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“É uma experiência incrível conhecer e trabalhar com alguns dos talentos do hip-hop açoriano com a orientação do Sam The Kid”

Carlos Mendes – Maestro da Escola de Música de Rabo de Peixe

Correio dos Açores – Qual o papel desempenha a Escola de Música de Rabo de Peixe na comunidade?
Carlos Mendes (Maestro da Escola de Música de Rabo de Peixe) – Actualmente temos cerca de 40 alunos e a escola tem esta vertente de música na comunidade. Ao longo destes 23 anos de existência, esta escola tem sido uma porta de acessibilidade e de democratizarão da cultura. Por aqui já passaram algumas centenas de crianças e jovens que viveram experiências artísticas que, de certa forma, marcaram o seu processo de crescimento pessoal. Temos miúdos que nos procuram com vontade ou curiosidade de aprender um instrumento. Trabalhamos a área musical mais virada para a criatividade, o jazz, a música experimental, a música do mundo, o sound painting e a improvisação. O fazer música em conjunto é parte principal do projecto através do Combo ou da orquestra, onde todos sentem que podem fazer parte de um colectivo musical independentemente do nível musical onde se encontram.

Como surgiu a oportunidade de colaboração entre a escola, Sam The Kid e o Festival Tremor?
A nossa ligação com o Festival Tremor já tem alguns anos. Quando descobriram a Escola de Música e o que nós fazíamos, convidaram-nos e, desde então, temos participado todos os anos. Já participamos em nome próprio e com vários projectos em residências artísticas. Normalmente, é o Tremor que nos desafia para estas residências e muitas vezes não fazemos ideia ao que vamos. Este ano o tema é à volta do hip hop com o rapper Sam The Kid e MC’s açorianos e, embora esta não seja bem nossa área, está a ser um bom desafio.

Quantos alunos estão envolvidos no espectáculo? Têm que idades?
Neste espectáculo não estão envolvidos todos os alunos da escola porque muitos ainda estão a iniciar e a tocar as primeiras notas. Assim sendo, com idades entre 13 e os 27 anos, vão participar 14 alunos que já estão um pouco mais familiarizados com o seu instrumento e quatro professores. Este grupo faz parte de um dos projectos da escola que acontece regularmente ao Sábado de manhã: depois das oficinas de instrumento, alunos e professor juntam-se para ensaiar o Combo.

Como têm decorrido os ensaios e a interação entre os alunos, o Sam The Kid e os artistas convidados?
Tem sido boa. Da parte da Escola de Música temos miúdos que estão a adorar a experiência porque é a música que eles ouvem. E muitos deles já conheciam bem alguns dos artistas locais.
Quanto aos ensaios, esta semana tivemos dois horários: durante a tarde o Sam The Kid tem estado com os rappers e nós juntamo-nos a eles ao final do dia, das 18h00 às 20h00. O Sam tem orientado mais a parte dos rappers, mas vai dando alguns apontamentos e achegas na parte mais estética da música e eu estou a dirigir a parte do arranjo e ensaio musical dentro da orquestra. Tudo isto está a ser construído ao mesmo tempo que eles disparam as músicas, portanto, nós temos de ouvir, fazer os arranjos e perceber como é que podemos juntar enquanto “banda” de apoio.

Quais foram os maiores desafios na preparação do espectáculo?
O maior desafio tem sido conjugar a parte do arranjo musical dos instrumentos acústicos com os beats electrónicos das músicas dos rappers. Todo o trabalho de criar arranjos de músicas já editadas e pôr os miúdos a tocar os temas num tão curto espaço tempo tem sido realmente o maior desafio. A verdade é que não estamos a falar de um grupo profissional que chega e começa logo a tocar.
Quando aceitamos o desafio, não sabíamos em que moldes é que ia decorrer esta residência. Pensávamos que, durante este período, iríamos produzir alguma coisa em colectivo, ter uma espécie de formação e depois apresentar o produto final desenvolvido ao longo da semana. Para nós foi um pouco assustador quando percebemos que não era isso que ia acontecer. Neste momento, estamos numa espécie de sinergia com os rappers que já têm a suas músicas gravadas e editadas e nós vamos ser a banda de apoio para alguns desses temas. Apesar de estar a ser bastante desafiador, está a ser uma experiência incrível conhecer e trabalhar com alguns dos talentos do hip-hop açoriano.
Para si, qual é a influência de experiências como esta no desenvolvimento pessoal e artístico dos alunos?
É sempre importante conhecer várias correntes artísticas, porque pode abrir outras portas e oportunidades. E mesmo que muitos não façam nada directamente relacionado com isso no futuro, é sempre uma experiência enriquecedora. Estas experiências são sempre uma porta para a cultura e para o mundo. Estar aberto a novas experiências, a outras estéticas, a outros estilos musicais, cada um com as suas especificidades, só tornam o nosso conhecimento mais rico e nos ajudam também a ter capacidade de ver as coisas de outros ângulos. A música é uma linguagem universal que, independentemente do estilo ou das latitudes, todos a sentimos.

De que forma este projecto contribui para valorizar a cultura hip hop açoriana?
Este projecto vai ser uma montra com grande visibilidade para a valorização do enorme talento que existe nos Açores, pois estão a participar rappers de várias ilhas. Tive agradáveis surpresas com pessoas com um enorme talento, algumas que vêm com formação de outras áreas, como do jazz. Acho muito interessante o que as novas gerações estão a fazer no hip-hop. Acredito que aqui está a surgir uma linha nova muito interessante e com muita qualidade.

Considera que este projecto plantou uma ‘semente’ para futuras colaborações na Escola de Música de Rabo de Peixe?
Na verdade, tenho andado a pensar nisso. Se houver vontade e disponibilidade, seria muito interessante haver algumas colaborações para o futuro. Fiquei agradavelmente surpreendido com alguns talentos que estão a participar nesta residência.

O que é que o público pode esperar em termos de repertório no espectáculo. Há alguma surpresa ou estreia especial?
A nível de espectáculo, nós vamos ter 14 rappers dos Açores. Que vêm de várias ilhas, todos eles com um estilo próprio e com muita qualidade. E temos o Sam The Kid uma referência no hip-hop nacional, o artista que está a presidir à residência. Mas este espectáculo é montado para os rappers dos Açores. Cada um terá uma música própria e existem algumas participações em conjunto. Acho que é uma montra do hip hop açoriano com muitas agradáveis surpresas.
Vale a pena ir ver porque temos coisas muito boas. Venham ver aquilo que está a acontecer com as novas correntes do hip-hop açoriano.

Daniela Canha

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