Estamos a comemorar os cem anos do falecimento do Doutor Joaquim Teófilo Fernandes Braga que assinava Theophilo Braga, nascido em Ponta Delgada, freguesia de S. José, em 24 de fevereiro de 1843. Faleceu em Lisboa a 28 de janeiro de 1924.
Por divergências com a sua família, segue para Coimbra, com apenas dezassete anos de idade, onde termina o ensino secundário no Liceu local e ingressa na Universidade de Coimbra, licenciando-se em Direito. Um aluno brilhante que se doutorou em 1868 defendendo a tese intitulada “História do Direito Português”.
Distinguiu-se como poeta, filólogo, político, sociólogo, filósofo e ensaísta português. A sua primeira grande obra no campo da poesia, “Folhas Verdes”, foi escrita com apenas quinze anos de idade, quando ainda era aluno do então Liceu de Ponta Delgada.
Fixou-se em Lisboa em 1868 exercendo a sua atividade como advogado, concorreu a lente da cadeira de Literatura Modernas do Curso Superior de Letras, cargo que ocupou até ao final da sua vida.
Sobre a sua obra, Ramalho Ortigão afirmava: “Teófilo Braga tem uma única paixão, a paixão prosélita da ciência. Não publica um volume por semana pela razão única de que não há prelos em Portugal que acompanhem a velocidade vertiginosa da sua pena”.
Apesar da sua ascendência aristocrata, adere aos ideais republicanos em1878, sendo um dos fundadores do Partido Republicano, membro muito ativo e de enorme valia, que o levou,na sequência da implantação da República a 5 de outubro de 1910, àPresidência do Governo Provisório da República Portuguesa. Nestas funções, foi, de facto, o Chefe de Estado já que o primeiro presidente da República, Manuel de Arriaga, só foi eleito em 24 de agosto de 1911.
No seu governo foram adotados os novos símbolos nacionais, a bandeira, o hino e aprovada a primeira constituição republicana, em agosto de 1911.
Foi eleito, pelo Congresso, em 29 de maio de 1915, Presidente da República, substituindo Manuel de Arriaga que tinha renunciado ao cargo.
Este grande Micaelense e Açoriano, Teófilo Braga, com apenas dezassete anos de idade, dispensa as ajudas familiares e parte convicto para Coimbra como objetivo de se formar em Teologia, acaba formado em Direito, trabalhando arduamente como tradutor, explicador, em publicação de artigos e poemas para financiar os seus estudos e sobreviver. Sobe na vida a pulso, sempre modesto e honesto!
É ele um dos obreiros da implantação da República ecriação das linhas mestras republicanas da nova vivência em Portugal!
Passou pelos mais altos cargos da Nação sempre com a mesma simplicidade que o caracterizou. Serviu o País e não se serviudo País, ia a pé ou de elétrico para a sede do governo, por vezes de boleia nos carros oficiais dos Ministros! Viveu sempre uma vida modesta e exemplar! O seu maiordesgosto foi ter perdido prematuramente os seus filhos e esposa!
Acabou por falecer sozinho, em casa, no seu gabinete de trabalho, aos oitenta anos de idade, na Travessa de Santa Gertrudes – 70, hoje rua Teófilo Braga, em Lisboa!
Contra a sua vontade, teve Honras de Panteão!
O que fez a sua terra natal por este enorme “vulto” da cultura e da política em Portugal, levando longe o nome dos Açores?
Atribuiu-lhe uma rua onde está situada a casa onde nasceu “rua Teófilo Braga”, ironicamente, mais conhecida por 1ª rua de Santa Clara. A placa toponímica existente no início da rua, a nascente, está colocada a cerca de seis metros de altura, a visibilidade não é a melhor, não lhe atribui a relevância que tem a rua!
Na casa onde nasceu Teófilo Braga, há uma placa de homenagem promovida pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, ao “Presidente do Governo Provisório da República” datada de 24-2-1911, nunca foi acrescentada ao “Presidente da República”, mais, esta placa está a cerca de seis metros de altura e desgastada pelo tempo tornando difícil a sua leitura e a dignidade que se pretende atribuir ao homenageado.
Junto ao forte de São Brás e no início da rua Teófilo Braga, há um modesto busto sob um pedestal em pedra em sua homenagem, também, promovida pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, repete-se o mesmo erro da placa em sua casa. Valendo, uma pequena, mas muito simbólica placa colocada pelo Presidente Mário Soares aquando da sua presidência aberta a esta ilha quando fez questão de o homenagear “Ao Presidente Teófilo Braga ao homem da cultura e ao grande republicano…”
Não será que este grande vulto da nossa cultura merecia uma estátua de corpo inteiro digna da sua pessoa e do que realizou em prol do país, da ilha de S. Miguel e dos Açores?
Tantos alunos lhe passaram pelas mãos, tantas escolas foram construídas na sua terra natal, nenhuma mereceu Teófilo Braga como patrono. Porquê?
Felizmente, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada está depositado grande parte do acervo e alguns bens pessoais do nosso Teófilo, mantidos em exposição visitável.
Recordando e homenageando o nosso passado estamos a construir o nosso futuro! Teófilo Braga merece mais e melhor, da sua terra natal!
Carlos A. C. César