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Carlos Ponte defende que é preciso dotar o SRS de mais recursos humanos, dignificar a carreira médica e melhorar instalações e equipamentos

Nesta entrevista, Carlos Ponte, médico e Presidente do Conselho Médico dos Açores, defende que é necessário dotar o Serviço Regional de Saúde de mais recursos humanos e aponta a Medicina Geral e Familiar, bem como as especialidades de Oftalmologia, Neurologia, Neurocirurgia, Urologia, Dermatologia e Medicina Interna como as áreas que apresentam mais carência de profissionais de Saúde na Região. De acordo com o ginecologista, “os incentivos já disponibilizados para a fixação de médicos à Região não são ainda suficientes para colmatar as carências existentes e que tendem a agravar-se”. No seu entender, é “preciso também dignificar a carreira médica, bem como melhorar as condições de trabalho, de instalações e equipamentos.” Para que a saúde seja mais célere no atendimento às necessidades dos utentes, o médico aponta como solução as parcerias público-privadas.

Correio dos Açores – Vai celebrar-se mais um Dia Mundial da Saúde numa altura em que continua a haver quem não consegue aceder a cuidados mínimos de saúde. Com a experiência que lhe advém da função médica que desempenha, que retrato geral pode fazer relativamente aos avanços da medicina e também aos países em que escasseia o acesso à medicina?
Carlos Ponte (Presidente do Conselho Médico da Região Autónoma dos Açores) – Como médico há mais de 40 anos, posso testemunhar os avanços importantíssimos da medicina, desde as descobertas científicas, que permitem diagnósticos mais precoces e tratamentos mais céleres e eficazes, aos avanços tecnológicos que contribuem, decisivamente, para a saúde e bem-estar das populações, justificando o aumento da esperança média de vida em geral.
Gostaria de destacar os avanços na genética, terapias, novos medicamentos, dispositivos médicos e técnicas cirúrgicas que têm melhorado os resultados dos pacientes e outras opções de tratamento.
Ainda os avanços na telemedicina e na saúde digital, permitindo tornar os cuidados de saúde mais acessíveis, especialmente em países ou regiões menos desenvolvidos com carência de estruturas, equipamentos e recursos humanos como é o caso, também, da nossa realidade nos Açores.
Apesar do desenvolvimento da medicina, o acesso à saúde, infelizmente, continua a ser um desafio em muitas partes do mundo, especialmente em países em desenvolvimento e regiões particularmente carenciadas, devido às condições socioeconómicas, religiosas, políticas e até geográficas.

Na sua opinião, o que é possível fazer-se para melhorar, nesses países, as condições de salubridade e aumentar a qualidade de vida?
Esta é uma questão muito complexa, porque requer um compromisso global com a equidade na saúde e investimentos em infra-estruturas, recursos humanos, educação e políticas que promovam o acesso universal aos cuidados de saúde.

E como define, nos Açores, o Serviço Regional de Saúde (SRS)?
Em meu entender, o SRS tem acompanhado a evolução da medicina, com atraso, relativamente aos meios mais desenvolvidos e com mais recursos económicos e humanos. Também o sermos uma região ultraperiférica e um arquipélago com nove ilhas, são factores condicionantes e limitativos para o desenvolvimento que se pretende na melhoraria da equidade e da qualidade da medicina na nossa Região.
Muito há ainda a fazer… A saúde e a qualidade de vida dos açorianos têm de ser sempre a prioridade dos governos, apostando mais na prevenção para um sistema de saúde mais sustentável.

Como tem sido a sua experiência enquanto responsável da Ordem dos Médicos nos Açores, considerando os desafios que permanentemente existem no Sistema Regional de Saúde da Região?

A minha experiência ainda está numa fase embrionária. Tomei pose há apenas um ano, mas devo registar que é um grande desafio e um trabalho de equipa, em que todos contribuem com o seu know how e diferentes experiências e em diferentes ilhas, para o desenvolvimento do nosso projecto que tem por objectivo contribuir para a promoção da qualidade do exercício da medicina e das políticas de saúde na Região e da sua humanização.
Posso adiantar que, com diálogo e interacção com as diferentes instituições – Secretaria Regional da Saúde, sindicatos, entre outros –, bem como com as visitas presenciais, que já iniciamos, às Unidades de Saúde, estamos no bom caminho para conjugar e potenciar esforços em defesa da dignidade e segurança dos pacientes e dos profissionais de saúde.

Quais são as áreas que apresentam mais carência de profissionais de Saúde nos Açores?
Começo por referir que há ainda carência na especialidade da Medicina Geral e Familiar, contributo essencial para a melhoria dos cuidados de saúde primários e a sua posterior articulação com os hospitais da Região.
Nas unidades hospitalares, carências mais gritantes nas especialidades, nomeadamente, Oftalmologia, Neurologia, Neurocirurgia, Urologia, Dermatologia, Medicina Interna, além de outras que apresentam grande parte dos seus recursos humanos com idade próxima da reforma.

No seu entender, que medidas devem ser tomadas na Região para ultrapassar as lacunas existentes?
Em primeiro lugar, dotar o Serviço Regional de Saúde de mais recursos humanos. Os incentivos já disponibilizados para a fixação de médicos à Região não são ainda suficientes para colmatar as carências existentes e que tendem a agravar-se.
É preciso também dignificar a carreira médica bem como melhorar as condições de trabalho, de instalações e equipamentos.

De que forma se pode tornar a Região mais atractiva para a fixação de médicos?
Entre outras soluções já descritas, destaco a importância de criar uma vinculação à Região, por períodos de três a cinco anos, a todos os médicos a quem a Região proporciona a sua formação/especialidade.

Há falta de determinados equipamentos para tratamentos nos hospitais públicos da Região? Considera que é preciso mais investimento por parte dos governos neste domínio?
Sim. Há falta de equipamentos e muitos estão obsoletos e com falta de manutenção. É fulcral e exige-se mais investimento, por parte das entidades responsáveis, aproveitando todos os recursos possíveis, incluindo a oportunidade dos financiamentos europeus.

Qual a sua opinião acerca do uso da telemedicina? Quais são os seus benefícios e desafios, especialmente numa região arquipelágica como os Açores?
Considero a telemedicina um dos mais importantes avanços da medicina e de enorme importância para regiões ultraperiféricas e arquipelágica como a nossa.
É fundamental para a equidade da saúde na Região que se invista mais nesta nova e valiosa ferramenta que permite, à distância, o acesso aos cuidados de saúde, melhora a eficiência dos sistemas de saúde e possibilita uma melhor prestação de cuidados aos pacientes, independentemente de sua localização geográfica, evitando muitas deslocações quer interilhas, quer para o continente.

Como médico e Presidente do Conselho Médico da Região Autónoma dos Açores, que perspectivas tem para o futuro da Saúde nos Açores, quando é um sector que tem custos elevados e insuficiências que precisam ser superadas?
Este Conselho Médico está disponível para, junto do Governo Regional e das outras Instituições do SRS, ser parte das soluções para o futuro da Saúde dos Açores.
Com a recente tomada de posse do XIV Governo, a nossa equipa em particular e os profissionais de saúde em geral, esperam que o novo Plano Regional de Saúde 2030 apresente e concretize as soluções e os investimentos necessários às reivindicações imprescindíveis ao sector a bem da saúde e qualidade de vida dos açorianos.

Que medidas entendem necessárias para que a saúde seja célere no atendimento aos utentes?
Defendemos e vemos como solução, para que a saúde seja mais célere no atendimento às necessidades dos utentes, as parcerias público-privadas.

Que mensagem pode transmitir neste Dia Mundial da Saúde a quem aguarda na Região aguarda por tratamento, assim como aos doentes que se encontram internados em cuidados continuados?
Neste Dia Mundial da Saúde, quero de enviar uma mensagem de solidariedade a todos aqueles que aguardam por tratamento na Região e aos pacientes que se encontram internados em cuidados continuados, dizer-lhes que não estão sozinhos. Apesar das dificuldades e carências no Sistema Regional de Saúde, os profissionais que trabalham na Região conseguem superar muitos dos obstáculos, com a sua dedicação e resiliência, permitindo cuidados de saúde de qualidade e compromisso com o bem-estar dos pacientes.

Carlota Pimentel
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