O surrealismo e o realismo são os estilos que mais atraem Martim Cymbron, reconhecido artista plástico açoriano, e, de acordo com o próprio, são elementos que fazem parte da sua veia artística. O seu trabalho está exposto em diferentes partes do mundo – na Presidência da República, no Principado de Mónaco, no Parlamento Europeu, no Tribunal de Contas, entre outros locais – e, ao longo da sua carreira, recebeu vários prémios, incluindo menções honrosas. Actualmente está a trabalhar no projecto denominado “15 em Arte”, uma exposição itinerante, que está a percorrer as freguesias do concelho de Ponta Delgada, pensada com o propósito de levar arte ao meio rural.
Correio dos Açores – Como foi a sua experiência de estudar na Academia de Artes em Maastricht, na Holanda? De que forma essa experiência influenciou o seu trabalho artístico?
Martim Cymbron (Artista plástico) – Foi uma experiência muito gratificante, na medida em que aprendi muito sobre arte em geral. No entanto, na realidade, estava insatisfeito a nível de pintura que era o meu propósito em termos artísticos.
Que impacto teve no seu estilo de pintura a transição da academia para o ensino com o pintor Jo van den Brand, em Valkenburg?
Esta transição aconteceu porque eu queria aprender pintura realista, o que na altura não se ensinava na academia. Por isso, procurei um ateliê que ensinasse as técnicas realistas dos grandes mestres do século XIX. Não houve mudança de estilo. Antes de conhecer o pintor Jo van den Brand, já pintava realismo mas de uma forma autodidacta.
Ao longo dos anos, participou em várias exposições individuais e colectivas. Qual destaca como a mais significativa para a sua carreira e porquê?
Destaco duas exposições: a primeira em Nova Yorque e a segunda no Mónaco. Ambas em 2018, foram exposições que valeram pela experiência de estar nos grandes circuitos das artes e que ficam no currículo. Além disso, a exposição no Parlamento Europeu, em conjunto com alunos, foi um acontecimento marcante na minha carreira artística.
A sua arte está representada em várias colecções privadas e espaços públicos, tanto nos Açores como no estrangeiro. Como se sente ao ver o seu trabalho exposto em diferentes partes do mundo?
É um reconhecimento do meu trabalho. Estar representado em vários partes do mundo faz-me sentir realizado a nível profissional. Estou representado na Presidência da República, no Principado de Mónaco, no Parlamento Europeu, no Tribunal de Contas, na Universidade dos Açores, no Colégio Militar e noutras entidades públicas.
Organiza o evento cultural semestral “Arte Viva”, juntamente com um colega artista. Que impacto tem este evento na comunidade artística local?
O evento Arte Viva começou em 2010 no extinto Bar Arco 8. Começámos com cerca de oito artistas e fomos crescendo ao longo dos anos. Hoje, somos cerca de 20. São artistas com diferentes estilos de pintura, o que torna interessante este convívio, na medida em que trocamos ideias e partilhamos os nossos conhecimentos artísticos.
O Arte Viva tem como finalidade principal apresentar ao público os nossos trabalhos. Existe sempre uma interacção com o público e somos abordados por curiosos. Actualmente, somos convidados a participar em vários eventos.
Recebeu vários prémios ao longo da sua carreira, incluindo menções honrosas e primeiros lugares em concursos. Como esses reconhecimentos influenciaram a sua abordagem à arte e a sua confiança como artista?
É sempre bom ser reconhecido através de prémios e menções honrosas. É uma responsabilidade acrescida, fruto de um trabalho desenvolvido ao longo do tempo. Encaro como um estímulo para continuar a fazer mais e melhor.
A sua obra parece ter uma ligação especial com temas relacionados com os Açores, como o mar e a natureza. Pode falar-nos um pouco sobre a influência da sua terra natal no seu trabalho artístico?
No início de carreira, e durante muitos anos, fui um pintor exclusivamente surrealista. Mais tarde, senti a necessidade de mudar de estilo. A escolha de marinas foi uma transição muito natural porque vivemos rodeados de mar, que é um elemento versátil. Fascina-me transmitir para a tela a beleza do mar e captar o movimento da onda.
Como consegue equilibrar os elementos do realismo e do surrealismo na sua arte? Existem momentos em que um desses estilos domina o processo criativo?
São elementos que fazem parte da minha veia artística. O realismo e o surrealismo são os estilos que me atraem mais. Há momentos em que me sinto mais inspirado para o realismo e outros para o surrealismo. Depende do estado de espírito.
Como se desenrola o processo desde a concepção até à finalização da obra? Por exemplo, uma imagem inesperada, que lhe veio à mente, já se transformou numa obra de arte surrealista?
Não consigo dar um exemplo concreto, mas posso explicar o meu processo criativo. Este processo passa por ver uma imagem e começar a pensar nela como uma estória imaginária. Depois, transponho para a tela a ideia inicial. Durante o processo de criação até à finalização, existe uma transformação na pintura porque novas ideias surgem.
As portas antigas são uma fonte de inspiração recorrente para si. Além da história por detrás delas, existe algum simbolismo mais profundo que pretenda transmitir através da representação desses objectos nas suas pinturas?
Quem diz portas, diz outros objectos. Tem mais valor artístico pintar objectos antigos porque estes têm uma história para contar, mas quando se fala em realismo, temos que falar em objectividade. Pinta-se o que se vê e não o que sentimos. O realismo é a representação de algo, não há criatividade.
Na sua série “Saudade”, inspirada no Jardim Saudade, na ilha do Pico, como é que consegue capturar a essência desse sentimento tão intrínseco à cultura açoriana? Que elementos utiliza para transmitir essa emoção?
A saudade é um projecto em conjunto com o Terry Costa. Foi um momento de inspiração ao ver as saudades, flores que me encantaram pela sua delicadeza e cores suaves.
Este projecto iniciou-se em 2017, percorrendo as nove ilhas dos Açores e vai finalizar-se este ano em São Miguel, no Centro Municipal de Cultura.
Como são os seus cursos de pintura para iniciantes?
Os cursos de pintura de iniciação têm a duração de dois meses e o aluno experimenta o óleo e o acrílico. Ao passar para o curso avançado, decide com que material quer trabalhar e depois é um trabalho contínuo com o aluno, no sentido de evoluir e ser autónomo.
Que projectos tem entre mãos?
Neste momento tenho um projecto, em conjunto com a Câmara Municipal de Ponta Delgada, denominado “15 em Arte”. É uma exposição itinerante que está a percorrer as freguesias do concelho. Foi uma ideia pensada com o propósito de levar arte ao meio rural.
Carlota Pimentel