Um jovem de 18 anos, natural da freguesia da Candelária, começou ontem a ser julgado no Tribunal de Ponta Delgada por vários crimes contra pessoas e património. Os factos de que é acusado ocorreram entre o final de Setembro e Novembro do ano passado.
Furto da carrinha da
Filarmónica Lira Nossa
Senhora da Estrela
Na acusação consta um rol extenso de ocorrências que envolvem este arguido. O primeiro episódio terá ocorrido entre as 08h00 do dia 30 de Setembro e as 17h20 do dia 1 de Outubro, quando o homem, consumidor de drogas sintéticas, ter-se-á dirigido à sede da Filarmónica Lira Nossa Senhora da Estrela, na Candelária, com o propósito de se apoderar de bens que ali encontrasse.
Terá entrado duas vezes no local. Primeiramente, terá deixado a janela da casa-de-banho aberta, para que pudesse voltar depois. Momentos mais tarde, o arguido terá regressado ao local e ter-se-á dirigido à caixa registadora, onde se encontrava a chave do veículo da filarmónica. Alegadamente, apropriou-se da carrinha de nove lugares e conduziu até à Fajã de Baixo, onde terá dado boleia a um jovem. O veículo foi abandonado na estrada das Cumeeiras, nas Sete Cidades, tendo sido encontrado com alguns danos, entre os quais o pára-choques amolgado, o vidro triangular partido e a embraiagem inutilizada. De acordo com o Ministério Público, o suspeito sabia que não se encontrava legalmente habilitado para conduzir aquele veículo e que estava a agir contra a lei.
Após ouvir os factos sobre ele imputados, o arguido quis prestar declarações em Tribunal. Admitiu ter sido o autor material do furto da carrinha pertencente à filarmónica, mas referiu ter sido outra pessoa a entrar na sede da banda e a apoderar-se da chave. Disse, ainda, que furtou o veículo porque “precisava de boleia para a cidade (Ponta Delgada)”.
Furto de veículo automóvel
Outro incidente relatado terá ocorrido no início de Outubro. O arguido é acusado de ter partido o vidro de um veículo automóvel, conseguindo, assim, aceder ao seu interior. No porta-luvas terá encontrado a chave suplente e, fazendo uso desta, terá iniciado marcha, abandonando o veículo em Ponta Delgada. O jovem deu-se como culpado deste furto, no entanto, disse que a chave se encontrava junto à caixa de velocidades. Em sua defesa, afirmou estar sob o efeito de estupefacientes.
Tentativa de furto a unidade
hoteleira em Ponta Delgada
De acordo com a acusação, a 16 de Outubro, pelas 03h45, o jovem ter-se-á dirigido a uma unidade hoteleira em Ponta Delgada com o propósito de subtrair dali os valores que pudesse encontrar. Descalço, terá forçado a entrada, encontrando primeiramente uma caixa registadora vazia. De seguida, ter-se-á dirigido à zona da restauração e ao backoffice, onde terá sido surpreendido pelos funcionários. Acerca deste incidente, o jovem afirmou que apenas “queria comida” e que estava a colocar “um Compal e uns bolos” dentro de um saco, quando apareceu o funcionário do hotel.
Agressões e ameaças aos
progenitores e ao irmão
Dois dias antes, a 14 de Outubro, após as 17h00, o acusado, ao chegar a casa dos progenitores, terá encontrado a porta do seu quarto de cama destrancada e o quarto revirado. Depois de apurar que o seu progenitor se encontrava na filarmónica, terá aparecido no local “descalço, ensanguentado e com uma ferida nas costas.”
Foi relatado que, por mais do que uma vez, em datas não apuradas, devido ao consumo de estupefacientes, o arguido ter-se-á tentado suicidar, tomando comprimidos prescrevidos à sua progenitora. Numa dessas ocasiões, o pai do jovem tê-lo-á levado ao hospital porque “ele estava a cambalear.”
O arguido terá inclusive tentado enfiar uma tesoura no seu próprio corpo e, quando o seu progenitor tentava retirar-lhe o objecto, tentou encostá-lo ao peito do pai. De seguida, o acusado terá pegado numa faca de cozinha e saído de casa, tendo sido um vizinho a retirar-lhe o objecto cortante.
Segundo avança a acusação, a 24 de Outubro, terá exigido que a mãe lhe desse dinheiro, mas foi-lhe negado. Frustrado com a recusa, o jovem terá desferido um soco no veículo automóvel e, no seguimento, terá desferido outro soco na face do pai e um pontapé na coxa direita. Por sua vez, terá apertado o pescoço e o pulso da mãe e terá ainda agredido o irmão mais novo, que terá intervindo para socorrer os pais, com um soco na face e apertando-lhe o pescoço.
A 5 de Novembro, ter-se-á apoderado do telemóvel da progenitora e, quando o pai interveio para recuperá-lo, ter-lhe-á desferido um soco. No dia seguinte, pelas 19h00, ter-se-á dirigido à mãe aos gritos, exigindo que lhe desse dinheiro, insultando-a e proferindo ameaças de morte. Munindo-se de uma tesoura de cozinha, o acusado ter-se-á dirigido à sua progenitora, que terá escapado para o exterior. Após o pai ter conseguido retirar-lhe o objecto, o arguido terá “revirado a mesa da cozinha.” Entretanto, a progenitora terá regressado do exterior e o acusado tê-la-á perseguido com uma fruteira.
A 7 de Novembro, o acusado alegadamente aproveitou a saída dos progenitores de casa, para encher e amarrar chouriços, para subtrair do casaco do pai a chave do quarto de cama e retirar a quantia de 320 euros dos envelopes que lá estavam. É referido que no total estariam 1.920 euros. De seguida, ter-se-á dirigido a um café da freguesia e pago bebidas a toda a gente, no valor de 20 euros.
Ao dar conta do montante em falta, o progenitor ter-se-á dirigido ao café para recuperar o dinheiro. O arguido terá exigido que o pai lhe desse 200 dos 300 euros que tinha retirado e, perante a recusa, terá dado uma dentada no progenitor. No dia a seguir, a 8 de Novembro, antes das 10h00, terá dito aos pais e irmão que queria “partir tudo em casa.”
Sobre estes factos, o jovem afirmou não se recordar de muitos eventos, por estar sob o efeito de drogas sintéticas. Adiantou que consumia dois a três pacotes por dia.
Atendendo aos factos, o Ministério Público referiu que a progenitora se encontra numa situação de grande desgaste psicológico. Antes de o arguido ser detido, o irmão faltava às aulas, prejudicando o seu aproveitamento escolar, e os pais e irmão dormiam com as portas do quarto trancadas, com medo do jovem. Além disso, é referido que a mãe, quando saía de casa, levava o dinheiro e os ouros com receio que o arguido os subtraísse.
Furto de 375 euros a residência
Ainda em Novembro, o arguido ter-se-á dirigido a uma residência e pedido ao ofendido para utilizar a casa-de-banho, altura em que terá aproveitado para deixar a janela aberta, com o intuito de regressar. Alegadamente, quando o ofendido saiu para o trabalho, o arguido voltou a entrar, apoderando-se de 375 euros que estariam dentro de uma gaveta, no quarto de cama da vítima. O jovem explicou que conhecia o ofendido e a casa, e confessou saber que aquela janela não fechava. Contudo, negou ter-se apropriado dos 375 euros, garantindo apenas ter levado “cinco euros e tal em moedas de cinquenta cêntimos e em pretos”.
Actualmente, o arguido encontra-se detido no Estabelecimento Prisional de Ponta Delgada, onde aguarda o desfecho do julgamento.
Carlota Pimentel