No último 2 de abril Ponta Delgada celebrou o seu 478º aniversário de elevação a cidade, como um concelho centrado na cidade com remendos.
Os cidadãos sabem que este aniversário e o próximo não será diferente do que tem sido há pelo menos uma década, agudizando-se desde 2021.
Ponta Delgada precisa de outras prioridades para preparar um outro futuro para o concelho, desde logo no seu 480º aniversário, do Livramento aos Mosteiros. Um concelho aberto ao mundo e inteligente, intercultural, solidário e investindo na qualidade de vida, no ambiente urbano e rural e na segurança, reforçando uma atividade cultural diversa, para além do perímetro da cidade.
Não há remendos possíveis. Importa uma alteração profunda ao modelo atual político para uma estratégia de crescimento e diferenciação inteligentes de Ponta Delgada, para que esta não se continue a fechar ao concelho e centrada nos Paços do Concelho.
Dos transportes às acessibilidades é preciso transformar as opções existentes que não servem uma Ponta Delgada aberta ao mundo: outras rotas e horários, uma central camionagem numa zona de entrada da cidade e espaços dignos para quem recorre aos transportes públicos, como um sistema acessível, inovador e com modos suaves de transporte. Ponta Delgada como porta de entrada de São Miguel, reorganizando o sistema de circulação do trânsito e de pessoas. A atual gestão política é contraditória e prejudica a mobilidade verde, ao prometer simultaneamente transporte público gratuito e construir um parque de estacionamento no centro da cidade.
Os acessos às freguesias devem privilegiar as vias regionais rentabilizando a economia rural. Chega de mais betão, de estradas e de impactes ambientais. Requalifique-se e potencie-se o que existe.
Alterar drasticamente o que hoje se vive no centro histórico, desde logo, na sua forma de acesso e segurança. A intervenção social precisa enfrentar aquele que é o grave problema de indigência e de toxicodependência que se vive nas ruas da cidade. É preciso transformar aquela que é uma cidade fantasma com um centro histórico fechado em si mesmo. Os centros urbanos de amanhã precisam de ser remodelados para se adaptarem aos humanos e não o contrário (The future of cities).
Assegurar uma gestão de obras acabadas, onde o estado do mercado da Graça, o edifício sito na Rua de São João (anteriores sedes da cantina dos funcionários públicos, ACRA e UMAR) e os espaços Calheta exigem decisões e não adiamentos. Acesso eficaz, (mais) desburocratizado e célere na relação dos serviços camarários com outras entidades, estimulando o investimento privado e responsabilizando a gestão pública camarária e regional, controlando a pegada dos processos. Desde logo, garantindo que os trabalhadores camarários possuam acesso a formação especializada para melhor responderem aos munícipes.
Reforçar o parque habitacional público controlado por direitos e deveres de quem o ocupa e preferencialmente suportado na aquisição e recuperação de imóveis e apoio direto ao cidadão, em vez de mais construção de edifícios pela autarquia criando novos guetos.
Criar e recuperar espaços turísticos e de contemplação focados para combater a sazonalidade turística, com serviços e produtos identificativos do nosso potencial: o mar e Lagoas.
Captar investimento privado, assente na economia de serviços, em particular no digital, para criar um modelo de cidade descentralizado que se liga ao mundo gerando riqueza no território.
Para o 480º aniversário da nossa cidade aberta ao mundo, é preciso mobilizar todos os ativos (da economia, ao ensino, da cultura ao social, do desporto ao ambiente) para beneficiar os residentes e atrair visitantes.
Sónia Nicolau