Depois de 38 anos emigrada, Maria Manuela regressa aos Açores em 2021 para abrir um alojamento local e foi aí que recebeu que a suas queijadas, com receita original criada nos Estados Unidos, sabiam melhor com os ingredientes dos Açores – Deu-lhes o nome de “queijadas da algarvia” em homenagem à Vila do Nordeste. Quanto ao alojamento local, explica que este ano já viu melhorias, mas também afirma que “o nosso Inverno não é rigoroso e por isso temos de investir mais na oferta para o turismo de época baixa”.
Correio dos Açores: Actualmente é proprietária do alojamento local Casa Baleia à Vista Algarvia” e criou as ‘Queijadas da Algarvia’. Pode contar-nos como surgiu a ideia?
Maria Manuela Branco Guimarães Teixeira (proprietária da Casa Baleia à Vista Algarvia) – Isto surgiu da minha paixão de longa data pela cozinha e sempre tive o sonho de abrir um restaurante. Estive emigrada nos Estados Unidos durante 38 anos, mas só consegui ir para a escola de culinária em 2013, na Carolina do Norte. No final deste curso, tínhamos de criar um portfólio com receitas originais e as queijadas surgiram nessa altura, mas ainda não tinham nome. Há três anos, quando regressei para fazer o alojamento na Algarvia é que decidi dar-lhes o nome de ‘Queijadas da Algarvia’ pois gosto muito desta zona do concelho do Nordeste. Sou natural de Ponta Delgada, mas depois de 38 anos de uma vida muito agitada na América, o conselho do Nordeste dá-nos a paz que precisamos.
E o que é que torna as suas queijadas únicas em relação a outras queijadas tradicionais?
As minhas queijadas têm uma característica única: uma duração longa. Ou seja, são queijadas que quanto mais tempo têm, melhor ficam. E, como não havia nada igual no mercado, resolvi registrar a marca. As pessoas gostam muito. Os ingredientes são todos à base de produtos regionais, desde a farinha, o açúcar, os ovos e a manteiga. Quando fiz as queijadas fiz com os produtos regionais, percebi que tinham um sabor melhor do que quando as fazia na América.
Os hóspedes da Casa Baleia à Vista têm a oportunidade de experimentar as queijadas exclusivas durante a sua estadia?
Os hospedes da Casa da Baleia à Vista têm muita sorte porque quando ficam aqui podem provar as queijadas. Temos um sistema de Bed and Breakfast e, portanto, a estadia inclui o pequeno-almoço, onde as queijadas estão incluídas. Para além disso, a nossa cesta de boas vindas também vem com mais duas receitas originais: um chocolate picante e umas bolachinhas de chocolate, mas estas duas não registei. Ou seja, quem fica hospedado no nosso alojamento pode provar os doces que criei.
Por enquanto, ainda aceita encomendas. Dada a sua durabilidade, pensa em comercializar as queijadas em estabelecimentos comerciais?
Sim, aceito encomendas, mas apenas faço fabrico artesanal. O meu gosto e a minha intenção é que isto se mantenha apenas nas encomendas caseiras pois não quero expandir ou aumentar a produção para lojas e supermercados. As queijadas são conhecidas por sairem da ‘Casa da Baleia à Vista’, e se, por exemplo, existir outro alojamento que esteja interessado em oferecer as minhas queijadas, estou aberta a isso. Mas, não quero comercializar a larga escala.
Como é que vê a evolução da ‘Casa da Baleia à Vista’ e das suas queijadas nos próximos anos?
Ainda este ano vou abrir outro alojamento na Algarvia. De resto, penso continuar até me reformar pois gosto muito da área do turismo. Em comparação à hotelaria, a ‘Casa da Baleia à Vista’ tem a particularidade de funcionar num registo mais pessoal: quando o hospede chega, temos sempre atenção às necessidades de cada um, como é o caso das dietas especiais. É uma atenção mais personalizada.
Esteve 38 anos emigrada. Regressar aos Açores sempre foi o seu objectivo?
Eu e o meu marido emigramos logo depois de acabar o liceu, ele foi estudar e acabamos por ficar e formar família nos Estados Unidos. Mas, sempre tivemos a ideia de voltar aos Açores para passar a nossa reforma. Acabou por ser um pouco mais cedo, na medida em viemos fazer o alojamento e isso também me permitiu continuar a fazer aquilo que mais gosto: a cozinha. Não somos um restaurante, mas se os hospedes nos pedirem jantar, há essa possibilidade. Eles saem durante todo o dia e, como na vila não há poucos restaurantes, quando chegam não têm muitas opções para jantar. Assim sendo,eu tenho um menu fixo e, se eles quiserem, podem encomendar aquela refeição.
Como viu a evolução da ilha aquando do seu regresso? Está a ser uma experiência positiva?
Estou a gostar muito de cá estar. Durante o tempo que estive emigrada visitei várias vezes a ilha e fui acompanhando uma grande evolução. Por um lado, é positivo, mas espero que não cresça muito mais pois a área de Ponta Delgada já está um pouco saturada, por exemplo. A ilha é maravilhosa, oferece muitas coisas que não há noutros sítios, como é o caso da beleza natural, e nós podemos aproveitar isso para o turismo, mas esperemos que não desenvolva ao ponto de estragar a nossa natureza.
Aliás, aproveito para dizer que o alojamento ‘A Casa da Baleia à Vista’ é tanto para turistas para como locais. Ainda não tive locais, mas teria todo o gosto pois seria interessante desenvolver também o turismo local na ilha. Em especial, ter os residentes a fazer uso dos alojamentos na época baixa pois os preços são mais acessíveis e também uma forma de os locais desfrutarem da sua ilha.
Considera que a época baixa é difícil na Região?
Tenho o alojamento há três anos e este ano já vi uma diferença: a época baixa está a ficar mais curta. Em Janeiro e Fevereiro deste ano já vimos mais turistas do que nos últimos dois anos. De maneira que eu acho que isto está a chamar mais pessoas. E acredito que quanto mais se fizer e mais se oferecer, mais turismo vamos ter no ano inteiro. Inclusive, há muitos turistas que não gostam de calor e isso também é uma forma de nós próprios começarmos a pensar em estratégias e actividades diferentes para oferecer nos meses mais frios. O nosso Inverno não é rigoroso e por isso temos de investir mais na oferta para o turismo de época baixa.
Daniela Canha