Para os cristãos, a festa da Páscoa não simboliza apenas a morte de Jesus que morreu para nossa redenção, mas a sua ressurreição, que constitui o fundamento de toda a nossa fé. Ela justifica a própria missão messiânica de Jesus Cristo e o anúncio do reino. Por isso, esta data histórica deve ser comemorada com a alegria, por nos sabermos que somos também portadores desta boa nova a todos, nos tempos de hoje.
Para o Papa Francisco com Jesus, o amor triunfou sobre o ódio, o bem sobre o mal, a verdade sobre a mentira, a vida sobre a morte. E diante de cada situação humana, marcada pela fragilidade, pelo pecado e pela morte, esta Boa Nova é um testemunho de amor gratuito e fiel. É sair de si mesmo para ir ao encontro do outro, é permanecer junto de quem a vida feriu, é partilhar com quem não tem o necessário, é ficar ao lado de quem está doente,é idoso ou excluído.
O mundo de hoje precisa tanto de paz, pois os erros, os atropelos à dignidade humana, a obstinação pelo poder e o terrorismo, são obstáculos à concórdia entre os homens neste tempo de crise avassaladora na terra em que Jesus nasceu, como na massacrada Ucrânia, para já não falar de tantos outros lugares do mundo que se vê a braços com conflitos armados, gerando fome e miséria.
Importa que o homem deste século XXI vença a chaga da fome, agravada pelos conflitos e por um desperdício imenso de que muitas vezes somos cúmplices. E que os torne capazes de proteger os indefesos, sobretudo as crianças, as mulheres e os idosos, por vezes objeto de exploração e de abandono.
No sentido Judaico, a Páscoa é a comemoração da saída do povo de Israel da escravidão do Egito, conduzido por Moisés e que atravessou o Mar Vermelho e alcançou a terra prometida em liberdade. Começa com a refeição, quando um cordeiro ou um cabrito inteiro era assado e comido pelos membros duma família com ervas e pães ázimos, em que o chefe da família contava a história da redenção do Egito.
No entanto, os cristãos passaram a celebrar o Domingo em vez do Sábado e como nos relata a Escritura Sagrada, Maria Madalena, considerada a primeira discípula de Jesus, com outras mulheres foram ao túmulo, logo pela manhã do primeiro dia da semana, ainda escuro e testemunharam a ressurreição de Cristo.
Na atualidade, a Páscoa, infelizmente, passou a ser vista como mais uma data para passar umas curtas férias, gozar o sol em sítios exóticos e para o comércio poder vender os ovos gigantes, como se a celebração desta grande festa se resumisse a uma simples troca de ovos de chocolates, bem como os tradicionais folares e as amêndoas requintadas mas que não servem para fortalecer a fé na crença na Ressurreição de Cristo.
Depois de quarenta dias de jejuns e penitências, o apelo do Sumo Pontífice nesta Páscoa vai no sentido de se encontrar uma solução para os migrantes refugiados, que deixaram as suas terras, em busca de lugares onde possam encontrar um futuro melhor, viver a própria vida com dignidade e, não raro, professar livremente a sua fé.
Só assim, a missão salvífica de Jesus tem sentido e os ensinamentos revolucionários que nos deixou são de vida, de solidariedade, de amor ao próximo e de paz entre os homens, cada vez mais claramente actuais, num mundo cheio de ódios, rancores e sem valores.
Por isso, a fé não poderá reduzir-se às paredes da Igreja, nem tão pouco na sacristia ou nos conventos, mas sobretudo nas casas, nas ruas, nos escritórios e nos campos, inclusive nos bancos e nos parlamentos.
É tempo de lembrarmo-nos das lições de Jesus, que na Quinta-feira Santa deu o exemplo ao lavar os pés aos discípulos.
António Pedro Costa