O empresário Tiago Alves, proprietário do ‘Chocolatinho’, afirmou que este é o primeiro ano pós-pandemia em que há uma recuperação nas vendas da empresa na época da Páscoa. Foram produzidas quatro toneladas de chocolate e a tendência são os ovos de brigadeiro recheados. Já a grande novidade são as amêndoas com “sabores mais ‘atrevidos’, aqueles que têm o cunho próprio do ‘Chocolatinho’ que é a introdução dos produtos dos Açores.” Nesta entrevista fala da nova fábrica, que já se encontra em andamento e tem abertura prevista para 2026. O projecto surge da necessidade de atender à demanda das grandes superfícies comerciais e, sobretudo, para fazer parte do “mercado da saudade”. Neste momento, está previsto um investimento de cerca de 1 milhão e 650 mil euros, mas ainda está em cima da mesa expandir esse valor com o apoio até 7 milhões de euros do Construir 2030. Em Julho deste ano vão lançar gelados exclusivos e com produtos regionais.
Correio dos Açores – Como está a correr a procura pelos seus produtos nesta época da Páscoa, em comparação com anos anteriores?
Tiago Alves (mestre chocolateiro e proprietário do ‘Chocolatinho’) – Este ano está a correr melhor em comparação aos anos de anteriores. A pandemia Covid-19 fez-nos passar por uma situação mais aterradora, pois foram três anos de quebra de vendas no período da Páscoa.
Esta semana foi a mais crítica porque temos mais produtos a sair diariamente. Mas, por norma, a Sexta-Feira e o Sábado são os dias mais fortes e só aí é que poderemos dizer qual foi o pique das vendas. Mas até agora e em comparação ao ano passado, já estão a sair muitos produtos da Páscoa. Inclusive as amêndoas e as drageias que são os novos produtos etêm tido uma boa afluência. Junto com isso também há as encomendas, que começam a sair Sexta-feira, dos ovos brigadeiros, ovos recheados que vão das 60 gramas a um quilo. Todos eles têm sabores conhecidos como Ferrero Rocher, Kinder Bueno, KitKat e Twix, por exemplo.
Pode dizer-se que este é o primeiro ano em que sentiu melhorias pós-covid no período da Páscoa?
Exacto. As coisas estão bem melhores porque, estando sedeados em Rabo de Peixe, fomos um pouco vítimas das cercas sanitárias que duraram 11 meses. Essa situação não nos permitiu manter os clientes ou mostrar produtos novos. Ou seja, fez com que a nossa empresa caísse um pouco no esquecimento e, apesar de ter feito imenso reforço nas redes sociais, é completamente diferente quando as pessoas vêem o produto presencialmente pois fica na memória o que querem adquirir.
Aqueles 11 meses foram terríveis. Quando recomeçamos em Fevereiro, já foi muito em cima da Páscoa e não houve tempo para muito. No ano seguinte (2023) foi um pouco melhor, mas não tão bom com aquilo que estávamos habituados. Este ano é que estamos a ver uma recuperação e já duplicamos a produção dos anos anteriores.
Por volta de quantas encomendas tiveram nesta época?
Tivemos mais de 200 encomendas, mas temos sempre as vendas em loja. Por exemplo no caso dos ovos recheados, 20 saem para encomendas e os outros 20 saem na vitrine. Mas, continuamos a produzir ao longo do dia para repor o stock à medida que os produtos vão saindo.
Há alguma tendência por determinados produtos?
A maior tendência desta época são os ovos recheados de meio quilo e de um quilo. O ovo tradicional não deixa de ser só chocolate, algo que as pessoas acabam por comer durante todo o ano e, nesse sentido, com o ovo recheado as pessoas conseguem ter uma sobremesa dedicada à Páscoa, mas também dedicada àquele produto que elas mais gostam: um produto típico, mas com um sabor mais recente. Para aqueles que gostam muito de Kinder Bueno, por exemplo, temos um ovo que leva camadas de brigadeiro de chocolate de leite, camadas de creme de Kinder Bueno e pedaços de Kinder Bueno por dentro.
Amêndoas são a aposta nesta Páscoa…
Este ano já produzimos mais de 700 quilos de amêndoas. As mais tradicionais são as de chocolate de leite, chocolate negro e chocolate branco. Mas, para além destes, temos os sabores mais “atrevidos”, aqueles que têm o cunho próprio do ‘Chocolatinho’ que é a incorporação dos produtos dos Açores. Portanto, temos amêndoas de ananás, maracujá, chá verde, chá verde e hortelã, chá preto, pimenta da terra, banana. E depois também temos caramelo salgado e avelã, limão galego, frutos vermelhos, frutos tropicais com manga ananás e papaia, por exemplo. Estas versões de sabores têm a opção de amêndoa, amendoim e avelã.
De que modo é que o ‘Chocolatinho’ se preparou para dar a resposta à procura da Páscoa?
Por norma não temos forma de nos preparar. Isto porque fazemos um pequeno stock de encomendas e com os produtos que podemos vir a vender, mas sempre aquém pois poderá não sair. Como houve quebras atrás, e aqui falo novamente da questão da pandemia, torna-se difícil fazer uma previsão. Por exemplo, os ovos brigadeiros de degustação são de 6, 5, 4 e 3 unidades em que as pessoas podem optar pelos sabores que mais gostam e fazer uma caixinha com até 20 ovos. Acontece que a maioria destas caixas já esgotou pois encomendamos o mínimo e já vendemos praticamente tudo.
Afirmou recentemente que pretende investir 7 milhões de euros numa fábrica. É um bom desafio…
Esta notícia foi um pouco desconfigurada na descrição. O que eu disse foi que nós estamos a concorrer ao programa Construir 2030 que tem um tecto de 7 milhões de euros. Também disse que nós já tínhamos em orçamento cerca de 650 mil euros para a construção da fábrica, um valor que eventualmente poderá atingir 1 milhão e 650 mil euros. Porque o preço da construção e da maquinaria está a subir e, como nós ainda não fechamos o projecto e as encomendas do material, ainda não conseguimos ter um valor final daquele que será o valor total.
Agora, o que acontece é que estes sete milhões do Construir 2030 permitem-nos ter alguma facilidade em corrigir os projectos e flexibilidade para inserir nova maquinaria e eventuais inovações nos nossos produtos.
Neste momento, estamos com alguns problemas a nível de arquitectura e engenharia industriais pois são serviços que normalmente não existem cá, e aqueles que existem, por norma, não têm muita disponibilidade. Mas, já temos planta, projecto, terreno e a maquinaria para a fábrica… Ou seja, já temos as coisas em andamento.
Quais são os principais objectivos que espera alcançar com a nova fábrica?
O principal objectivo da nossa fábrica é atender à demanda das grandes encomendas. Infelizmente, nós temos clientes de grandes infra-estruturas, ou seja, grandes retalhistas que nos fazem encomendas às quais nós não conseguimos dar resposta. Por exemplo, já tivemos uma cadeia de supermercados com cerca de 80 estabelecimentos que nos fez uma encomenda e não conseguimos atender. Não conseguimos dar resposta porque somos uma unidade pequena e temos poucas pessoas na produção. Mesmo que quiséssemos ter uma área de produção maior, nós não conseguimos fazê-lo porque a área onde estamos não o permite. Assim, o objectivo é passar para uma área industrial que nos permita esta expansão. O que é que nos vai dar? Poder dar resposta às encomendas dos grandes retalhistas e o grande objectivo que é o de salvaguardar a nossa presença no ‘mercado da saudade’. Tal como já existe nas compotas, chás, pimentas da terra, queijo, etc.
Ainda que tenhamos um produto mais recente, existimos há cerca de 12 anos e já temos um produto válido e exclusivo dos Açores. Portanto, o nosso objectivo é poder receber encomendas e poder tê-las nos Estados Unidos, Canadá, França, Bélgica… No fundo, poder ter oferta para os emigrantes portugueses, estar presentes no ‘mercado da saudade’ e no dia-a-dia dos nossos emigrantes.
Já há uma previsão da abertura da nova fábrica?
Temos a abertura prevista para 2026. Mas ainda não está nada definido. Vai depender, por exemplo, se é possível ter as coisas cá a tempo. E, como se sabe, estes processos nunca são tão lineares e uma coisa que está prevista para alguns meses pode, inclusive, levar mais de ano.
Ainda não sabemos bem em que moldes isto vai acontecer, mas a nossa nova unidade também integra outras duas ideias principais: poder chamar o turista para visitar a produção e investir na formação. Em termos de visitas à fábricas, não as queremos direccionar apenas ao turista, mas também a escolas profissionais e secundárias. Que é também uma forma de dar o exemplo. Quando comecei com esta ideia de empreendedorismo era muito jovem e hoje ainda sinto que há falta de incentivo aos jovens que se estão a formar. Há falta de exemplos e mentores para os jovens que se estão a formar.
A nova fábrica também poderá ser uma forma de incentivar e formar mais pessoas na arte chocolateira?
Sim. Na nossa Região, é extremamente difícil arranjar funcionários na área de restauração e cozinha. Sou a única pessoa formada em cozinha e pastelaria na minha fábrica. A nossa equipa já teve cerca de 30 funcionários e, neste momento, somos 19 e posso dizer que, para além de mim, nunca tivemos uma única pessoa da pastelaria ou da restauração.
Com uma unidade maior, pois teremos espaço para isso, a ideia também passa por começar a chamar formadores para dar formação aos nossos funcionários e, quem sabe, também apoiar a formação de novas turmas de pastelaria em junto das escolas.
Que outros projectos tem planeados?
Ainda este ano vamos lançar um novo produto: gelataria típica italiana com produtos dos Açores. Ou seja, vamos passar a ter gelataria artesanal com produtos dos Açores como o maracujá, o ananás, amoras e framboesas, por exemplo. Já temos gelataria, mas não exclusivamente nossa e agora investimos fortemente nesta vertente. Vamos ter gelados 100% originais do ‘Chocolatinho’. Também pretendemos lançar esta nova marca no mercado, pois a ideia também é colocar os gelados em estabelecimentos para que possam fazer revenda. São principalmente de sabores característicos dos Açores para vender em São Miguel e, quem sabe, também noutras ilhas. O lançamento está previsto para os finais de Junho ou início de Julho.
Daniela Canha