Cinco açorianos – Filipe Costa, Hugo Félix, José Francisco Gamboa, Vítor Félix e Vítor Medeiros – começaram uma vida na Islândia, um país que conta com cerca de 380 mil habitantes, mais 144 mil habitantes que os Açores (236 mil habitantes). A primeira da série de cinco entrevistas ao jornal Correio dos Açores é a Vítor Félix, que explicou como surgiu a oportunidade de começar uma vida na Islândia, as dificuldades sentidas com a língua principal do país e quais são as maiores diferenças entre o arquipélago de origem e o país nórdico.
Correio dos Açores – Como surgiu esta ideia de começar uma vida na Islândia? Porquê esse país?
Vítor Félix (Funcionário de restauração) – A ideia de começar uma vida aqui na Islândia foi sugerida pelo meu irmão, quando durante uma noite, estava eu em Lisboa a trabalhar, e queria sair à noite. Mas estava sem dinheiro, então, liguei para o meu irmão a pedir 50€ emprestados. Ele disse-me que não precisava de pagar se prometesse ir para a Islândia trabalhar no futuro. E assim o fiz.
Nesse momento, eu só queria mesmo o dinheiro, mas como dois meses depois lembrei-me disso, fui para a Islândia sem conhecer nada, nem a língua que se falava, nem a moeda, nem o clima. Estava completamente às cegas. Mas tinha a certeza de que tinha lá o meu irmão, que me ajudou muito desde o princípio até ao momento em que estamos.
Qual tem sido o seu percurso na Islândia e qual a sua profissão actual? É diferente daquela que fazia nos Açores?
A minha profissão na Islândia é exactamente igual a que tinha em são Miguel: sou empregado de mesa. A única diferença é que em São Miguel trabalhava com os meus pais na nossa Pizzaria Porto das Baleias, na freguesia de São Vicente Ferreira, e na Islândia trabalho no Restaurante Caruso, que fica situado no centro de Reiquejavique.
Como tem sido a experiência? Quais foram as maiores dificuldades?
As maiores dificuldades que enfrentei foram mesmo o clima e a língua! Ao clima, depois de algum tempo o nosso corpo adapta-se e, também, nada que um bom casaco e umas boas luvas não resolvam. Agora, a língua é que no princípio estava mesmo às cegas. Mas como em tudo na vida, com esforço e dedicação só não aprendemos o que não queremos! Tanto que, hoje em dia, no meu trabalho, já tiro pedidos em islandês e tenho pequenas conversas em islandês, também.
A linguagem foi um entrave? Tem falado somente a língua inglesa? Adaptou-se bem à língua islandesa, até ao momento?
Na Islândia, eu falo por dia entre quatro a cinco línguas diferentes. Apesar de ter ido para a Islândia, o que não fazia a mínima ideia era que ia aprender espanhol ao mesmo tempo que aprendia o islandês, porque temos muitas pessoas da América Latina e mesmo Espanha, também. Então falo português, espanhol, islandês e, às vezes, francês, alemão e um bocadinho de italiano, devido aos turistas que vão comer ao restaurante… e até já aprendi algumas palavras também em mandarim.
Quais são as maiores diferenças e semelhanças entre a Islândia e a ilha de São Miguel?
Como digo sempre quando me perguntam de onde sou: a diferença entre os Açores e a Islândia é muito pouca. A única diferença é que na Islândia faz muito frio e tem neve, ao contrário dos Açores. Nós, também, temos as águas termais, muita natureza, cascatas, só nos faltava mesmo nos Açores os geysers, mas temos as fumarolas nas Furnas, que são muito parecidas.
Planeava sair dos Açores há muito tempo? Tem saudades da ilha de São Miguel?
Antes deir para a Islândia, eu já tinha saído dos Açores, estava em Lisboa a trabalhar, mas, infelizmente, o que ganhava não chegava para o que queria, então, decidi agarrar essa oportunidade que me foi dada pelo meu irmão.
Se sinto saudades, sim, sinto! Mas sinto mais necessidade de fazer algo melhor para o meu futuro, o que, infelizmente, em Portugal não digo que seja. Impossível não é, mas é muito difícil.
Visitou muitos países? Quais?
Desde que saí de Portugal já conheci alguns países. Já estive nos Países Baixos, nomeadamente Amesterdão e Roterdão; em Inglaterra, em Londres; em Espanha, em Alicante; em Itália, passei por Sardenha, e no Brasil, onde estive no Rio de Janeiro. Infelizmente, quando trabalhava em Portugal, nas minhas férias, só conseguia viajar dentro de Portugal, devido a pouco dinheiro.
O que diria às pessoas que planeiam viver no estrangeiro? Aconselha a Islândia? Porquê?
Eu aconselho, plenamente, às pessoas que gostavam de imigrar, pois o principal benefício vai ser financeiro. Na Islândia, pelo menos, estamos a ganhar mais entre o triplo e o quádruplo que em Portugal, mesmo trabalhando quase o mesmo. Mas digo que se em Portugal ganhasse o mesmo que agora ganho, nunca tinha saído, Apesar de nos abrir os horizontes e tudo mais, nada como estar na nossa casa com a nossa família.
Aproveito ainda para mandar um abraço a todos os meus amigos e familiares que já não os vejo há muito tempo.
Filipe Torres