Edit Template

Falar do futebol açoriano é também falar de Francisco Agatão

Francisco Agatão foi o convidado da tertúlia do Programa Desporto Açores, difundido
às Segundas-feiras, das 20h00 às 22h00, sempre com convidados diferentes.

Francisco Agatão é uma referência do futebol açoriano, devido às várias funções que desempenhou e os clubes que representou.
Actualmente, Francisco Agatão é o coordenador da formação do Desportivo de Beja.
Como futebolista, foi jogador do Estoril Praia, Estrela da Amadora, Boavista, Elvas, Desportivo de Beja, Zona Azul de Beja e Despertar SC.
A sua carreira como treinador começou como adjunto do Salgueiros, Santa Clara, Campomaiorense, Braga, Sporting, Rec. Caála (Angola) e Sanat Naft (Irão).
Já como treinador principal treinou o Santa Clara, Operário, Aljustrelense, Praiense, Fontinhas e Rabo de Peixe.

Oriundo de uma família de futebolistas
de seis irmãos

Sobre os Açores diz que “é um cantinho que guarda no seu coração”, nomeadamente as ilhas de São Miguel e a ilha Terceira, as ilhas onde desenvolveu grande parte seu trabalho.
Apresentando-se, revelou que é oriundo de uma família de futebolistas de seis irmãos, cinco dos quais jogaram em Beja, no Desportivo de Beja, por isso mesmo “este é o meu clube do coração, porque desde cedo comecei a ver os meus irmãos a jogar e queria ser também futebolista, podendo ombrear com eles no clube”.
Ele era o irmão mais novo da família, sendo que o mais velho tem 82 anos de idade e Francisco Agatão tem 63 anos. Francisco Agatão foi quem teve mais projecção a nível nacional, mas reconhece que os irmãos “tinha muita qualidade” e que se tivessem tido a oportunidade, que teve “poderiam também eles vingado no mundo do futebol profissional”.
Curiosamente, nos anos 80, releva que nunca teve “a ambição de poder vir a ser profissional de futebol, porque tinha a ideia de arranjar trabalho, que me pudesse dar estabilidade para construir a minha vida e constituir família e poder seguir, naturalmente, com o hóbi de jogar futebol. Não foi possível arranjar emprego, as coisas não foram acontecendo e foram surgindo os convites, e a partir de determinada altura percebi que estar só em casa dos meus pais não dava e, o meu pai de forma muito simples disse-me, que tinha de seguir o meu caminho, porque vida dele já estava feita. Obviamente, que através dos convites que me foram surgindo, acabei por aceitar o convite que me foi feito pelo Elvas e para lá fui. Fiz ali dois anos muito bons, não conseguimos subir de divisão, mas estivemos muito perto e fizemos boas eliminatórias da Taça de Portugal, que nos deram visibilidade, e por via disto surgiu o convite do Boavista, onde cheguei à I Divisão com 25 anos, já um pouco tarde, é certo, mas naquela altura era muito difícil alguém chegar à I Divisão oriundo da periferia, porque o Alentejo é a periferia de Lisboa, onde nada acontece, não havia internet e as pessoas tinham de vir a Beja para nos observar, e isso era fastidioso e cansativo e ninguém estava para isso. Portanto, acabei por chegar ao Boavista, pela mão do João Alves, por lá permanecei durante cinco anos e devo estar entre os jogadores que mais jogos fez pelo clube”.

Grato ao futebol

Na profissão, que “agarrou com unhas e dentes”, reconhece que teve a ajuda de muita gente, entre eles, o Carlos Cardoso, treinador do Elvas, de seguida, o João Alves, que lhe abriu a porta da I Divisão e depois também, “tudo aquilo que me foi acontecendo ao longo da sua vida, ir para o Estrela da Amadora, onde também permaneci durante cinco anos, contribuindo também para alcançarmos o título de campeão da II Divisão de Honra, e depois acabando no Estoril Praia, com 36 anos de idade”.
Francisco Agatão queria terminar a carreira no Desportivo de Beja, mas recebe um convite, que o surpreende, quando o Carlos Manuel, que era o treinador do Estoril Praia, foi contactado para treinar o Salgueiros, na época seguinte, na temporada de 1985/1986, e convidou Francisco Agatão para ser o adjunto dele. “Este convite surpreendeu-me, porque o Carlos Manuel tinha sido o meu treinador durante aquela época e no final da mesma, achou que tinha condições para o acompanhar, naquilo que era o seu lançamento, enquanto treinador. Ano e meio, depois de estarmos no Salgueiros, fomos treinar o Sporting, mas infelizmente as coisas não aconteceram como esperávamos, mas não deixa de ser um marco importante na nossa vida, para além também, de todo o outro trabalho que foi feito, quer no Braga, no Campomaiorense, novamente no Salgueiros e tudo isso foi acontecendo de uma forma natural, pela qualidade de trabalho do Carlos Manuel, com a minha ajuda e com a colaboração do Jorge Madureira, no desempenho das funções”.
Nessa ligação como adjunto de Carlos Manuel, Francisco Agatão só teve uma premissa. “Disse-lhe, que se algum dia recebesse um convite para treinar um clube, onde só coubesse um, que não se importasse de não me poder levar, porque o futebol é feito dessas coisas. A partir daí trabalhamos durante oito anos juntos e estivemos afastados 12 anos, mas voltamos a trabalhar juntos no Irão, em 2015. A partir daqui, ele abandonou a profissão e retornei aos Açores para treinar o Praiense. Não posso deixar de lhe agradecer, o facto dele, me ter dado esta oportunidade e de ter trabalhado com ele, porque é uma figura ímpar no futebol português”.

Chega aos Açores no ano 2000

Francisco Agatão chega aos Açores no ano 2000, convidado para treinar o Santa Clara a meio de uma temporada. O Santa Clara tinha descido da I Divisão e o Manuel Fernandes tinha aceitado um convite para ir treinar o Sporting, indicando o nome do Carlos Manuel para ser o seu sucessor. Assim aconteceu, Francisco Agatão era o adjunto de Carlos Manuel no Santa Clara, que tinha como objectivo subir de divisão, meta esta alcançada com o título de campeão da II Divisão. A equipa técnica manteve-se na época seguinte com uma equipa de muita qualidade, mas as coisas não correram bem e acabaram por ser despedidos.
Segue-se uma nova ida para o Salgueiros, onde as coisas também não correram bem, numa altura em que o Salgueiros também já dava alguma incapacidade financeira em tudo o que envolvia o clube, mas em 2003, Francisco Agatão volta a receber um convite para regressar ao Santa Clara e para trabalhar com o Filipe Moreira e mais tarde com o José Morais, acabando por assumir as funções de técnico principal dos “encarnados” de Ponta Delgada durante meia volta, num período muito difícil, em que o CD Santa Clara passava por complicações de vária ordem, do ponto de vista financeiro também. As coisas estavam bem encaminhadas, mas na ponta final do campeonato complicaram-se, então a Direcção entendeu contratar Ricardo Formosinho, retornando Francisco Agatão para adjunto. No final dessa época não houve possibilidade para Francisco Agatão continuar e o treinador Mário Reis entendeu também, que não haveria possibilidade de Francisco Agatão fazer parte da equipa técnica, surgindo o convite do Operário, assumindo aqui o papel de treinador principal.

Sete anos e meio no Operário

Nos “fabris” disse ter tido a felicidade de encontrar um Presidente como o Gilberto Branquinho”, que fazia naquele clube aquilo que era a sua ideia também, “em termos familiares e daquilo que um clube também deve ter”. E no Operário esteve sete anos e meio, saindo apenas porque surgiu um convite para ir treinar para Angola, que do ponto de vista financeiro era uma mais-valia. Sai a meio da época de 2011/2012, mas depois em 2016 retorna novamente aos Açores e para o Praiense, onde permaneceu durante quatro anos, seguindo-se o Fontinhas, onde também esteve durante um ano.
Não podendo continuar nos Açores, porque era a sua vontade, ainda regressou a casa, mas acaba por aceitar um convite para treinar o Rabo de Peixe, onde as coisas não correram bem acabando por ser despedido. “Não guardo boas memórias, mas aceitei aquilo que foi a decisão das pessoas, porque foi o único clube que me despediu”, lamenta.
À pergunta, o homem faz o treinador e o treinador faz o homem, Francisco Agatão responde da seguinte forma: “Não se pode dissociar uma coisa da outra. Tu és um bom homem, tu és um bom treinador, garantidamente. Podes até não conseguir resultados, mas és um bom treinador. És sério, honesto, profissional, dedicas-te, fazes tudo para que as coisas corram de acordo com aquilo que é a tua ideia de jogo e com aquilo que é o trabalho efectivo para aquilo que tens de realizar dentro do campo para a melhoria das qualidades dos jogadores, que tens ao teu dispor, para poderes dotá-los de coisas, que eles não tinham. Eu prefiro, que me considerem um bom homem do que um bom treinador, porque para mim, o lado humano sobrepõe-se àquilo que é o lado profissional, mas se pudermos juntar as duas partes, acredito que seremos muito melhores”.
Em jeito despedida, Francisco Agatão disse sentir-se honrado por ter estado no futebol açoriano, durante muitos anos, numa Região, que considera também ser o seu cantinho.
O Programa Desporto Açores é da autoria de Pedro Drumond Sousa e transmitido através das plataformas digitais para diversas rádios da Região, para o território nacional e para a diáspora, nomeadamente Estados Unidos da América e Canadá.
Marco Sousa

Edit Template
Notícias Recentes
José Manuel Bolieiro volta a reafirmar “confiança no sector primário” e anuncia novos apoios à agricultura nos Açores
“A população está envelhecida e há falta demão-de-obra, mas criando mais oportunidades,muitos jovens iriam regressar à freguesia”
Fabiana Godoy apresenta formação “Educação através da música” na ilha de São Miguel
Manta Catalog Azores contribui para o estudo científico da jamanta chilena no mar dos Açores
Em dia de homenagem ao Padre Edmundo Pacheco: inolvidáveis memórias
Notícia Anterior
Proxima Notícia
Copyright 2023 Correio dos Açores