A homeopatia é uma terapia que utiliza micro doses de substâncias naturais para estimular a capacidade de auto-cura do corpo, seguindo o princípio de “semelhante cura semelhante”. Para nos explicar melhor esta prática alternativa, estivemos à conversa com o farmacêutico e naturopata Pedro Soares que afirma: “A Homeopatia é uma das áreas da Naturopatia que defende, previne e promove tratamentos 100% naturais. É, acima de tudo, uma filosofia de vida”.
Correio dos Açores – Pode falar um pouco sobre o seu percurso? Quando é que decidiu incorporar a homeopatia e naturopatia na sua formação?
Pedro Soares (farmacêutico/naturopata) – Formei-me em Ciências Farmacêuticas em 1996 e fui farmacêutico comunitário durante 18 anos. Desde cedo que me interessei pela área dos produtos naturais, fazendo várias pequenas formações em Fitoterapia.
Em 2014/15, aquando da crise no sector das farmácias, resolvi procurar soluções alternativas à farmácia e, aproveitando o meu gosto pessoal pela Naturopatia, iniciei um ciclo de estudos nesta área com o Curso de Naturopatia e Terapias Complementares do Instituto Profissional de Estudos da Saúde, seguindo-se outros cursos complementares como Mesoterapia Homeopática, Iridologia, Homeopatia, entre outros.
Após 4 anos, e devido à fraca adesão da comunidade, surgiu uma nova oportunidade de carreira em Farmácia Hospitalar e acabei por me afastar das terapias naturais.
Há lugar para a homeopatia na Região? Porquê?
Sim, há lugar para a homeopatia pois ela é praticamente inexistente na Região e as aplicações são imensas. A homeopatia é uma das áreas da Naturopatia que defende, previne e promove tratamentos 100% naturais. É, acima de tudo, uma filosofia de vida. A par da fitoterapia, acupuntura, osteopatia e quiroprática, a homeopatia é uma das medicinas naturais reconhecidas pelo Estado português, desde 2003 e declarada uma das “terapias não convencionais”.
Porque não há uma maior adesão dos açorianos?
Existe ainda na nossa sociedade algum preconceito e desconfiança sobre esta área e a ideia de que, “se é natural não faz nada”. Os nossos utentes estão muito ligados aos fármacos sintéticos, mas esquecem-se que os medicamentos naturais vão além dos chás, e possuem menos efeitos colaterais, e por isso, são opções de grande ajuda no tratamento de diversas doenças.
Pode explicar o que é a homeopatia e como se diferencia de outras formas de medicina alternativa?
Homeopatia é uma forma de terapia alternativa, iniciada pelo alemão Samuel Hahnemann em 1796. Baseia-se no princípio de tratar pelo semelhante, ou seja, o tratamento surge da diluição e dinamização da mesma substância que produz o sintoma num indivíduo saudável. Ela faz uso de compostos de origem mineral, vegetal ou animal e trata uma doença estimulando o organismo a reagir a ela.
Já a fitoterapia é o tratamento terapêutico com uso de plantas medicinais, ou seja, os princípios ativos são obtidos a partir de partes da planta, como suas raízes, folhas e sementes, e geram ações contrárias aos sintomas ou às doenças, como os medicamentos alopáticos.
Qual é o princípio da “semelhante cura semelhante” e como é aplicado no tratamento homeopático?
A homeopatia trata o sintoma com o princípio do semelhante, ou seja, a título de exemplo, se um utente tem febre, vamos administrar uma solução diluída e dinamizada de uma substância que provoca a febre num utente saudável, obrigando o organismo a reagir ao mesmo, baixando a febre.
Em que circunstância escolheria utilizar a homeopatia em vez de outras abordagens?
Utilizaria a homeopatia para utentes que procuram a naturalidade nos tratamentos, o respeito pela fisiologia, a ausência de moléculas químicas na dose ponderal e a ausência de efeitos tóxicos para o organismo. Utilizaria igualmente em utentes polimedicados pois evita o risco da interação medicamentosa entre os diferentes fármacos.
Os medicamentos homeopáticos também são cada vez mais utilizados para ajudar doentes com cancro a suportar melhor os efeitos secundários dos seus tratamentos ou da sua doença.
Baseado na sua experiência, como avalia a eficácia da homeopatia no tratamento de doenças ou condições específicas?
Os medicamentos homeopáticos são úteis na maioria das patologias comuns, no entanto, durante o tempo em que exerci naturopatia acompanhei casos de sucesso e outros não. Tal como acontece com os medicamentos tradicionais, nem todos fazem o efeito desejado pois a homeopatia é uma terapia chamada “individualizada” considerando cada indivíduo como sendo único, tendo em conta a sua reacção individual.
A homeopatia é, por vezes, vista com cepticismo pela comunidade médica tradicional. Quer comentar?
Para que o tratamento homeopático surta efeito é preciso acreditar no conceito e muitos profissionais não acreditam nas terapias alternativas em geral. No entanto, noto que a mentalidade está a mudar e aos poucos a aceitação é maior.
Como vê a relação entre a homeopatia e a medicina convencional? Há espaço para uma abordagem integrada?
Sem dúvida que sim. Como disse atrás, as duas complementam-se. Tomando o exemplo de doentes com cancro, a homeopatia não trata o cancro. No entanto, além dos tratamentos convencionais, representa (de entre outros métodos de cuidados) um valioso activo para melhorar a qualidade de vida dos doentes. Prescritos ou recomendados por um profissional de saúde, os medicamentos homeopáticos podem ajudar os doentes a tolerar melhor os efeitos secundários da doença ou dos tratamentos (quimioterapia ou radioterapia por exemplo).
Que conselho daria a alguém interessado em explorar a homeopatia?
O que poderia dizer é para experimentarem. A homeopatia pode ter resposta para a maior parte das patologias e praticamente sem efeitos colaterais.
Daniela Canha