Numa altura em que a desinformação se afirma como um dos grandes desafios da actualidade, há cada vez mais profissionais de saúde a recorrer às redes sociais para partilhar informação fidedigna e prestar apoio à comunidade. É o caso da página ‘Parentalizando’ que foi criada no início deste ano por duas enfermeiras de São Miguel. Mariana Moura e Inês Raposo querem dar apoio aos pais da Região com a partilha de informações que vão desde o período pré-concepcional ao puerpério.
Correio dos Açores – Como surgiu a ideia para o projecto ‘Parentalizando’?
Mariana Moura e Inês Raposo (enfermeiras) – O nosso projecto “Parentalizando” surge de um sonho de proporcionar informação e apoio, com base em evidência científica, aos pais no seu exercício de parentalidade, tornando toda esta vivência significativa para a tríade pais/recém-nascido.
Nesta página abordamos diversos temas: desde o período pré-concepcional ao puerpério, de modo a aumentar a literacia em saúde e, consequentemente, o empoderamento dos pais. A nossa equipa é composta pela Inês, enfermeira generalista a exercer na área de saúde materna e obstetrícia, e pela Mariana, enfermeira especialista em saúde materna e obstetrícia a exercer também na respectiva área.
Somos duas enfermeiras apaixonadas pela parentalidade e foi por isso que surgiu o nome da nossa página, em homenagem a este amor que temos por esta transição, que é um processo contínuo, onde existem desafios e aprendizagens, e que se inicia quando dois pais pensam engravidar.
Detectaram alguma necessidade específica na região que motivou o projecto?
Cada vez mais, as famílias procuram tomar decisões informadas no que toca ao desempenho do seu papel de mãe/pai, para isso procuram apoio para receber informação fidedigna. A gravidez é um período em que os pais procuram muita informação sobre temas como a própria gravidez, o pós-parto, a amamentação, os cuidados ao recém-nascido, sendo, por isso, de extrema importância existirem projectos que possam colmatar estas necessidades.
Também, na nossa prática clínica diária, apercebemo-nos de diversos pais que referem insegurança aquando da alta do serviço de puerpério. Sendo esta uma altura de grande vulnerabilidade face todos os desafios, torna-se essencial tornar estes pais empoderados no seu exercício do papel, oferecendo informação e apoio em temas como o pós-parto, as técnicas de conforto ao recém-nascido e, sem dúvida, o apoio na amamentação.
É de ressalvar, também, a importância de envolver o pai em todo o processo de cuidados e inclui-lo nos ensinos que são realizados.
Quais são os principais objectivos do “Parentalizando”? De que forma pretendem ajudar as famílias a superar os desafios da parentalidade?
Os principais objectivos do “Parentalizando” passam por dar resposta a todas a necessidades sentidas pelos intervenientes da tríade. O fornecimento de informação e respectivas intervenções actualizadas, com base em evidência científica, promovendo a literacia em saúde e consequente empoderamento dos pais.
A colaboração com outros profissionais de saúde é de extrema relevância pois, assim, poderemos ajudar estas famílias ao abordar diagnósticos médicos, acompanhamento psicológico, acompanhamento legal e acompanhamento fisioterapêutico, expondo assim diversos recursos importantes nesta área que também é multidisciplinar. Assim, os pais conseguiram tirar partido de toda a informação disponibilizada e utiliza-la para sua benesse.
Quais são as dúvidas e preocupações mais frequentes dos pais açorianos?
Sem dúvida que o tema que suscita mais preocupação por parte dos pais é a amamentação, mas também temos relatos de preocupações com a gestão de sintomas na gravidez, no puerpério e lidar com o choro do recém-nascido e técnicas e conforto ao mesmo.
Existem alguns mitos ou desinformação em relação à Saúde Materna e Obstetrícia queriam desmistificar?
Existem mitos e desinformação que estão enraizados na população açoriana de forma geral. Infelizmente estão presentes de forma transversal e vão desde a gravidez aos cuidados puerperais e com o recém-nascido, muito associados também à amamentação. O período do pós-parto é ainda desvalorizado e não são prestados os devidos apoios à família e mulher, que está a vivenciar diversas alterações corporais e emocionais, necessitando de um carinho e atenção especiais. Podemos destacar todos os mitos existentes associados à vivência do pós-parto, que nem sempre pode ser fácil e que é necessário existir, por isso, uma preparação para este e desconstrução de ideias pré-concebidas. Também diversos mitos associados à amamentação, que desencorajam os pais a investir na mesma, que tem de ser desconstruídos com informação actualizada.
Como asseguram a actualidade e credibili-dade das informações que disponibilizam?
Toda a informação que disponibilizamos na nossa página tem por base a evidência científica mais recente. Para isso, estamos em constante actualização e estudo de forma a oferecer informação fidedigna uma vez que existem contínuas actualizações dos conhecimento teórico-práticos.
As aulas de yoga para grávidas são um dos recursos que disponibilizam. Como funciona e quais são benefícios desta prática durante a gestação?
A prática de yoga na gravidez é uma ferramenta muito útil uma vez que apresenta diversos benefícios, tais como a promoção do relaxamento e bem-estar, a redução do stress, familiarização com técnicas de respiração, o fortalecimento do sistema músculo-esquelético, a redução de alguns desconfortos associados à gravidez e ainda a preparação para o parto.
São diversos os estudos científicos que enumeram as vantagens da prática de yoga para a saúde física e mental da grávida. As aulas decorrem às quartas feiras, às 10h00, no espaço Physis. A metodologia utilizada é em grupo de forma a promover a partilha de experiências e vivências de todo o processo de gravidez e o apoio entre as grávidas.
Quais são as maiores dificuldades que os pais enfrentam no pós-parto?
Pelo que percepcionamos, as maiores dificuldades passam pela aplicação prática do conhecimento transmitido aquando da estádia na maternidade, sem supervisão de profissionais de saúde da área. Queremos intervir como meio facilitador na transição entre a alta hospitalar e o estabelecimento dos conhecimentos práticos no domicílio.
Como tem sido a receptividade do público?
O feedback por parte dos nossos seguidores tem sido muito positivo, os pais têm interagido através de mensagens directas para esclarecimento de dúvidas que vão desde cuidados puerperais, cuidados ao recém-nascido e dúvidas acerca da amamentação. Temos tido também muita adesão por parte das grávidas e companheiros, que vão partilhando alguns desconfortos inerentes à gravidez e dúvidas em relação à elaboração de planos de nascimento de forma a puderem experienciar um parto como desejam atendendo aos riscos associados do mesmo. Enquanto equipa, consideramos que estamos a conseguir gerir e colmatar as dificuldades e necessidades que nos são apresentadas e isso deixa-nos muito felizes.
Quais são os próximos passos para a “Parentalizando”?
Para o futuro, fica o nosso compromisso de continuar a desenvolver conteúdos e transmiti-los através da nossa página e também apoiar os pais nesta transição com o desenvolvimento das nossas visitas ao domicílio. Estas visitas tem o objectivo de ajudar os pais a adoptar estratégias e técnicas de conforto ao recém-nascido, os diversos cuidados ao recém-nascido e apoiar a amamentação. Consideramos assim que seremos importantes veículos de superação de medos que surgem quando os pais vão para casa sem qualquer apoio. Brevemente, iremos apresentar este serviço na nossa página. Acreditamos que, mudando a forma como se nasce e cresce, podemos fazer a diferença no futuro.
Daniela Canha
