Jovem açoriana de 25 anos fez uma dissertação de mestrado na Universidade de Évora sobre o turismo espiritual na ilha da Terceira
Uma jovem açoriana, natural de Angra do Heroísmo, Natacha Soares, completou o mestrado em Turismo e Desenvolvimento de Destino e Produtos, na Universidade de Évora, com o tema da sua dissertação intitulado: “O turismo espiritual na Terceira: um estudo sobre o seu potencial”, sob orientação da professora Joana Lima (a orientadora principal) e da professora Maria do Rosário Borges (a co-orientadora).
Os objectivos da dissertação foram o de analisar o potencial de desenvolvimento do produto de turismo espiritual na ilha da Terceira; conhecer a oferta do turismo espiritual nos Açores; identificar o perfil do turista espiritual que procura por estas actividades e analisar o eventual interesse dos turistas espirituais em consumir este produto na Terceira.
Na dissertação, a nova mestre em Turismo e Desenvolvimento de Destino e Produtos, abordou os conceitos de espiritualidade; de turismo espiritual; o perfil do turista e suas motivações identificadas em diversos estudos; as características dos destinos espirituais; as experiências turísticas transformadoras; a sustentabilidade turística em destinos insulares; e os efeitos positivos e negativos do turismo nas ilhas.
Para reforçar o estudo, Natacha Soares entrevistou agentes públicos, agentes da oferta privados dos Açores – para conhecer a oferta deste tipo de produto no arquipélago -, e turistas espirituais, para identificar o perfil destes e o interesse potencial em praticar este tipo de turismo na Terceira.
Turistas querem encontrar
ou aproximar-se do “eu interior”
Natacha Soares concluiu que não há uma “definição clara do turismo espiritual”, sendo isto reconhecido por todos os autores considerados, mas que um aspecto reconhecido pela investigação existente é o facto de os turistas que o praticam “procurarem melhoria pessoal, de forma consciente”.
De acordo com a investigação, as motivações mais estudadas que levam os turistas a realizarem uma viagem espiritual estão ligadas à fuga da rotina, à redução dos níveis de stresse e ao encontrar ou aproximar-se do ‘‘eu interior’’.
Com os dados recolhidos foi identificado o perfil do turista espiritual potencial na ilha Terceira, para o qual foram realizadas entrevistas a 16 turistas que já tinham viajado com a principal motivação de bem-estar mental e espiritual. Nesta amostra, a faixa etária mais significativa compreende indivíduos entre os 31-55 anos (10 entrevistados), maioritariamente do sexo feminino e com um rendimento mensal entre os 1.001 e os 2.000 euros líquidos.
Sobre os destinos turísticos espirituais, observou-se que existem alguns atributos essenciais para fazer com que as experiências sejam mais bem-sucedidas e mais significativa, nomeadamente, relacionados com a natureza e com a paisagem, bem como com os prestadores de serviços.
Foi possível perceber, ainda, segundo a autora da dissertação, que a transformação dos turistas pode ser uma das consequências de uma viagem espiritual, pois estas acabam por proporcionar uma mudança, mesmo que pequena, que pode ser significativa.
Os efeitos que os turistas sentiram como resultado da sua viagem espiritual também foram estudados. Os efeitos positivos relatados são principalmente o facto de estes sentirem uma sensação de limpeza, leveza, calma e uma sensação de paz depois da experiência, que permanece para lá da viagem e a ligação e relação estabelecida entre os entrevistados e as outras pessoas que estiveram também a participar nas mesmas actividades.
De acordo com o documento, apesar de os estudos sobre a sustentabilidade turística em destinos insulares não serem recentes, uma das conclusões que se pode retirar é que as ilhas são territórios com ecossistemas muito vulneráveis e alcançar o desenvolvimento sustentável não é um processo fácil, mas é essencial. Apesar de se verificar que há efeitos positivos quando o turismo é bem gerido, também existem alguns efeitos negativos do turismo nas ilhas.
Há potencialidade de
desenvolvimento e existe
interesse neste tipo de turismo
Os resultados da inquirição aos turistas, segundo a autora, mostram que existem potencialidades de desenvolvimento e existe interesse em realizar este tipo de actividades na ilha. As potencialidades mais valorizadas pelos entrevistados assentam em elementos naturais (flores, verde, floresta, nevoeiro, água, entre outros), na paisagem e no contacto com a natureza em todo o ambiente envolvente da experiência turística espiritual.
Constate-se, ainda, que o ambiente envolvente das experiências de turismo espiritual pode ser decisivo para a satisfação dos turistas e também para o sucesso dessas experiências, além de aspectos como a pureza, a tranquilidade, o misticismo, a hospitalidade, o acolhimento das pessoas e a beleza dos Açores, que foram mencionados como factores importantes.
De acordo com a investigação, apesar da existência de potencialidades nos Açores, e principalmente na ilha Terceira, “percebe-se que o produto não está devidamente estruturado e explorado em termos de negócio turístico”. Na Terceira, só são conhecidos dois agentes da oferta sedeados na ilha e a realizar este tipo de actividades, estando os restantes agentes localizados noutras ilhas dos Açores.
Os agentes entrevistados referiram que têm conhecimento de outros, e até alguns hotéis, que oferecem produtos semelhantes relacionados com esta temática, mas que não divulgam as ofertas. Os agentes de planeamento turístico do destino referiram que a razão da fraca promoção é o facto de ser mais direccionada para que o destino seja conhecido pela sua vertente mais activa e desportiva – turismo de natureza, turismo desportivo e turismo náutico.
Acredita-se que deve haver mais
investigação…
De acordo com a conclusão da dissertação de mestrado da Natacha Soares, acredita-se fazer sentido a criação de actividades mais regulares e produtos específicos, como a realização de retiros no interior da ilha, aulas de meditação, ioga ao ar livre na ilha da Terceira.
Concluiu-se, ainda, que uma área complementar de investigação, que pode ser uma chave para o sucesso do turismo espiritual, como um produto turístico potencialmente sustentável, é a realização de mais investigação sobre os efeitos negativos nos turistas e o que pode ser feito agora para ajudar a minimizar os mesmos.
Sugere-se, ainda, a realização de mais investigação sobre a relação entre o turismo espiritual e diferentes elementos da natureza do destino, visto que os resultados apresentados apontam e reconhecem que há benefícios significativos quando estas duas dimensões são potenciadas em conjunto.
A dissertação de mestrado da Natacha Soares, a nova mestre em Turismo e Desenvolvimento de Destino e Produtos, pela Universidade de Évora, tem 152 páginas.
Filipe Torres