Contrariamente ao que costumo fazer, desta vez, segui com mais atenção as diversas intervenções políticas na Assembleia Legislativa Regional durante a apresentação do programa deste governo minoritário.
Justamente por ser minoritário, o senhor Presidente do Governo apresentou o seu programa, numa linguagem deveras consensual e de diálogo permanente com as diversas forças em presença.
Devo dizer que gostei da intervenção do Dr. José Manuel Cabral Bolieiro que, sem se subjugar, disse ser da responsabilidade de cada um o que vier a acontecer no futuro.
Todos sabemos que não nadamos em dinheiro, bem antes pelo contrário. Assim, a consensualidade do presidente está, à partida, condicionada aos montantes disponíveis – quer os das transferências do Estado quer os da União Europeia – bem como da capacidade da mão-de-obra disponível para a realização daquilo que é necessário e urgente.
Fiquei com a sensação de que a maioria dos políticos presentes entendeu isso mesmo.
Todavia, sempre há quem não entenda que as coisas são como são, e não, como o programa político do seu partido desejava que fosse. Foi o caso do BE e do PS.
Sobre o Bloco de Esquerda pouco há a comentar porque é uma força partidária contrária a tudo e a todos os que não “alinharem” com a sua doutrina. Por isso é que ele está a definhar a olhos vistos, tendo perdido a bancada parlamentar estando reduzido a um representante e, mesmo assim, eleito pelo círculo de compensação.
Quanto ao PS, contrariamente ao que esperava, confesso que, para mim, foi uma desilusão.
Isto porque, como muito bem disse o líder parlamentar do PSD, muitas das propostas constantes no actual programa do recém-eleito governo, e que agora estavam novamente em discussão, tiveram origem em programas de anteriores governos socialistas reclamados, em devido tempo, por eles próprios na Assembleia.
Ora, o que estava bem para ser executado por eles, já não está bem para ser executado por outras forças políticas? Onde está a premissa da defesa dos interesses do povo em primeiro lugar? Se é para defesa das populações, penso que não deveria importar quem executa, ou não será assim? Até parece uma brincadeira de rapazes esta “birra” de se fôr eu a fazer… está tudo bem, mas, se fôr outro a fazer já não está bem.
Neste meu comentário não queria deixar de fazer uma referência (louvor) ao líder do PAN nos Açores. Desde o primeiro momento que, aquele político, se mostrou favorável a uma solução concertada com o governo minoritário, afirmando sempre querer fazer parte da solução e não do problema. Assim, confessou que se iria abster e não votar contra. Para ele, os Açores, no seu todo, falaram mais alto.
Para a Iniciativa Liberal vai a minha simpatia pela abstenção que formalizou no final do debate do programa do governo.
Todos sabemos que não será fácil “levar a carta a Garcia” quando os recursos são escassos; porém, os açorianos de um modo geral esperam que tenham aprendido com a experiência anterior de fazer cair um governo para eleger outro igual. Quanto nos custou esta queda?
Finalmente queria deixar uma palavra de apreço à tomada de posição do CHEGA que, contrariamente ao que de início deu a entender, acabou por concluir que não se apanham moscas com fel mas sim com mel.
O líder do CHEGA nos Açôres acabou por compreender que, as suas revindicações, só teriam solução com entendimento e cedências de parte a parte, pese embora aquele partido tenha tido a coragem, que mais nenhum outro teve, em denunciar situações de verdadeiro escândalo e injustiça para com quem paga “religiosamente” os seus impostos.
Efectivamente, há muita malandrice instalada e sustentada pelo erário público, quando se necessita de mão- de-obra em variadíssimos sectores de actividade.
Mas só o CHEGA teve a coragem de denunciar!
Da minha parte, muito obrigado!
Carlos Rezendes Cabral
P.S. Texto escrito pela
antiga grafia.
17 MARÇO 2024