Um Colectivo de Juízes do Tribunal de Ponta Delgada começou ontem a julgar seis homens, com idades compreendidas entre 34 e 42 anos, residentes no concelho da Ribeira Grande pela prática do crime de tráfico de estupefacientes. Sobre um dos arguidos pende, ainda, uma acusação de detenção de arma proibida.
Dupla de irmãos responsável
por rede de tráfico
De acordo com o Ministério Público, dois dos seis arguidos, irmãos, dedicavam-se à “venda lucrativa a terceiros” de produto estupefaciente, na sua maioria, Alpha PHP. As substâncias ilegais eram, alegadamente, vendidas por terceiros a consumidores de várias freguesias do concelho da Ribeira Grande, tais como Conceição, Lomba da Maia, Fenais da Ajuda, Porto Formoso, Ribeira Seca e Ribeirinha.
Segundo a acusação, o arguido de 42 anos contactava o irmão, de 36 anos, por telefone, para procederem à entrega e recolha de estupefacientes, e divisão dos lucros das vendas.
Através de escutas colocadas nos telemóveis utilizados pelos dois arguidos, foi possível apurar que a 5 de Março do ano passado os arguidos combinaram entre si proceder à divisão dos lucros, provenientes do tráfico de produto estupefaciente.
A 7 de Março do mesmo ano, o arguido terá contactado o irmão, pedindo-lhe que este lhe desse dinheiro da venda da droga. Dois dias depois, a 9 de Março, é descrito que um dos arguidos terá preparado produto estupefaciente para ser entregue e, a 19 de Março, o arguido terá pedido ao irmão que procedesse à preparação de cinco gramas para ser entregue a um terceiro intermediário.
O Ministério Público adiantou que os dois irmãos contavam com o auxílio de diversos intermediários para vender as substâncias ilegais e referiu que o arguido mais velho era quem tinha responsabilidade nos intermediários.
Assim, em Setembro de 2021, os irmãos terão passado a contar com o auxílio de outro dos arguidos neste processo e, alegadamente, o acordo previa que cada um pagasse 50 euros por cada grama de sintética ao arguido de 42 anos.
Regra geral, apontou o Ministério Público, este arguido ficaria com o remanescente do produto, usando o lucro para adquirir mais produto estupefaciente.
Arguido apanhado com liamba,
canábis, sintética, Subutex
e Tramadol
A 6 de Agosto de 2021, terá sido encontrado, na posse de um dos suspeitos, dois telemóveis, produto estupefaciente e cerca de 50 euros, quantia que seria para entregar ao homem de 42 anos, o alegado cabecilha desta rede de tráfico. A 15 de Outubro do mesmo ano, o arguido de 39 anos terá sido apanhado com um panfleto de sintética e 243 euros.
A 19 de Fevereiro de 2022, terá sido encontrado na posse do mesmo arguido um pedaço de canábis, equivalente a uma dose, um saco de plástico com seis doses de canábis e outro saco de plástico com o equivalente a três doses da mesma substância.
A 17 de Maio do mesmo ano, este arguido detinha, segundo referiu a acusação, 79,50€. Já a 28 de Maio, o homem teria nove panfletos de cor amarela, contendo Alpha PHP e 65 euros. Dois dias mais tarde, a 30 de Maio, o arguido tinha, alegadamente, sete doses de produto estupefaciente e dinheiro proveniente do tráfico de substâncias.
A 30 de Junho de 2022, pelas 10h00, o homem terá sido apanhado com uma manuseadora, três círculos de plástico, um quarto de um comprimido de Subutex, canábis, liamba, um panfleto de sintética e instrumentos que se destinariam à preparação de produto estupefaciente.
A 3 de Agosto do mesmo ano, o suspeito teria, na sua posse, sete panfletos de sintética, estupefaciente cedido pelo arguido de 42 anos.
A 20 de Janeiro de 2023, terá sido encontrado no quarto do arguido dois panfletos de Alpha PHP, três quartos de Tramadol, sem receita médica, um pedaço de resina de canábis.
Suspeito acusado de três crimes
de detenção de arma proibida
Além deste acusado, desde data não concretamente apurada, outro arguido, de 37 anos, terá contactado o homem de 42 anos para a venda de produto estupefaciente. A acusação afirmou que o suspeito tinha vários clientes e fazia uso da sua habitação, assim como outros locais, para se encontrar com os consumidores.
A 15 de Fevereiro de 2022, terá sido encontrado no quarto deste homem 62 doses de canábis, um cabeço de canábis (cinco doses), outro cabeço de canábis (três doses), quatro colheres doseadoras, 71 recortes plásticos, tesouras e uma balança digital. Terá sido também encontrada uma soqueira, um bastão em madeira com uma pedra e outra arma branca.
A 5 de Março de 2022, o arguido teria em sua posse um panfleto com substância branca e uma balança de precisão, e a 7 de Março teria um panfleto de sintética.
A 18 de Maio, o suspeito detinha, alegadamente, um panfleto de sintética, um pedaço de resina de canábis e a quantia de 43 euros.
A 3 de Dezembro do mesmo ano, o arguido terá sido interceptado com 10 panfletos amarelos com substância sintética e a 16 de Dezembro teria, no interior do porta-óculos, uma embalagem de Alpha PHP.
A 25 de Janeiro de 2023, o acusado detinha, conforme apurou a acusação, no interior do seu veículo, um pedaço de resina de canábis e sete comprimidos de Tramadol, e um panfleto a 17 de Fevereiro.
Arguido vendia droga junto
a escola da Ribeira Grande
Segundo a acusação, desde Setembro de 2021, outros dois irmãos, igualmente arguidos neste processo, ter-se-ão juntado a esta rede de tráfico, alegadamente operada pela outra dupla de irmãos. A 11 de Fevereiro de 2023, o arguido de 38 anos terá sido encontrado, junto ao local onde é habitual estar estacionada a carrinha da ARRISCA na Ribeira Grande, com 24 panfletos de cor branca e amarela com sintética, e a quantia de 175 euros.
Entre 2021 e 2022, este homem terá vendido haxixe e liamba a mais de 20 jovens. De acordo com o Ministério Público, os contactos eram feitos pessoalmente com o arguido que se encontrava num veículo estacionado ao lado de um estabelecimento de ensino.
A 17 de Fevereiro, em local não apurado, o irmão deste homem, de 34 anos, terá ido ao encontro do homem de 42 anos para adquirir estupefacientes.
A 3 de Maio de 2023, na residência do arguido de 42 anos, foi encontrada uma bola em plástico de 80 gramas com sintética e 2.135 euros, dinheiro que a acusação afirma ser proveniente da venda de estupefacientes.
No mesmo dia, na residência do irmão, de 36 anos, foi encontrada uma bola plástica de sintética com 25 gramas, assim como 14.345 euros, quantia proveniente do lucro obtido a partir do tráfico de estupefacientes, de acordo com o Ministério Público. Foi também encontrado num terreno agrícola, dentro de um forno de lenha, bocados de plástico, uma balança de precisão, instrumentos que se destinariam à preparação de produto estupefaciente para ser vendido aos consumidores.
Igualmente a 3 de Maio, foi encontrado na posse do homem de 37 anos 1,60 gramas em 22 sacos de plástico, bem como uma balança de precisão e um pedaço de canábis.
Já o homem de 34 anos tinha 190 euros e sete recortes de plástico, e o irmão, de 38 anos, tinha 605 euros, 72 panfletos de Alpha PHP, e 120 euros no seu automóvel.
No entender do Ministério Público, os arguidos agiam de forma estruturada entre si: reuniam-se, distribuíam as tarefas, pese embora sabendo que se tratava de substâncias proibidas de vender. Os suspeitos agiram de comum acordo, “de modo livre, voluntário e consciente, com intenção de proceder à venda de estupefacientes”, de uma forma diária e ininterrupta.
Actualmente, apenas um dos seis homens aguarda julgamento em liberdade, sendo que os restantes arguidos se encontram detidos no Estabelecimento Prisional de Ponta Delgada.
C.P.