Ele continua a sonhar porque a idade não o vence é na memória do tempo que nascem os seus projetos, com esses renova-se, todos os dias.
Ele sabe bem “o que se salvará não será nunca aquilo que não tivemos guardado no tempo, para que se reinventasse em si um tempo novo”.
Tem agora 84 anos de idade, mas quando era jovem, subindo e descendo, todos os dias, os degraus gastos, da velha escola Industrial e Comercial já lhe fervilhava na cabeça os sonhos que vieram depois a se concretizar. Quando ele entrava para o primeiro ano, estava eu já de saída, no quinto ano.
O Comendador António Nóbrega nasceu em 1940, é um daqueles madeirenses que, com as suas empresas, tem contribuído para o desenvolvimento económico da Madeira. Ele sempre acreditou nas suas capacidades e que essas deveriam ser enveredadas para ajudar a tornar, através do comercio e indústria, mais aberta a Região ao mundo dos negócios.
Isto é: que as ligações com outros países fossem trampolim para um enriquecimento comercial e industrial.
Simpático, naturalmente inteligente, generoso, como mecenas, ele descobriu, por si mesmo, os caminhos adequados para desenvolver as suas atividades. Não temeu nunca a limitação geográfica da ilha. Os seus sonhos eram maiores que o espaço que o rodeava, por isso durante toda a sua vida olhou para a linha do horizonte, que a todas as horas, acompanham os ilhéus, como um desafio; uma esperança…
O Comendador António Nobrega é daquelas pessoas que acredita que onde existe vida, existe esperança. Os seus olhos sempre obedeceram à ação da sua mente e esta povoada de projetos, fê-lo avançar até onde tinha definido as suas metas.
Conheço-o há anos e sempre o admirei pela sua tenacidade, persistência, pelo seu espírito de luta, jamais se deixou afundar em pessimismos. Venceu todos os obstáculos, e esses celebrou-os sempre como vitórias, daí ter triunfado e ser hoje o empresário prestigiado que é.
Não convivo com ele, mas de vez em quando encontrámo-nos em algumas receções, porém isso não impediu de acompanhar os sucessos das suas empresas; de seguir as diferentes etapas da sua vida. Sendo ele uma figura pública, admirada por muitos dos seus conterrâneos, e estando eu como redator no Jornal da Madeira, e mais tarde no Governo, era natural que tivesse interesse em conhecer as suas atividades e compartilhasse dos seus êxitos.
Como mecenas, o Comendador António Nóbrega, tem colaborado com algumas IPSS, nas suas iniciativas, é o sentido da responsabilidade social que o enriquece humanamente: “se não nos ajudarmos uns aos outros, quem o fará?” É preciso que não esqueçamos, todos os dias, que vivemos ao abrigo uns dos outros.
Aos 23 anos, o jovem António Nóbrega inicia a sua vida como trabalhador: vendendo medicamentos e material hospitalar. Aí evidenciou-se como um excelente vendedor, com técnicas próprias e um forte espírito de Relações Públicas. Com o seu savoir faire, atingiu números de vendas consideráveis. Mas isso não lhe bastou, arranca da lista dos seus sonhos o projeto da avicultura. Torna-se no maior importador de carne bovina e suína e de produtos congelados.
Durante 20 anos, dois dos seus grandes camiões, com o seu nome e logotipo da Madeira, atravessaram as fronteiras portuguesas, espanholas, francesas e belgas. A partir de 1988 importa diretamente carne refrigerada. Hoje existem na Madeira, muitos produtos alimentares com o rotulo António Nóbrega.
Numa daquelas manhãs inigualáveis da sua ilha, em que no mar, transparente, se espreguiçam as buganvílias em flor, ele acordou e refletiu no desafio que lhe fizera dias antes, o seu amigo Hipólito, um outro ativo e visionário comerciante madeirense que infelizmente já morreu: porque não construir um hotel, em sociedade? Assim nasceu o Hotel Monumental Lido, com Centro Comercial incorporado, a partir daqui juntos abalançaram-se para outros hotéis: Oásis no Caniço e o Baía no Funchal, todos de alta qualidade…
Hoje, estes três hotéis pertencem à cadeia criada pela sociedade sob o nome de “Four Views”, tão competentemente administrada pela Dra. Ana Paula em representação da família Hipólito. Mas o Comendador António Nóbrega não fica por aqui: ems ociedade, abre hotéis, em Cabo Verde e em nome pessoal constrói o hotel Oudinot.
Naturalmente que, sendo um apaixonado pelas ilhas, abre em São Miguel – Açores a maior empresa produtora de frangos e ovos da Região. Os Açores recebeu-o de braços abertos. Com esta sua iniciativa ele ajudou a aproximar ainda mais os dois arquipélagos. Apesar dos seus 84 anos, ele continua a testemunhar a clarividência de um pensamento que lhe alimenta “todos os dias” os sonhos, porque na memória do seu tempo cabem ainda outros projetos…
O Comendador António Nobrega é o retrato vivo daqueles madeirenses corajosos, descendente de uma geração que fez das rochas socalcos e transformou o basalto em jardins, um discurso físico, heroico, de homens e mulheres que nos deixaram exemplos. Num tempo diferente, o discurso de António Nóbrega foi da inteligência e da criatividade que lhe permitiram ser o grande empresário que é, prestigiando a Madeira e os madeirenses.
O seu nome tornou-se uma referência nos meus industriais e do comércio da Europa.
João Carlos Abreu