O Atelier Liseta Câmara é responsável por produzir as Confecções Didamarry, na 1.ª Travessa do Conde Jácome Correia, na Ribeira Grande (Matriz).
No local, chegamos à fala com a responsável, proprietária do Atelier Liseta Câmara, que começou por revelar que Didamarry são as iniciais dos nomes dos seus três filhos: Diogo, Daniela e Maria. Liseta Câmara já é avó de um rapaz de 10 anos de idade.
Já trabalha no ramo há mais de três dezenas de anos. No espaço situado na 1.ª Travessa do Conde Jácome Correia já está há seis anos e anteriormente tinha estado, durante oito anos, na Rua Gonçalo Bezerra. A mudança tinha de acontecer, porque “agora o espaço é maior e assim consigo, do mesmo modo, expor os meus tecidos e confecções por mim produzidas”.
Ali faz-se de tudo um pouco, desde a confecção de roupas sob medida, entre eles, vestidos de noiva ou de comunhão, reparos e alterações, personalização ou adição criativa de detalhes às peças.
Posto de recolha
da Lavandaria Mr. Oger
Liseta Câmara é multifacetada com habilidade não só para costurar, mas também com a criatividade para produzir peças de vestuário únicas e personalizadas para os clientes.
No Atelier, a nossa entrevistada tem a vantagem de ter os seus próprios tecidos. “Escolhidos os tecidos e tiradas as medidas, a cliente não tem que se preocupar com mais nada”, relevou.
Liseta Câmara tem as suas habituais clientes, algumas delas de muitos anos, com a vantagem do Atelier Liseta Câmara também ser um posto de recolha da Lavandaria Mr. Oger. “As pessoas trazem os seus fatos ou vestidos de gala e deste modo não têm que se deslocar a Ponta Delgada, porque encarrega-se disso, sem acréscimo de qualquer custo”.
Questionada se os seus clientes são exigentes, responde da seguinte forma: “Alguns clientes são exigentes, mas sei lidar com eles. Alguns clientes estão abertos a conselhos e apreciam a orientação que recebem, mas outros, de início não estão dispostos a ouvir sugestões, mas acabam sempre por aceitar. Às vezes, ouvir atentamente e procurar entender as necessidades dos clientes pode ajudar a encontrar soluções satisfatórias”, acrescentou.
Clientes de todas as idades
Liseta Câmara tem clientes de todas as idades, algumas seniores e outras de vestidos de baptizados.
É preciso ter em conta, que a nossa interlocutora, de 55 anos de idade, trabalha sozinha e só tem a ajuda pontual de uma amiga, que ali vai sempre que pode.
Liseta Câmara é natural da freguesia da Ribeira Grande – Matriz, onde estudou também. A mãe, que era doméstica, tinha o sonho de um dia poder vir a ser costureira, mas nunca conseguiu ser, porque era filha única e teve de cuidar da sua mãe. “A minha mãe sempre disse, que a sua filha mais velha havia de ser costureira e assim foi. A minha mãe tirou-me da escola para que eu pudesse vir a ser costureira. Não foi fácil, mas ela cumpriu o seu sonho, através de mim”.
Daquele tempo só guarda boas recordações. “Julgamos que agora somos felizes, mas não. Não é por ter carro agora e mais alguma coisa, que somos mais felizes, não! Naquele tempo não havia telemóveis muito menos Internet. Antigamente, as pessoas costumavam conversar mais pessoalmente, compartilhando histórias, experiências e ideias, mas nada é como dantes”.
Com o avanço da tecnologia e a crescente dependência das redes sociais e mensagens digitais, muitas vezes perdemos a conexão cara a cara. Ainda assim, é importante lembrar que, mesmo num mundo cada vez mais virtual, a comunicação e a convivência continuam sendo essenciais para nossa saúde mental e bem-estar.
Outros tempos…
Liseta Câmara recorda ainda, que um dia o pai comprou uma máquina de lavar roupa, mas a mãe insistia em lavar roupa na pia, como sempre fez.
Liseta Câmara chegou a trabalhar em Ponta Delgada, nas Galerias Modelo, durante muitos anos.
Mais tarde, a sogra adoece e porque já não tinha quem pudesse cuidar da sua segunda filha, opta por começar a trabalhar em casa, levando consigo muitas clientes de Ponta Delgada.
Com os seus filhos já crescidos, passa a dedicar mais tempo àquilo que sempre soube fazer no mundo da costura. “Sinto orgulho em tudo o que faço. Faço o que faço com muito amor e dedicação. Ainda a semana passada uma madrinha queria uma gola grande e uma manga, mas não concordei com isso. A madrinha insistia, mas o irmão, que é designer acabou por concordar comigo. «Ou põe-se a manga e tira-se a gola, ou põe-se a gola e tira-se a manga. Ela optou pela gola e não pôs a manga».
Em termos de perspectivas para o futuro, anseia “poder continuar a ter saúde e trabalhar até poder. Estou bem aqui onde estou, na 1.ª Travessa do Conde Jácome Correia”.
O Atelier funciona todos os dias da semana das 10h00 às 19h00.
Marco Sousa