Edit Template

Os desafios que se colocam à democracia

Contados todos os votos, indigitado o próximo primeiro-ministro e com o governo regional dos Açores com o programa aprovado, o país terá algum tempo para respirar das contendas eleitorais, pelo menos até às europeias de junho.
Um ato eleitoral que será diferente do habitual em circunstâncias semelhantes, com a possibilidade de novo reforço da direita radical, a acumulação de resultados negativos por parte dos socialistas, e a previsível capacidade de manutenção de uma situação ascendente por parte dos sociais-democratas. Com um candidato de enorme qualidade, os liberais também podem ambicionar com algum grau de certeza a possibilidade de obterem um mandato, num escrutínio em que o país é todo ele um grande círculo eleitoral.
Resultado das recentes legislativas nacionais, que levarão a primeiro-ministro o líder social-democrata, Luís Montenegro, sobra o enorme crescimento de André Ventura e do seu partido, consubstanciado em meia centena de deputados eleitos, numa casa que totaliza duzentos e trinta. A governação não será fácil para o governo que Montenegro levará a Marcelo, com o provável afastamento de Pedro Nuno Santos de qualquer apoio a prazo à manutenção da governação, afastamento este simétrico que tentará manter da direita radical. A única circunstância que poderá levar a legislatura a durar pelo menos dois anos, é o medo que todos deverão ter de novo ato eleitoral, e de qual será a palavra dos portugueses perante nova dissolução do parlamento.
São muitos os desafios que se colocam ao sistema democrático, quando o parlamento se encontra tão fragmentado, com uma terceira via radical, à direita, com tão grande peso. Não obstante as naturais leituras que se façam da contagem dos votos dos círculos da emigração, a realidade é que o povo português, todo ele, se mobilizou para votar como há muito não se via. E esse voto, acabou por ser dado ao partido de direita radical, estando profundamente disperso pelo país e, agora, pelas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.
O descrédito das elites políticas nacionais, o seu afastamento de quem teve de sair do país para encontrar uma vida melhor, a separação ainda maior de quem governa, dos seus concidadãos que saíram para o Brasil, para a Suíça ou Luxemburgo, são fatores que contribuíram, aos olhos da emigração, para o voto no terceiro partido, arredondando assim o score, tornando mais audível um certo grito de revolta que já se tinha feito ouvir muito alto ao fim da noite de dez de março.
E perante este grito, o que farão os responsáveis políticos? Apesar das suas várias tonalidades, a verdade é que a direita radical alastra pelos países europeus fora, agregando apoiantes, crescendo no eleitorado de todas as classes sociais e ameaçando, por enquanto apenas ao nível discursivo, as instituições democráticas saídas da construção social que substituiu a guerra entre os contendentes europeus.
No nosso país, não acontece nada de muito diferente. Os eleitores que tanto insuflaram estes partidos não querem implodir com o regime democrático e as suas instituições, querem antes depurar o sistema que conhecem, em abundantes casos, como imperfeito por opção de quem lidera, inconsequente perante as injustiças, fraco com os fortes e forte com os fracos, à merce de quem decide e pouco consequente para quem não tem nome, título ou riqueza. Daí se entende a tomada do Alentejo, a eleição nas duas regiões autónomas, a vitória no Algarve e o vendaval que veio dos círculos da emigração.
O governo dos Açores tomou posse, os diretores regionais estarão para ser nomeados, em muitos casos apenas pela sua devoção à causa partidária, com pouco para mostrar para além do currículo construído já em funções. O mesmo acontecerá a prazo com o executivo da República, esperando-se uma composição ministerial capaz de dialogar com todos, munida de experiência de vida, competência profissional e alguma experiência política, que não permita à direita radical dizer que afinal são sempre os mesmos, com isso encontrando mais eco nas casas dos portugueses. O mesmo deve acontecer com os secretários de Estado.
Com um governo melhor, com decisões melhores e com mais competência, poder-se-á encontrar o caminho que pare a ascensão dos extremos. Ou isso, ou podemos continuar a fazer como até aqui.

Fernando Marta

Edit Template
Notícias Recentes
Petição pela protecção e requalificação da Baía da Praia Formosa debatida em Comissão do Parlamento dos Açores com apelo à “união entre as entidades”
Governo diz que nunca se comprometeu com a fusão das escolas profissionais da Santa Casa, APRODAZ e da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada
GNR apreende mais de 8 kg de lapas apanhadas ilegalmente nas Flores
“O alcoolismo é uma das patologias que apresenta mais tendência para o suicídio nos Açores”,afirma o médico psiquiatra Luís Sá e Melo
Durão Barroso lembra que Francisco “teve uma mensagem que ultrapassou muito a dimensão dos católicos”
Notícia Anterior
Proxima Notícia
Copyright 2023 Correio dos Açores