Inês Tomé Calisto, 39 anos, natural de Ponta Delgada, é licenciada em Comunicação e Relações Públicas. Quando terminou o seu percurso académico, há quase 20 anos, começou a trabalhar no Gabinete de Comunicação do Grupo SATA, como copywriter e, mais recentemente, como assessora de imprensa. Confessa que sempre foi apaixonada por pessoas e pela Comunicação como meio que as interliga. Actualmente, é coach de Relacionamentos, com especialização em relacionamentos amorosos. O seu trabalho consiste em ajudar solteiros, casais e todos os que procuram o seu final feliz, através de sessões online, no domicílio do cliente ou no Centro Terapêutico Just Be, em Ponta Delgada, “sem preconceitos, sem julgamentos e com absoluto sigilo.” O Coaching de Relacionamentos é uma vertente do coaching, cujo foco é auxiliar as pessoas a alcançarem um equilíbrio nos seus relacionamentos pessoais, com o propósito de encontrarem a felicidade e a realização em conjunto.
Correio dos Açores – Como começou a sua jornada como coach? Por que motivo optou por esta profissão?
Inês Tomé Calisto (Coach de Relaciona-mentos) – Apercebi-me, a certa altura da minha vida – até porque à medida que vamos amadurecendo emocionalmente vamo-nos conhecendo cada vez mais e melhor –, que o amor era o meu assunto favorito e que sempre ajudei as pessoas nos assuntos relacionados com o amor, de uma forma muito natural. Até que surgiu a oportunidade de uma vida de integrar o curso em Life Coaching, pelo RMT Center, na Califórnia, Estados Unidos da América, durante o qual me especializei em relacionamentos amorosos e que me habilitou profissionalmente a fazer algo que sempre me iluminou.
Felizmente, tenho a sorte de poder juntar a Comunicação e o Coaching de Relacionamentos, de uma forma que me completa.
Actualmente, ajudo individualmente ou em casal, sem preconceitos, sem julgamentos e em absoluto sigilo, todos os que procuram o seu final feliz, através de sessões online (um pouco por todo o mundo), no domicílio do clientes ou no Centro Terapêutico Just Be, em Ponta Delgada. Tenho, ainda, uma parceria com um alojamento local – a Guarita da Capa Amarela – que proporciona sessões de Coaching de Relacionamentos aos seus hóspedes, para uma viagem e estadia verdadeiramente transformadoras.
De que forma esta certificação pelo RMT Center, do coach internacional Tony Robbins e da psicóloga premiada Cloe Madanes, influenciou a sua abordagem e a sua prática enquanto coach?
O Coaching de Relacionamentos que empreendo está focado na concretização de objectivos na vida amorosa. Contudo, para o sucesso na vida amorosa, é necessário explorar muitas outras áreas da vida das pessoas, começando pela relação que têm consigo próprias.
Em primeira instância, tenho de aferir as circunstâncias actuais, o que é que a pessoa ou o casal quer, avaliar o que realmente precisa para alcançar os seus objectivos, perceber que condicionamento poderá estar a bloqueá-lo(s) e dar-lhe(s) ferramentas estratégicas muito específicas, aprovadas pelo Center for Credentialing & Education (CCE) e pela California Association of Marriage and Family Therapists (CAMFT), para chegar ao que eu faço questão de chamar “o final feliz”!
Posso dar alguns exemplos do trabalho que desenvolvo com as pessoas que me procuram.
Com os solteiros que procuram alguém especial, o meu trabalho passa por guiá-los num caminho que os leva a encontrar um parceiro à sua medida, verdadeiramente compatível, porque a compatibilidade é tudo! Isso implica, em primeiro lugar, conhecer-se a si próprio, saber o que quer, definir os seus valores e o que mais aprecia num relacionamento amoroso.
Também me procuram pessoas que estão numa relação e já não sentem paixão. Em mais de 90% dos casos, é possível recuperar a paixão que existia no início, sendo o meu trabalho reaproximar o casal com um reajuste de energias – pois, muitas vezes, existem desajustes entre a energia feminina e a energia masculina no casal –, com ajustes na compatibilidade, desde que sejam benéficos para ambos, ou com exercícios para recuperar a intimidade.
Outro exemplo são as pessoas que se mantêm nas chamadas relações tóxicas, sendo que o meu trabalho, neste caso, passa por ajudá-las a identificar as razões pelas quais aceitam comportamentos que não desejam no espaço de uma relação, por utilizar alavancas que elevam a sua auto-estima e, muitas vezes, por acompanhá-las no processo pré e pós término da relação.
Também me procuram pessoas que têm problemas graves na sua relação e não conseguem encontrar uma solução. Neste caso, ajudo-as a encontrar uma solução que seja benéfica para ambos, porque todo o problema é algo que necessita de uma solução e se ele permanece, é sinal de que o casal ainda não encontrou a solução certa a implementar na sua relação.
Qual é a sua filosofia central quando se trata de relacionamentos amorosos?
Acredito que o amor vence sempre, mesmo quando o amor que tenha de vencer seja o amor próprio. É esta a minha filosofia central e onde se baseia todo o meu trabalho.
O Coaching de Relacionamentos contribui para encontrar equilíbrio nos relacionamentos pessoais e alcançar a felicidade e realização em conjunto?
A relação que estabelecemos com os outros e, sobretudo, no caso dos casais, a relação que temos com o nosso parceiro, que é a pessoa que está mais próxima de nós, assume uma importância fulcral no nosso bem-estar e na nossa felicidade, a nível geral.
Conheci, ao longo da minha actividade como coach de Relacionamentos, pessoas que se encontravam num estado miserável por causa da sua vida amorosa ou da falta dela. Acabo por concluir que podemos ser muito bem-sucedidos a todos os níveis, mas, se não somos bem-sucedidos na nossa vida amorosa, parece que não temos a experiência completa. Não nos esqueçamos, no entanto, que na base deste bem-estar está a relação que temos connosco próprios. É sempre necessário começar por aqui, ou seja, pela relação que as pessoas têm consigo próprias, pelo significado que atribuem aos acontecimentos, sendo muitas vezes necessário ressignificar, e pelo condicionamento que trazem da relação dos seus e com os seus pais, das suas relações passadas e das experiências que viveram.
O Coaching de Relacionamentos surge precisamente por isso. O mundo das relações é complexo e as pessoas cada vez mais refletem sobre o sentido da vida que vivem. Anteriormente não se questionava tanto e o conformismo numa relação, fosse ela satisfatória ou não, era natural. Felizmente, as pessoas nunca lutaram tanto pelas suas relações como agora, ao mesmo tempo que nunca apostaram tanto, também, na relação que têm consigo próprias como factor determinante da experiência de vida que querem ter.
Como adapta a sua abordagem para atender às necessidades de cada pessoa?
Embora existam estudos de caso amplamente pesquisados cientificamente e que a maioria das relações siga padrões comuns, cada caso é um caso, cada relação é única e as pessoas são todas diferentes.
A primeira sessão serve para entender o mundo da pessoa ou das pessoas que estão à minha frente. O tipo de linguagem que empregam, os significados que atribuem, a sua linguagem corporal e, mais do que o que desejam, o que realmente precisam.
Nas sessões seguintes, o plano de acção decorre de acordo com o que aferi na primeira sessão e não é raro ter de aprofundar conhecimentos sobre determinados assuntos e ter de readaptar este plano, conforme o desenvolvimento que as próprias pessoas lhe dão.
Pode partilhar um caso desafiador que tenha acompanhado e “ajudado a resolver”?
O sigilo é algo que faz parte do dia-a-dia do meu trabalho, mas posso partilhar, sem mencionar nomes ou entrar em detalhes, que o caso mais desafiador que acompanhei foi o de uma cliente que me procurou porque o seu marido manifestava, frequentemente, um comportamento verbalmente agressivo para com ela. A minha cliente acabou por conseguir trazer o marido para as sessões, mas a sua agressividade era verdadeiramente intimidante e acabou por incidir, quando confrontado, em mim também. Acabou por abandonar esta atitude, adoptando exactamente a atitude oposta, assim que percebeu a origem da agressividade que manifestava e os efeitos que esta estava a ter na sua vida amorosa e familiar. Foi um caso de sucesso, até hoje, mas que me exigiu muita resiliência.
Qual foi o resultado mais gratificante que viu no seu trabalho? Houve algum testemunho dos seus clientes que a tenha marcado?
Todos estão no meu coração e pode parecer impossível, mas lembro-me e acarinho cada momento passado com cada uma das pessoas que me procurou. Posso dar o exemplo particularmente gratificante de um casal que me marcou pela rápida transformação. Mais uma vez mantendo o sigilo, posso apenas revelar que estavam juntos há dezassete anos e já não sentiam paixão. Sentaram-se à minha frente, na primeira sessão, sem olhar uma vez que fosse um para o outro e de braços cruzados, numa atitude fechada e defensiva. Ao fim da terceira sessão, quando os acompanhei à porta, vinham pelo corredor de mãos dadas, a sorrir um para o outro com um brilho nos olhos. Nesse dia, ao vê-los voar à minha frente, voei também! Se pudesse, remendava cada coração do mundo…
Pode descrever como são as suas sessões com os clientes? Como cria um “ambiente acolhedor e de confiança”?
Começo sempre as minhas sessões por dizer que sou obrigada a sigilo, que não faço quaisquer julgamentos, que sou livre de preconceitos e que “este é um lugar seguro para abordar tudo o que queiram”. Acrescento que “podem estar à vontade, porque eu já ouvi de tudo”. E isso é tão verdade.
As pessoas, ao perceberem que tudo o que é dito e feito durante uma sessão fica apenas entre nós, sentem-se muito mais à vontade para falar e para resolver o que precisam de resolver, sem reservas.
Tenho sempre, também, uns chocolates em forma de coração nas sessões presenciais, para quando é necessário quebrar o gelo ou descontrair, que acabaram por ser uma espécie de imagem de marca.
Qual é a importância do sigilo e da ausência de preconceitos no seu trabalho, considerando a recente chegada do Coaching de Relacionamentos a São Miguel?
Embora, por vezes, pensemos que não, vivemos num meio pequeno. A maioria das pessoas não quer admitir para os demais que tem problemas no seu relacionamento, que não está solteiro por opção ou que tem assuntos por resolver na sua vida amorosa. Muitos dos locais, sobretudo algumas figuras mais conhecidas, preferem até que me desloque ao seu domicílio para não serem vistos. Noto que os meus clientes de Portugal continental e estrangeiros são mais abertos a recorrer a um coach de Relacionamentos e têm menos reservas em expor o que precisam de expor. Em todos os casos, tenho a noção de que se trata da vida íntima das pessoas e que o sigilo é algo que faz parte do meu trabalho.
Em relação aos preconceitos, quando escolhi esta actividade, mentalizei-me de que seria procurada por todo o tipo de pessoas, com todo o tipo de crenças, de problemas e de visões sobre o mundo e sobre as relações. Mentalizei-me de que eu própria poderia sentir-me incomodada com algumas dessas crenças, práticas e visões do mundo e das relações amorosas, mas foi algo a que me tive de habituar e que deu azo a estudos ainda mais pormenorizados.
Que desafios enfrenta como coach de Relacionamentos?
Ainda existe muito o estigma de ter de admitir para os outros que se tem problemas na relação, que não se está solteiro por opção ou que se tem assuntos por resolver na vida amorosa, sobretudo a nível local. Existem, também, muitas pessoas que preferem deixar que tudo evolua como tem de evoluir, sem ter a noção de que, se tomarem as rédeas a tempo, serão muito mais felizes. Congratulo, por isso, todos aqueles que me procuraram, e procuram, para alcançar a vida amorosa que desejam. Procurar ajuda é um acto de coragem.
Que lições aprendeu ao longo da sua carreira?
Aprendi que, em todas as situações, o amor vence sempre, mesmo quando o amor que tenha de vencer seja o amor próprio. Com isto quero dizer que o amor vence sempre, quando as pessoas estão realmente empenhadas em fazer com que a relação seja a melhor possível, e que, algumas vezes, o amor que vence é o amor próprio, quando se acaba por chegar à conclusão de que merecemos muito mais do que aquilo que estivemos a aceitar. Este ensinamento teve tanto impacto em mim que se tornou a base do meu trabalho.
Aprendi, também, ao longo do caminho, que, ao contrário do que a maior parte das pessoas pensa, só o amor não basta. O amor é a base e é como a farinha: sozinha não serve para nada, mas, se a juntamos a outros ingredientes, abrem-se inúmeras e maravilhosas possibilidades!
Quais são os seus objectivos futuros como coach de Relacionamentos?
Gostaria muito de ver evoluir mentalidades, que as pessoas procurassem melhorar a sua vida amorosa de forma mais activa e antecipada. É possível, por exemplo, aferir a compatibilidade e, por consequência, as probabilidades de sucesso a longo prazo de casais que se juntaram recentemente ou que pretendem passar ao nível seguinte de compromisso na relação. Existem inúmeras áreas, dentro do Coaching de Relacionamentos, que ainda gostaria de explorar.
Que ferramentas recomenda a quem procura melhorar os seus relacionamentos?
Um dos factores principais é a selecção. É aqui que reside a chave para o sucesso ou o insucesso de uma relação, a médio e longo prazo. Precisamos, neste processo de selecção, de usar a cabeça, para além do coração, porque devemos sempre juntar a emoção e a razão. Quando existe um equilíbrio entre estas duas coisas, quando não sentimos um conflito entre a cabeça e o coração, quando não nos vemos obrigados a escolher só com a cabeça ou só com o coração, aí temos a nossa pessoa.
Quando já estamos num relacionamento, no início ou há largos anos, devemos ter em conta que a relação que queremos ter exige sempre a nossa presença e a nossa participação. Como uma planta, a nossa relação precisa de luz e de ser regada para se manter viva e de boa saúde!
Carlota Pimentel