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Nicadelas: Burlões de faca e alguidar

Com a minha proveta idade, julgava que a fase de ser ludibriado tinha finalmente terminado. Ainda recordo, com alguma mágoa, o acontecido com a habilidade de certo amigo (da onça) vendedor de carros, que por via dum empréstimo no dizer dele, para se deslocar ao continente para tratamento oncológico, para desconto dos meus pecados, me cravou mais de uma mão cheia de milhares de euros, tendo deixado de garantia um cheque. Este, chegada a data de o levantar, verifiquei estar mais careca do que a palma da minha mão. Quando o confrontei com a situação, disse-me simplesmente:

  • “Vai para a Justiça.”
    A conselho de outro pirata, recorri a certo advogado, algo entradote na idade, de chapéu na cabeça e cheio de “perlápapiê”, que prontamente me garantiu o caso ser favas contadas, porque no dizer dele ninguém passa cheques por diversão. Em Tribunal, a Juíza nem chegou a ouvir nenhuma das partes, dizendo simplesmente que ia apreciar o caso e depois os respectivos advogados teriam noticias suas. Não é que uma semana depois, passando pelo tribunal, fui informado que o “gabiru” foi absolvido da responsabilidade de me pagar. A partir desta data passei piamente a acreditar quando me dizem que:
  • “A Justiça está ao lado dos aldrabões e dos caloteiros”.
    Mas foi sol de pouca dura, pouco tempo depois, ele pagou tudo =tudinho= quanto de mal fez ao seu semelhante. Ainda me estou a recordar quando, na véspera dele dar o badagaio, fui visita-lo ao hospital, para encomendar a sua/dele alma ao mafarrico, pois foi atacado por um fulminante cancro que o atirou para a cama do hospital, deixando-o só pele e osso, mais escuro do que um tição.
    Resumindo, fui enganado pelo caloteiro, depois pelo advogado e, finalmente, pelo desleixo da Juíza que não desempenhou devidamente o seu trabalho.
    Não é que hoje, Sábado, sou contactado via telemóvel por um individuo todo bem falante que afirmou ser dono dum restaurante nas Furnas dizendo estar interessado em comprar uma máquina de café industrial que eu tinha publicitado no custo justo, ficando acordado que a meio da semana, a vinha recolher, mas queria pagar primeiro, (quem é que não gosta de ouvir isso?). Aconselhou-me a dirigir-me a uma caixa multibanco mais próxima, onde teria de inserir o meu cartão multibanco, digitalizar o meu código, clicar na opção Mbway-waynet, inserir uma tal senha e, finalmente, marcar seu numero de telemóvel, garantindo-me que cerca duma hora depois o depósito da quantia combinada seria uma realidade na minha conta, mas o pior já vinha a caminho. Decorrido cerca de meia hora e estando já em casa, após uma consulta na minha conta corrente, para meu espanto, verifico que o burlão de rajada fez três levantamentos, respectivamente de 200, 150, e 20 euros, e não arredondou as contas porque nesta manhã carreguei o telemóvel com 30 euros. Deu-me um baque no coração e quase nem queria acreditar. Imediatamente, recorri, via telefone, aos serviços de ajuda do banco (24 horas operacional). Como era fim-de-semana, mandei anular o cartão multibanco, pois poderia acontecer o burlão paulatinamente e a cada 24 horas limpar-me a conta toda. de seguida apresentei queixa na Judiciária.
    Após uma breve pesquisa, verifiquei que o burlão era do Continente, mais precisamente de Setúbal. Quando me ligou recorreu a cartões de telemóvel pré-pagos, deixando depois de me atender. Usou uma caixa multibanco no interior duma farmácia, na mesma cidade. Quando informei a dona desate estabelecimento do acontecido, ela respondeu que “isto era o pão nosso de cada dia”.
    A técnica do burlão passa por ligar ao fim-de-semana, ou fora de horas de expediente. Assim, o visado não pode recorrer ao aconselhamento dum funcionário seu conhecido no Banco; não discute em demasia o desconto; está muito necessitado do artigo; demonstra a intenção de pagar de imediato, adiantando ser pessoa muito ocupada; e combina a hora para que o visado se dirija à caixa multibanco. Pouco tempo depois, liga novamente para abreviar o espaço temporal (assim não dá margem para desconfiar). Depois da vitima ter inserido o cartão multibanco, posto o seu código, a seguir a senha e o numero de telemóvel do burlão, não há mais nada a fazer: a nossa conta para sua satisfação fica ao dispor dele.
    Tenho a firme certeza que aquele rico dinheirinho (tal como o anterior) jamais terei a ventura de o ver depositado na minha querida continha. Acredito que, pelo menos, a descrição do supracitado tenha o condão de alertar outras possíveis vitimas, para não cair na esparrela tal como o escrevinhador destas linhas. Por isso, quando tiver algo para vender, a melhor opção é receber do comprador “elcontado”, deixe de fora os cheques e muito menos estas aplicações modernices.
    Já o meu Pai dizia: – Gato escaldado, da água fria tem medo.
  • Jaime Neves
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