1- Estamos a viver uma ocasião propícia para fazer a reversão dos cinquenta anos da Revolução de Abril, que abriu depois caminho à implantação da Democracia. Ao fazermos tal regresso ao meio século de democracia, somos necessariamente confrontados com medidas que foram, ao longo do tempo, tomadas com impacto político e consequências para a economia e para a sociedade em geral. Isso aconteceu em todo país, mas concretamente nos Açores, que eram, na altura, nove ilhas de costas voltadas umas para as outras, e que pelo arranco organizado por um punhado de Açoreanos que idealizaram o modelo Autonómico que foi assumido com entusiasmo pelo povo e depois consagrado na Constituição que foi aprovada a 2 de Abril de 1976.
2- Ao longo destes cinquenta anos, muito se tem escrito e dito sobre os Açores e Autonomia, com razões diversas e pensamentos diferentes como é apanágio das democracias. Desta feita, o economista e Presidente do Conselho de Administração do Novo Banco dos Açores, Gualter Furtado, numa aula que deu na Universidade dos Açores, “lamentou o facto de a Região ter perdido a oportunidade de criar um grande banco regional”, juntando-se o BCA com as duas Caixas Económicas de Ponta Delgada e da Terceira”.
3- O Banco Micaelense foi nacionalizado a 11 de Março de 1975 tal como foi a maioria da banca nacional, e logo depois do arranque Autonómico, o Governo Regional de acordo com o Estatuto Político e Administrativo assumiu, o capital social do sector público regional referente à banca e aos seguros, que a partir daí sofreu uma profunda remodelação, passando o banco a ser denominado por BCA, criando-se um novo conceito de negócio e de relacionamento com os clientes, estendendo os negócios e os serviços dessas entidades a toda a Região.
4- O BCA e a Açoreana de Seguros, assim como as Caixas Económicas, pertencentes às Misericórdias ou a entidades Cooperativas, como as Caixas de Crédito Agrícola, foram importantes alavancas para impulsionar o crescimento da economia, e hoje tal como ontem, as Caixas Económicas continuam a manter uma relação de proximidade e humanismo com os seus clientes, relação que se perdeu com as grandes fusões e concentrações que aconteceram no sector financeiro.
5- No final da década de noventa, a moda era que o grande é que era bom, enquanto as pequenas instituições ficavam mais expostas ao risco, e a banca tentava adaptar-se à concorrência de grandes bancos que começaram a instalar-se em Portugal depois da entrada do pais na União Europeia.
6- Perante tal contingência encontrava-se também a Caixa Económica da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada, que procurou uma parceria que garantisse a sua estabilidade e permitisse ao mesmo tempo crescer, ganhando mercado interno e na Diáspora, e o parceiro que conseguiu foi juntar-se ao grupo Espírito Santo. Foi uma parceria que serviu a CSMPDL, mas ficando o parceiro com “o tutano”.
7- Na ocasião, era Director da Caixa Económica da Misericórdia de Ponta Delgada o Dr. Gualter Furtado, antigo Secretário Regional das Finanças, e actual Presidente do Conselho Económico e Social dos Açores, que se empenhou com denodo na preparação do modelo que levou ao nascimento do Banco Espírito Santo dos Açores com sede na Região.
8- No negócio ficou de fora o edifício do antigo Hospital de São José, que era propriedade da SCMPDL e o Lar da Levada, que foi devolvido à Santa Casa da Misericórdia. Sempre fomos e somos defensores da existência de um grande banco dos Açores que pudesse ser uma mais-valia para a Região e para a economia em geral.
9- A crise da banca em 2008 validou as preocupações que antes tinham sido apresentadas às entidades que tinham o sector financeiro regional a seu cargo, de modo a que fossem tomadas medidas para a criação na Região de um grande banco regional, tal como havia sido proposto pela União Europeia antes da dissolução do BANIF, e que assentava no regresso do BANIF às duas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores. A venda do banco, tal como foi talhada foi o fim da aventura que nasceu na Madeira, “invadiu” os Açores, e levou ao fundo um bem precioso da Região.
10- Por ter sido perdida uma oportunidade não significa que esteja perdida uma “guerra”. Esse é o desejo que alimentamos.
Américo Natalino Viveiros