Ultrapassados os resultados eleitorais, é tempo de voltar a equacionar os verdadeiros problemas da Região. Como foi muito claro, e era expectável, ninguém do espectro partidário manifestou qualquer interesse em discutir a nossa situação financeira durante as eleições regionais, que acabaram de se realizar. Embora seja esse um dos nossos principais problemas, senão o principal, com que nos defrontamos, é necessário que as instituições políticas e sociais se pronunciem afinal sobre as soluções concretas que preconizam.
Outro ainda, que se tem vindo a agravar desde 1966, ano em que passámos de uma demografia saudável para um decréscimo populacional permanente e preocupante, e que tem agora sido finalmente objeto de análise neste novo século, diz respeito às novas alterações sociais no espaço rural e urbano que nos eram desconhecidas. De facto, com a generalização da proximidade do ensino universitário nas ilhas da região, as áreas envolventes na Terceira e em S. Miguel, tornaram-se atrativas para a compra de apartamentos nestas duas ilhas de forma a garantir uma acomodação confortável para os jovens, sobretudo os residentes nas pequenas ilhas, bem como para aqueles com origem em algumas áreas como o Nordeste e a Povoação, na Ilha de S. Miguel.
Por outro lado, a ligação á terra, pelo gradual desaparecimento da economia de subsistência que outrora existia, está a fazer desaparecer as amarras familiares às áreas rurais, e com a fixação dos novos quadros superiores pelos centros urbanos, os avós, vêem-se agora atraídos pelos filhos e pelos netos, e começam a vir a mudar a residência para as cidades insulares, abandonando cada vez mais e de forma definitiva, as freguesias de origem.
Ao mesmo tempo, a terceira idade tem hoje uma necessidade periódica e regular de aceder aos centros de saúde e à proximidade dos filhos. Daí que a saída e o abandono dessas áreas, cortada a ligação familiar à terra, está lentamente e progressivamente a esvaziar as nossas freguesias e não só nas pequenas ilhas.
Os números do INE estão aí e são conclusivos. Por outro lado, estamos a receber cada vez mais estrangeiros, embora na maioria como uma filosofia de vida alternativa, pouco recetivos a abrir novos negócios e que vêm simplesmente para descansar. Ou seja, não é de esperar, infelizmente, que lancem projetos sustentáveis para uma vida futura, com plena integração na nossa pequena sociedade.
Este fenómeno, que é novo, vai ter consequências decisivas nos próximos anos, e era bom que este alerta não venha a cair, mais uma vez, em saco roto. Dos contatos regulares que tenho com as nossas pequenas ilhas, assiste -se também ao fecho de pequenos negócios por falta de continuidade geracional. Os filhos, quer pelo casamento, quer por uma nova vida futura, não pretendem regressar às suas freguesias, não restando, a muitos desses negócios, senão o encerramento. Os próximos vinte anos vão, pois, provocar uma alteração profunda na demografia das nossas ilhas, e é preciso precaver a aceleração deste fenómeno.
Tal como o incitamento à natalidade, que pode ser realizado pelo aumento do abono de família, e que se torna indispensável à falta da existência de outro melhor, também aqui é preciso equacionar novas soluções. O apoio médico às freguesias pode também ser decisivo, pois temos de evitar a saída das populações criando condições de segurança na área da saúde ás velhas gerações, uma vez que a região está mudar e nós temos de acompanhar positivamente e rapidamente essa evolução.
Fajã de Baixo, 3 de abril de 2024