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“O turismo espiritual será um produto com potencial de crescimento nos Açores “, explica Natacha Soares

A jovem açoriana, de 25 anos, natural de Angra do Heroísmo, da ilha da Terceira, Natacha Soares completou o mestrado em Turismo e Desenvolvimento de Destino e Produtos, na Universidade de Évora, com o tema da sua dissertação intitulado: “O turismo espiritual na Terceira: um estudo sobre o seu potencial”, sob orientação da professora Joana Lima e da professora Maria do Rosário Borges. Ao jornal Correio dos Açores, a autora da dissertação explica quais foram os motivos que a levou a escolher o tema da sua dissertação, e qual é o potencial do turismo espiritual.

Correio dos Açores – Qual é o motivo para que o tema da sua dissertação de mestrado na Universidade de Évora tenha sido sobre o turismo espiritual na Terceira?
Natacha Soares (Autora da dissertação de mestrado sobre turismo espiritual na ilha da Terceira) – Inicialmente, queria desenvolver um trabalho de investigação sobre a ‘’minha ilha’’. Depois de ter dedicado a minha atenção à leitura de alguma literatura científica, percebi que faria todo o sentido se estudasse o turismo espiritual na Terceira, porque de acordo com a literatura estudada, o destino se apresentar determinados atributos (como por exemplo, cenários naturais e paisagens sublimes e até ser um destino remoto) pode potenciar os efeitos que o turismo espiritual tem nas pessoas (por exemplo, uma sensação de bem-estar e emoções positivas) e a ilha da Terceira tem todos estes atributos. Além disso, os Açores são o arquipélago português mais visivelmente associado a preocupações de sustentabilidade, o que vai também reforçar a ideia do turismo espiritual, ser um produto com valores éticos e, se bem estruturado, poderá reforçar os objectivos de sustentabilidade.

Quais os parâmetros do turismo espiritual?
Acho que é importante referir que o turismo espiritual não é a mesma coisa que o turismo religioso. Nos dias de hoje, as pessoas já estão a começar a dar mais atenção ao seu bem-estar e à sua saúde mental e emocional, sendo que as viagens podem ser um meio para a satisfação destas necessidades. Com isto em mente, a prática de turismo espiritual pode vir da necessidade de se fazer algumas alterações nas vidas, parar, pensar, descansar e redefinir algumas prioridades. Assim, o turismo espiritual está associado a características com foco na realização de actividades mais direccionadas à obtenção de algum benefício espiritual, como por exemplo, entrar em contacto com o nosso interior e o desenvolvimento pessoal.

Onde se pode fazer este tipo de turismo?
São já alguns destinos que são conhecidos pela parte espiritual, por exemplo na investigação, existem estudos sobre a Índia, Tailândia ou Espanha. Mas no caso dos turistas que entrevistei, estes, muitas vezes, praticaram o turismo espiritual a nível nacional, por exemplo, dois entrevistados viajaram até São Jorge para realizarem um retiro; dois entrevistados referiram que se deslocaram até ao Algarve; outro foi até às Flores, e Ferreira de Zêzere também foi mencionado. Mas, como referi, e conforme a minha investigação, o turismo espiritual pode ser realizado em qualquer local, desde que apresente algumas características fundamentais para estas experiências e que seja criado um ‘’espaço’’ que permita o turista atingir os seus objectivos de viagem.

Porquê um estudo sobre a Terceira?
Inicialmente foi só sobre a ilha da Terceira, porque é uma realidade que tenho mais conhecimento e seria mais fácil dedicar a atenção apenas a um contexto de estudo do que fazer uma análise de todas as restantes ilhas, mas de forma individual, pois cada ilha tem as suas particularidades. Contudo, depois de fazer um levantamento sobre os agentes da oferta só consegui identificar dois a realizar actividades direccionadas para o turismo espiritual na ilha, então aí decidiu-se contactar outros agentes nos Açores para que a amostragem fosse maior, e a estes eu agradeço imenso por terem tirado uns minutos do seu tempo para falarem comigo.

Qual é o impacto deste tipo de turismo?
Penso que o impacto pode ser bastante positivo. Como referi, o turismo espiritual tem um sentido ético e de responsabilidade perante o destino e as pessoas. Assim está em concordância com o trabalho que o arquipélago tem realizado continuamente no que toca ao desenvolvimento sustentável do destino. Além disso, a procura por este produto pode ser a motivação principal para se realizar uma viagem aos Açores, mas também tem quase sempre outros produtos associados como complementares, podendo assim potenciar também efeitos multiplicadores, dinamização para a economia local e diversificação da oferta dos produtos tradicionais ou mostrando-a como uma alternativa.

Quais os motivos que levam as pessoas a experimentar este tipo de turismo?
As motivações para a prática de turismo espiritual são realmente variadas. De acordo com a minha investigação, a motivação mais mencionada é a procura pelo autoconhecimento ou uma procura interior. Além disso, surgem outras motivações ligadas a motivos relacionados com alguma experiência negativa (a perda/luto, a ruptura da saúde mental, despedimentos ou o descontentamento com a realidade). A fuga ao padrão de vida do indivíduo ou o stresse das rotinas diárias, obter paz de espírito ou uma experiência social diferente são também mencionadas por estes entrevistados. Além disso, outras duas motivações são mencionadas, como o estar consigo próprio e a gratidão.

Quais são os efeitos positivos para os turistas nesta experiência?
Na minha investigação, os turistas relataram alguns efeitos positivos das suas experiências, e mencionaram que sentiram uma sensação de limpeza, leveza e calma depois da experiência. Sentiram também uma sensação de paz depois da prática das suas actividades e também estabeleceram uma ligação e relação com as outras pessoas que estiveram também a participar nas mesmas actividades e que permaneceram para lá daquele momento. Outros efeitos também mencionados pelos entrevistados da minha investigação foram o facto de se sentirem bem a nível mental e emocional, o apreço maior pelas coisas, o praticarem o desapego, o empoderamento ou sentirem a ligação a algo superior.
Em relação aos efeitos negativos, é preciso referir que muitos dos entrevistados não sentiram efeitos negativos, contudo alguns admitiram que tiveram emoções como o choro, o confronto consigo mesmos ou com algumas emoções e sensações de sentirem desconforto com determinados temas que eram falados. No entanto, estes efeitos não foram considerados pelos entrevistados como efeitos negativos verdadeiros, mas sim como efeitos que acabaram por contribuir para algo evoluir neles próprios.

Acredita que o turismo espiritual está em crescimento nos Açores?
Acredito que o turismo espiritual será um produto com potencial de crescimento nos Açores. Já se nota o surgimento de vários negócios turísticos no arquipélago com actividades muito interessantes e que exploram muito bem a parte espiritual. Contudo, penso que o produto não está ainda bem estruturado e isso é um aspecto fundamental. Acredito que o arquipélago tem todo o potencial e mais algum para que este produto se desenvolva, e com base nas entrevistas que realizei, ficou claro que o ambiente envolvente das experiências de turismo espiritual pode ser decisivo para a satisfação dos turistas e também para o sucesso dessas experiências, ou seja aspectos como a pureza, a tranquilidade, o misticismo e a beleza dos Açores foram mencionados como fatores muito importantes, assim como a hospitalidade e o acolhimento das pessoas. E todos os entrevistados mostraram muito interesse em vir aos Açores realizar turismo espiritual, penso que isto já diz muito.

Quais são as conclusões que tira?
As minhas conclusões são bastante positivas. Reconheço que a Terceira tem toda uma envolvente fascinante para que o produto seja estruturado e desenvolvido de forma sustentável. As nossas paisagens naturais são exuberantes, as nossas pessoas são hospitaleiras e acolhedoras. Dois pilares deste tipo de turismo. Espero realmente que os resultados do meu estudo possam dar contributos relevantes para os agentes da oferta do turismo espiritual, tal como a nível institucional, para os responsáveis pelo desenvolvimento do destino turístico Açores, pois a dissertação apresenta a percepção acerca do que pensam estes agentes/instituições sobre esta temática, as suas opiniões e potencialidades que reconhecem ao turismo espiritual, mas também os desafios para o seu desenvolvimento num destino particularmente frágil e com recente crescimento do número de turistas.

Filipe Torres

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