gestão de projectos comunitários; desenvolvimento de liderança – o movimento escutista oferece oportunidades para que os jovens desenvolvam competências de liderança através de cargos de responsabilidade dentro das suas unidades; autonomia e responsabilidade – os escuteiros são encorajados a assumir responsabilidades e a tomar decisões de forma autónoma, sob a orientação dos seus chefes e líderes; aprendizagem pela acção – o CNE enfatiza a aprendizagem prática e experiencial, proporcionando aos jovens oportunidades de enfrentar desafios reais e de aprender com as suas próprias experiências; contribuição para a comunidade – os projectos de serviço comunitário e as actividades de voluntariado são componentes essenciais do escutismo, permitindo aos jovens contribuir positivamente para a sociedade e desenvolver um sentido de responsabilidade cívica.
No geral, o CNE reconhece o empoderamento juvenil como um elemento fundamental do seu programa educativo e trabalha activamente para capacitar os jovens a serem agentes de mudança positiva nas suas comunidades e na sociedade em geral.
Que pontos serão abordados durante as oficinas temáticas? Como é que estas contribuirão para o fortalecimento dos agrupamentos e a melhoria das actividades escutistas na Região?
As oficinas estão organizadas em áreas, designadamente área pedagógica, com os temas “O Educador Positivo e comunicação afectiva”, “Diversidade e inclusão, o valor da diferença”, “Dimensão internacional do escutismo na actividade local”; segurança e bem-estar, com as temáticas “Sustentabilidade em campo”, “Trilhos de oportunidade de educação ambiental”, “Prevenção e “Segurança nas actividades”; recursos de animação: “Importância do imaginário na actividade escutista”, “O jogo escutista: Ferramentas e recursos educativos”; animação da fé/desenvolvimento espiritual, com animação de momentos de oração; e gestão.
Dentro de cada uma destas áreas haverá duas oficinas nomeadamente “Planeamento ao nível do agrupamento” e “Gestão financeira e apoios aos agrupamentos”.
Estas oficinas fazem parte da formação contínua dos dirigentes do CNE, que tem como principal finalidade a melhoria directa das actividades escutista em cada agrupamento.
Como é que o CNE está a promover a diversidade e a inclusão dentro do movimento? De que forma esses valores estão a ser integrados nas actividades e na gestão dos agrupamentos nos Açores?
Um processo de aceitação da diversidade e inclusão implica mudanças, tanto no sistema de trabalho no seio dos agrupamentos, como ao nível das infra-estruturas. Mas, principalmente, requer uma nova visão das pessoas, uma mudança de mentalidade, na forma como todos são respeitados e valorizados, independentemente das suas diferenças.
Entende-se, então, que a inclusão é muito mais ampla do que simplesmente integrar nos agrupamentos. Os agrupamentos de escuteiros são espaços de convivências e trocas de experiências que constantemente sofrem mudanças. Desta forma, o dirigente do CNE tem um papel determinante de mediador, estabelecendo relações favoráveis entre todos, contribuindo para a inclusão, a aprendizagem, a evolução e a autonomia das crianças e dos jovens. Acreditamos, no entanto, que estes adultos voluntários necessitam de formação inicial e continuada, para que possam ter condições de contribuir para a construção de um escutismo fundamentado numa concepção de aceitação da diversidade, inclusiva e não discriminatória.
A efectivação de práticas de inclusão no movimento escutista requer estratégias eficazes para ajudar os dirigentes a enfrentar os desafios que se interpõem ao processo de construção dos saberes que conduzem a práticas inclusivas.
Um dos caminhos mais seguros na consecução desta tarefa passa pela promoção de formação sobre diversidade e inclusão para os dirigentes do CNE, que permita o desenvolvimento de competências e que aprofunde a reflexão dos participantes, sobretudo, para o cumprimento do papel social e educativo que lhes compete.
Pretende-se que a abordagem institucional das temáticas de diversidade e inclusão ajude os dirigentes a desenvolverem competências, estratégias e metodologias de trabalho inclusivo com as crianças e jovens, no seio das suas equipas de animação, de forma a que promovam a inclusão de crianças e jovens com dificuldades específicas no seio dos seus bandos, patrulhas, equipas ou tribos.
À medida que o CNE celebra o seu primeiro século no próximo ano, quais são as principais aspirações para o futuro do movimento na Região?
Aspira-se que os jovens escuteiros dos Açores sejam agentes activos de mudança nas suas comunidades locais, tornando-as socialmente mais comprometidas.
Além disso, que tenham uma missão centrada nos jovens, nos voluntários, nos recursos e no desenvolvimento sustentável. Queremos desenvolver a nossa acção em toda a Região, em conjunto com todos os núcleos. Isto é, comunicar, pensar e actuar em conjunto.
Que o movimento escutista consiga resistir às mudanças da sociedade, de forma a que continue a ser um movimento de juventude na formação integral dos jovens, para que estes, por sua vez, sejam activos no apoio ao próximo, no desenvolvimento da paz, da sustentabilidade ambiental e da democracia.
C.P.