Desde os escalões mais baixos que Natacha Candé tem evidenciado o grande talento que possui para a prática do atletismo. Os maiores feitos alcançados são na pista, quer ao ar livre quer no interior. À medida que a idade foi subindo, continuando com resultados no pódio, com recordes regionais e nacionais, os olhares começaram a concentrar-se na atleta natural da ilha de São Miguel.
Com 17 anos de idade, feitos há pouco tempo, Natacha foi no ano de 2023 campeã nacional de Sub-18 na difícil especialidade do heptatlo, que é a versão feminina do decatlo e considerada uma prova penosa demais para as mulheres. Disputam sete disciplinas em dois dias, sendo quatro no primeiro.
Além daquele título, foi campeã de Portugal no lançamento do peso, no salto em altura e nas provas combinadas (o decatlo e o heptatlo para o género feminino), sendo quinta classificada (melhor portuguesa) no Torneio Ibérico e oitava no heptatlo no European Youth Summer Olympic Festival, em Maribor, na Eslovénia, ambas representando Portugal.
Já nestes três meses de 2024, a atleta do Juventude Ilha Verde (JIV) conquistou com a camisola deste país a Taça Ibérica de provas combinadas em pista coberta, realizada há 15 dias em Ourense, Espanha. Natacha é a primeira atleta portuguesa de Sub 18 a ultrapassar a marca de 4 mil pontos no pentatlo, superando o recorde de Marisa Vaz de Carvalho, obtido em 2016.
Aquela marca sucedeu após ter sido campeã portuguesa de pentatlo, ganhando as cinco provas em que participou e batendo o recorde do campeonato nacional. Brilhou ainda na categoria acima, os Sub-20, com outra vitória e com recorde pessoal. Venceu novamente as cinco competições e ficando a apenas 8 pontos de igualar o recorde do campeonato.
Para fechar o percurso, na cidade de Pombal, em pista coberta, ganhou o Triatlo Jovem Nacional em representação dos Açores. Foi primeira nas três provas com a melhor marca de sempre ao somar 2 478 pontos.
ESTAS MARCAS e o olhar atento da Federação Portuguesa de Atletismo não podem ser descuradas e têm forçosamente de obedecer a um maior apoio.
No estágio desta semana no Pombal, com mais colegas da equipa e com os respectivos treinadores, o seleccionador nacional de provas combinadas esteve presente para acompanhar o trajecto de Natacha, o mesmo sucedendo com o seleccionador da marcha, porque há um jovem com potencial naquela disciplina.
Natacha, por não ter ficado no pódio em nenhum dos campeonatos europeus e por o Festival da Juventude Europeia não ser considerado como critério, está, agora, incluída no quadro de Jovem Talento Regional A, que passou, com a alteração legislativa, a ter dois níveis. É apoiada pela Direção Regional do Desporto, através do regulamento para a alta competição açoriana, em 2 600€, que se esgotam numa participação em provas internacionais fora os país. É o que acontecerá na ida às Canárias, acompanhada pelo treinador José Neves, que tem feito crescer muitos dos praticantes no atletismo de pista. Além das viagens, adicionando as dormidas e a alimentação durante os 4 ou 5 dias de permanência, a verba esgota-se.
Se pertencesse ao Alto Rendimento, onde estão atletas de modalidades não olímpicas e sem a exigência competitiva das provas combinadas, Natacha teria apoios da Região de 8 000€ se estivesse no nível C, de 12 mil no nível B (o que deve acontecer no final deste ano) e de 18 mil no nível A. A Federação Portuguesa de Atletismo contribui com 4 mil para os atletas que estão no Centro de Alto Rendimento, verba atribuída a Lourenço Rodrigues, o melhor do país em Sub 20 nos 3 000m metros obstáculos e no corta mato curto e outro produto do Juventude Ilha Verde.
SE PRETENDEM os decisores políticos, como se ouve com frequência, a excelência nos atletas açorianos reveladores de potencialidades que os podem catapultar para os Jogos Olímpicos, têm de estabelecer critérios fora do que está regulamentado. Natacha Candé é um talento que a Região não pode perder. Como aconteceu com o velocista terceirense Miguel Alves, que revelou capacidades inatas para ser dos melhores do país nos 200 metros livres. Ainda andou pelo clube de Ponta Delgada nas provas de clubes, esteve dois anos no Sporting, mas sem treinos acompanhados desmotivou. A grave lesão contraída num dos tendões e sem esperanças de um apoio diferenciado, desistiu.
Mas não basta a entrega de verbas superiores ao que recebe para Natacha poder estar mais vezes em provas internacionais sem ser através da sele,ção nacional. Há um outro tipo de apoio que está limitado. O ginásio que a direcção do clube, presidiado por Paulo Costa, eleito na Gala do Desporto do concelho de Ponta Delgada o dirigente do ano de 2023 pelo trabalho que tem desenvolvido com atletas locais, já é curto para as necessidades.
O AUMENTO DO GINÁSIO, instalado numas pontas a nascente da pista das Laranjeiras, já pedido por várias vezes ao Serviço do Desporto de São Miguel e que não avança pelo eterno problema da falta de verbas, é essencial para a preparação de Natacha e de outros valores que vão despontando.
A assistência médica não pode ser uma vez por semana. O clube não tem dinheiro para disponibilizar um técnico fisiatra mais dias. Tem de ser uma responsabilidade da Região.
A autarquia de Ponta Delgada, que no atletismo vem apoiando a Corrida de São Silvestre, tem de ser parceira de um clube que necessita de outro tipo de colaboração.
A secretária Regional da Educação, Cultura e Desporto ao apresentar como programa do Governo Regional a construção de um Centro de Alto Rendimento não deu conta, de que não bastam as estruturas físicas. Quando ainda há verbas por pagar desta época, erguer um Centro de Alto Rendimento, que seria uma ajuda importante para a valorização dos atletas e dos treinadores, não se prevê num horizonte a médio prazo.
ATLETAS ALEMÃES, em número de nove e acompanhados por dois treinadores, vão estar em Ponta Delgada de 2 a 11 de Abril para um estágio nas Laranjeiras com os atletas do JIV, por terem conhecimento da forma como se trabalha no clube.
Este é mais um exemplo do que pode ser aproveitado ao nível dos estágios de atletas estrangeiros.
NO DIA DA LIGA BPI de futebol feminino, que no início da semana teve lugar na Cidade do Futebol, em Oeiras, a Associação de Futebol de Ponta Delgada esteve representada pelas atletas Stela Borges e por Maria João Medeiros, que se fizeram acompanhar da directora Cláudia Albasini.
Foram cerca de 40 jogadoras dos escalões de Sub-15 e de Sub-17 das Associações regionais e distritais que participaram no Dia da Liga BPI, campeonato sénior feminino.
As atletas tiveram a oportunidade de conhecer percursos e boas práticas das atletas de elite, proporcionando-lhes motivação para continuarem no futebol.
As jovens atletas conviveram com três jogadoras seniores internacionais, apresentando diversas questões com que se defrontam diariamente.
Um bom passo para a promoção do futebol feminino, com as ilhas a não serem esquecidas.
José Silva