“Não quero seguir o BLW porque
tenho muito medo de que o meu
bebé se engasgue”
Então, começando pelo princípio, o que é isto do “BLW” e do método “tradicional”? Apesar de não haver uma definição e regras fixas para cada um destes métodos de introdução alimentar, de uma forma simplista associamos o método tradicional a um bebé que é alimentado pelos cuidadores alimentos em puré à colher, enquanto no método baby-led weaning (BLW) o bebé auto alimenta-se alimentos em pedaços com as mãos. Mas não tem que ser necessariamente assim!
Um bebé que siga um método BLW pode perfeitamente comer também purés, assim como um bebé que siga um método mais tradicional deve estar a comer de forma autónoma alimentos em pedaços pelos 10 meses, segundo as recomendações europeias e mundiais. Infelizmente, devido ao medo de que o bebé se engasgue, muitos cuidadores adiam a oferta de alimentos em pedaços e o treino da mastigação até o bebé ter dentes ou completar 1 ano, o que acaba muitas vezes por comprometer o desenvolvimento oro facial e da fala da criança e a aceitação de frutas e vegetais.
Ou seja, como costumo dizer aos meus pacientes, a chave está no equilíbrio e se de facto quisermos utilizar estes rótulos então, independentemente de como começam a introdução alimentar, a verdade é que por volta dos 9-10 meses todos os bebés deverão estar a aplicar o BLW.
“Como posso saber se é engasgo
ou apenas reflexo de GAG?”
É frequente os cuidadores classificarem como “engasgo” situações de reflexo de GAG naturais que sucedem muitas vezes quando o bebé come alimentos em pedaços. Contudo, este reflexo de vómito do bebé é involuntário, evolucionário e foi desenvolvido para proteger o bebé de uma situação de verdadeiro engasgo que possa resultar em asfixia.
O bebé faz esse reflexo de vómito para expelir um pedaço que tenha ido um bocadinho mais para trás (mas que ainda estava dentro da boca). Nesta situação os cuidadores não devem intervir, ficando apenas a vigiar o bebé. Não devem também colocar o dedo na boca do bebé para retirar o alimento porque correm o risco de o empurrar mais para trás e passar a engasgo. Mexer no bebé pode também assustá-lo e fazer com que aspire o pedaço de alimento, engasgando-se.
Um verdadeiro episódio de engasgo é absolutamente silencioso porque o pedaço de alimento está a bloquear a passagem de ar, e o bebé geralmente abre muito os olhos, abana a cabeça e os braços e começa a ficar azulado na zona dos lábios, não emitindo qualquer som. Nessa situação deve ligar para o 112 enquanto inicia de imediato a manobra de desengasgamento.
“Mas seguindo um método BLW, o risco de se engasgar é muito maior!”
Muitos pais e profissionais de saúde têm de facto esta crença – mas será que é mesmo assim? Podia trazer-vos exemplos de casos da minha prática clínica onde os bebés se auto alimentam e não se engasgam, apenas têm reflexos de GAG completamente expectáveis e positivos para o seu desenvolvimento. Mas como poderiam considerar esses dados enviesados, decidi trazer-vos um resumo daquilo que a evidência científica mais recente nos diz sobre este assunto.
Para a minha tese de mestrado realizei uma revisão sistemática onde analisei todos os estudos publicados entre 2010 e 2023 que compararam o risco de engasgo entre bebés que seguiram o método tradicional e aqueles que adotaram uma abordagem BLW.Resultado?
Além dos episódios de engasgo serem muito raros, nenhum estudo encontrou diferenças estatisticamente significativas no risco de engasgo entre os bebés que seguiram um métodotradicional ou BLW. Ou seja, o risco de engasgo não parece ser maior em bebés que seguem uma abordagem BLW. Pelo contrário, foi curioso verificar que em 5 estudos, embora a diferença não fosse estatisticamente significativa, os bebés que seguiram o método tradicional tiveram mais episódios de engasgo que os do grupo BLW. Isto levou-me a querer então perceber porque é que os bebés se engasgaram, independentemente do método que adotaram.
Com que alimentos em específico se engasgaram os bebés?
Os estudos encontraram como principais responsáveis pelos episódios de engasgo a fruta e vegetais crus e duros (ex.: cenoura, maçã) ou redondos inteiros (ex.: uvas). Além disso, alimentos escorregadios (ex.: melão, banana, abacate) e com pele (ex.: amoras, batata-doce) foram também apontados como responsáveis pelos episódios de engasgo. Os resultados de um estudo fazem-nos questionar ainda se, independentemente do método de introdução alimentar, os bebés se engasgam mais com texturas com as quais não estão tão familiarizados.
Conclusão?
Independentemente do método adotado, é muito importante que todos os pais saibam como modificar os alimentos para torná-los mais seguros. Por exemplo, ralando a maçã/cenoura crua, cozendo os alimentos até conseguirmos transformar em puré ao esmagar com o indicador contra o polegar, cortando a uva longitudinalmente em 4 semi luas, esmagando os mirtilos,etc.
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Lia Correia