… Ou entre Ditaduras? A do Medo e da Manipulação?
Como muito bem caracterizaram Serguei Guriev e Daniel Treisman no seu livro “ A Ditadura Adaptada ao Século XXI”.
“Ditadura – Governação pelo medo:
-Muita repressão violenta – muitos assassinatos políticos e presos políticos;
-Censura pública – queima de livros, proibições oficiais;
-Ideologia oficial por vezes imposta;
-Propaganda opressiva combinada com rituais de lealdade;
-Ridicularização da democracia liberal;
Ditadura – Governação pela manipulação:
- Violência ocultada para preservar a imagem do líder esclarecido;
- Alguns órgãos de comunicação social da oposição permitidos;
- Propaganda mais subtil para alimentar a imagem de competência do líder;
-Simulação de democratização;
O enfraquecimento das instituições democráticas é um dos caminhos mais rápidos para o colapso duma sociedade que se pretende de convivência sadia e de diálogo profícuo.
Como escrevia Gideon Rachman, atrás duma democracia que entrou em falência esteve quase sempre um “homem – forte”.
São personagens que têm usado de modo despudorado a mentira e uma linguagem extremada e violenta.
Tudo têm feito para manipular e moldar as instituições à sua medida, derrubando os obstáculos legislativos que podem travar os seus desígnios.
Putin mudou a Constituição para poder ser presidente até ao fim dos seus dias, perpetuando-se no poder e silenciando os seus opositores.
Orbán aprovou uma designada lei de “capacitação” que lhe permite governar por decreto e passar por cima do Parlamento.
Trump tudo fez para que o Supremo Tribunal dos Estados Unidos tivesse uma maioria de juízos conservadores e que viessem a tomar decisões que lhe fossem favoráveis.
Se não conseguirem estes seus intentos tudo farão para que o caos prevaleça e possam surgir como os “salvadores da pátria”, para ajustarem contas com os seus adversários a quem passarão a designar como inimigos, eliminando-os na ocasião mais propícia.
Em Portugal, cinquenta anos depois do 25 de Abril de 1974 que marcou a Revolução dos Cravos, que derrubou o regime ditatorial do Estado Novo e abriu caminho para o estabelecimento dum regime democrático, há quem proclame um ajusta de contas.
Que pode envolver várias dimensões.
Será que pretendem considerar a avaliação da consolidação da democracia e a qualidade das suas instituições, o nível de participação cívica ou da transparência governamental?
Questionar se o legado dos ideais de liberdade, igualdade e justiça social foram alcançados?
Realizar uma reflexão crítica que possa contribuir para fortalecer os valores democráticos e promover uma sociedade mais justa e inclusiva para todos os cidadãos?
Reavivar o patriotismo no que à devoção e lealdade para com a nação respeitam, envolvendo o sentimento de orgulho em relação à história e cultura sem que tal implique uma atitude negativa em relação a outras nações?
Ou ao invés restaurar o nacionalismo e o sentimento de superioridade em relação a outras nações, alimentado a crença da supremacia da nação, potenciando atitudes xenófobas e agressivas em relação a outro países? Nas últimas eleições para o Parlamento de Portugal, mais de um milhão de portugueses manifestaram a sua opção por um partido integrador da internacional extremista da direita nacionalista europeia, onde pontuam partidos como a AfD alemã ou o Vox espanhol, herdeiros de Adolf Hitler ou de Francisco Franco.
Contrário aos princípios e valores democráticos e que pretende levar a “bom porto” um “ajuste de contas” com o sistema político renascido com a Revolução de Abril.
Que como se sabe é um regime democrático que se rege por princípios e valores da Liberdade, da Inclusão e do Patriotismo, inscritos na Constituição aprovada em 1976 por uma larga maioria dos representantes do Povo.
Nada de surpreendente. Trata-se dum fenómeno global. O descontentamento com a democracia liberal está longe de ser um caso apenas português.
Países com nível de vida superior como a Holanda ou a Suécia semelhante situação tem acontecido.
Para já não falar de nações como os Estados Unidos, Hungria, Brasil, Espanha ou França.
Os discursos utilizados, embora com diferenças, são na base os mesmos.
Vão desde a corrupção, a imigração, a insegurança e o nacionalismo…
Apresentam para problemas complexos, soluções simples.
Contudo, é necessário ser-se realista.
Existe racismo e xenofobia na comunidade. Estava-se apenas à espera de ter alguém que fosse a respectiva voz.
Por outro lado, associam as desigualdades e o crescimento das empresas que dominam o mundo à Democracia.
Existem pessoas “cegas” de raiva que não entendem que estão a ser manipuladas por gente que apenas está interessada em rentabilizar essa revolta em benefício próprio e alcançar o poder o mais rapidamente possível.
São oportunistas que se estão nas tintas para a vida dessas pessoas.
Exploram os seus sentimentos de revolta para criarem um mundo onde todos viverão pior e uma elite viverá melhor.
O ajuste de contas com a Democracia, como a história testemunha, acaba sempre em ditadura. - António Benjamim