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Clínica do Bom Jesus inova na área da patologia da coluna e começou a realizar cirurgias endoscópicas no passado mês de Março

No mês de Março deste ano foi realizada a primeira cirurgia endoscópica na Clínica do Bom Jesus. Este foi o resultado da cooperação entre David Carpio, neurocirurgião, e Ricardo Simões, ortopedista, ambos complementares e habilitados para realizar esta cirurgia. No caso da cirurgia da coluna, as especialidades Neurocirurgia e a Ortopedia são complementares e estão devidamente capacitadas e autorizadas pelos respectivos colégios para exercer. Na Clínica do Bom Jesus, a equipa cirúrgica está conformada por ambas as duas especialidades o que faz com que seja mais completa e eficiente. Ao Correio dos Açores, os médicos explicaram as vantagens deste tipo de cirurgia, que tipo de pessoas estão habilitadas a ela e ainda revelaram que estão “a criar uma unidade de cirurgia de coluna multi-disciplinar”.

Correio dos Açores -Quando começaram a ser realizadas cirurgias endoscópicas na Clínica do Bom Jesus?
Ricardo Simões (ortopedista) – A primeira cirurgia aconteceu no inicio de Março. Era uma utente que tinha uma hérnia discal lombar, com muita dor lombar e radicular.
Foi um bom paciente para se propor uma cirurgia minimamente evasiva, por via endoscópica. Correu tudo bem, e o doente teve alta no dia a seguir.

David Carpio (neurocirurgião) – Eu e o doutor Simões somos uma equipa. Claro que cada doente tem a sua consulta individual, mas vamos discutindo caso a caso para encontrar a melhor solução para cada paciente. Quando eu opero, o doutor Simões ajuda-me e vice-versa.
Terça-feira passada operamos mais dois pacientes. Trabalhamos com duas empresas, eu com a UNINTECH e o doutor Simões com a Joimax, mas ambas com o mesmo objectivo. A diferença entre as duas são mais a nível de instrumentos de trabalho, mas as indicações de cirurgia são semelhantes.
Como disse, operamos uma doente, com 37 anos, com uma hérnia discal a comprimir um nervo e operamos um senhor com uma hérnia na parte alta da coluna lombar. Ambas as operações ocorreram com sucesso e os pacientes tiveram alta no dia a seguir. É um tipo de cirurgia que pode ser feito em regime ambulatório, mas que na maioria das vezes os pacientes ficam internados cerca de 24 horas.

Que vantagens tem a cirurgia endoscópica em relação a uma cirurgia convencional?
David Carpio – A cirurgia endoscópica é uma cirurgia minimamente evasiva mas não esta isenta de riscos. Toda a cirurgia vai ter riscos. Na teoria, esta cirurgia tem menos riscos e tem uma evolução melhor pós-operatória para o doente pelo facto de preservar a maior parte das estruturas anatómicas, ou seja, mexe-se pouco com os músculos e em relação aos ossos faz-se uma osteotomia parcial. A cirurgia é mais focada onde está o problema.
Tem também a grande vantagem da recuperação ser mais rápida. O doente, depende da patologia que tem, deveria voltar às suas actividades quotidianas e diárias o mais rápido possível.

Ricardo Simões – As grandes vantagens são as que o doutor Carpio enumerou. É uma cirurgia que tecnicamente é exigente, tem a sua curva de aprendizagem mas na verdade os riscos cirúrgicos são menores. A incisão, o risco de haver infecções e de haver uma lesão numa estrutura neurológica são menores. E isto depois é evidenciado no pós-operatório. Do paciente tem alta mais cedo e necessita de fazer menos medicação. Normalmente, o paciente também retorna ao seu dia-a-dia mais cedo.

Normalmente quanto tempo demora um doente a recuperar de uma cirurgia endoscópica?
Ricardo Simões – Depende sempre da actividade laboral do doente. Se é um doente com uma baixa demanda funcional em termos de actividade laboral, provavelmente demora um mês a recuperar. Se for um doente que tem uma alta actividade laboral, como por exemplo pessoas que trabalham na construção civil ou condutores de pesados, o tempo será estendido por mais alguns meses. Claro que o doente é sempre reavaliado em consulta e pode sempre entrar em contacto connosco.

David Carpio – Depende também da fisionomia de cada doente. Um doente que sofra de obesidade, de depressão ou que sofra de outras doenças que envolvam dor, como por exemplo a fibromialgia, ou então que sofram de patologias degenerativas de vários níveis, e que tenham outras fontes de dor que não a que seja preciso operar, vão precisar de um pouco mais de tempo.
Mas normalmente o cliente volta sempre a fazer a sua vida dita normal em menos tempo que através da cirurgia convencional. Entre 98 a 99% das cirurgias correm sempre bem, temos sempre uma margem de erro de 1 a 2%. E quando ocorre alguma complicação, na maioria das vezes são de rápida solução. Poderá ser o caso de se fazer uma incisão maior, por exemplo, mas conseguimos sempre resolver.

Serão feitos protocolos de cooperação através da Clínica do Bom Jesus para poderem operar mais utentes?
David Carpio – Infelizmente ainda não posso dar uma resposta concreta a esta questão. O que posso afirmar é que normalmente o cliente é operado depois de ser acompanhado em consulta. E isto tanto pode acontecer aqui na clínica ou em outra instituição. Por exemplo, também dou consultas na CAL Clínica e um doente que for visto lá e precisar de cirurgia, podemos trazê-lo para cá.
No inicio será apenas através de consultas. É importante ressalvar que nem todas as patologias são tratadas através da endoscopia. Esta parte da selecção e do procedimento cirúrgico resulta do nosso trabalho conjunto e da avaliação que fazemos dos doentes.
Que investimento foi feito pela Clínica para se começaram a realizar este tipo de cirurgia?
David Carpio – Para a realização de cirurgia endoscópica da coluna, a clínica já possuiu alguns equipamentos. Depois as empresas com que trabalhamos conseguem nos fornecer o material que falta para a realização de alguma cirurgia mais especifica. Em termos de investimento, a clínica já tinha os recursos essenciais e os extras são suportados pelas empresas.

Então a Clínica do Bom Jesus ainda não fez investimento neste tipo de cirurgia…
Ricardo Simões – Neste tipo de cirurgia ainda não tem. Se o volume de cirurgias começar a aumentar, poderá ser algo a pensar. Poderemos ter a necessidade de ter os instrumentos específicos sempre cá, no futuro. Mas é algo que ainda não acontece.

David Carpio – Importa referir que não fazemos só cirurgias endoscópicas. Fazemos uma grande variedade de cirurgias à coluna e a Clínica do Bom Jesus já tem feito um investimento importante. Em 90% das cirurgias que realizamos, é necessário o uso de um motor e a clínica investiu num motor topo de gama que estamos a usar. Outro investimento importante foi feito num novo microscópio que é fundamental em todas as cirurgias da coluna. É importante contar com bons recursos e a clínica tem investido muito dinheiro em modernizar o bloco operatório neste sentido.

Realizaram até agora três operações. Este número pode aumentar?
Ricardo Simões – Contando com a divulgação e sendo uma cirurgia minimamente evasiva, que pode oferecer melhores resultados para os doentes, é normal que seja uma abordagem que seja mais procurada. Hoje em dia os doentes preocupam-se em fazer uma cirurgia que saibam que o pós-operatório seja mais rápido e que possam voltar a trabalhar mais rapidamente. Diria que tendencialmente o número de operações vai aumentar.

David Carpio – Também estou convencido que o número vai aumentar até porque a endoscopia não foi desenhada para uma nova patologia. São as mesmas doenças da coluna que agora se fazem com esta estratégica cirúrgica. São as mesmas hérnias que se operavam antigamente, com incisões grandes ou até mesmo com microscópio que agora se faz com a endoscopia. Os doentes são os mesmos e a patologia, especialmente a degenerativa da coluna tem afectado pessoas novas. É uma área que vai aumentar cada vez mais.

O que levou a Clínica a começar a realizar este tipo de cirurgias agora?
Ricardo Simões – É importante dizer que antes de começarmos a realizar as cirurgias endoscópicas tivemos muita formação em vários países da Europa. Também estamos em contacto com vários profissionais. Juntos temos entre 50 a 60 cirurgias feitas. Já fizemos a nossa curva de aprendizagem e estamos sempre a fazer renovação científica. É algo que já o fazemos há algum tempo e quanto mais se faz, melhores resultados tem e fazemos melhor a selecção dos doentes. Isto é algo que transmite maior segurança para o próprio doente.
Conseguirmos oferecer isto aqui na Clínica do Bom Jesus é uma mais-valia para a população.

David Carpio – A cirurgia endoscopia já existe há cerca de 20 anos, mas apenas tem evoluído com alguma velocidade nos últimos 10.
Pensamos que a população dos Açores merece uma atenção diferenciada, com menos riscos, como já foi explicado. Já existia no continente e com a Clínica do Bom Jesus é uma clínica conhecida e querida nos Açores, achamos que era mesmo necessário dar uma nova imagem no tratamento da patologia da coluna.

Que características tem um utente que se habilite a este tipo de característica?
David Carpio – Falando da obesidade, quem sofre desta patologia, normalmente, tem um maior risco nas cirurgias e acabam por ser rejeitados pela maioria dos cirurgiões.
A cirurgia endoscópica está orientada para ajudar este tipo de doentes. Este tipo de doentes tem um maior risco de infecções, uma vez que se fazem incisões muito grandes e têm uma camada de tecido gordo também grande. Este risco é minimizado.
Alguns doentes não precisam de uma grande cirurgia. Muitas vezes é preciso fazer uma descompressão selectiva de um nervo que está comprimido numa hérnia. O objectivo é atingido desta maneia em pessoas que de outra forma não seriam operadas.
Também para pessoas com outras doenças, como por exemplo cardiopatias, onde o tempo de cirurgia é importante. Com a endoscopia consegue-se reduzir, não a 100% claro, o tempo de anestesia e isto é algo importante nas cirurgias em pessoas que sofrem destas doenças. O posicionamento da marquesa também é algo que pode ser melhorado com esta técnica.

Em média, quanto tempo demoram em cada cirurgia?
Ricardo Simões – Depende sempre da quantidade de níveis que vão ser operados. Depende do tamanho do paciente e da cirurgia em si que vai ser feita. Diria que em média, cerca de 80 a 90% das cirurgias, demoraram cerca de 1h30m desde o início até ao fim. Claro que há casos que podem levar mais tempo.
David Carpio – a habilidade do cirurgião também é algo que devemos sempre de ter em conta. As características anatómicas de cada pessoa, que podem variar, também são muito importantes para o tempo que se demora a realizar a cirurgia. A variante anatómica faz com que uma cirurgia possa ser mais ou menos complicada e ser feita mais ou menos rapidamente.
Neste momento o tempo é o menos importante. O que importa é fazer uma cirurgia com menos agressividade nos tecidos e com menos taxas de complicações. Às vezes pode demorar mais do que uma cirurgia convencional mas o benefício que trás para o doente é claramente superior. O tempo não é o factor principal sem deixar de ser um factor importante.

É uma cirurgia muito dispendiosa para o utente?
David Carpio – Os custos são muito parecidos com os custos de uma cirurgia convencional. Claro que também tem o custo dos materiais descartáveis que são usados na cirurgia. E tem o custo do alugues dos instrumentos e de toda a parte técnica da cirurgia. Como mencionamos, são as próprias empresas que trazem os instrumentos para fazermos as cirurgias e tudo isto implica um custo, com o transporte e tudo o mais. Mas não faz muito diferença, especialmente se for uma cirurgia que não leva próteses ou implantes. Tem os custos muito semelhantes a uma cirurgia convencional.

Ricardo Simões – em relação ao custo queria dizer que neste tipo de cirurgia, como o tempo de internamento é menor, o custo fica reduzido. E como voltam a trabalhar mais cedo, podem começar a receber o ordenado por inteiro mais cedo. Não podemos só pensar na cirurgia. Temos também de pensar no tempo de recuperação, que acaba por ser menor. Isto é algo que também beneficia as empresas porque não perdem o seu funcionário por tanto tempo.

Têm algo mais a acrescentar?
Gostaríamos de anunciar que estamos a criar uma unidade de cirurgia de coluna multi-disciplinar. Vai envolver a presença, não de maneira permanente mas sim através de colaboração, de: neurologia clínica, fisiatria e fisioterapia, de anestesia com terapia de dor, radiologia e psicologia, uma vez que a maioria dos doentes da coluna são doentes crónicos que necessitam de acompanhamento, também, da parte psicológica.
Estamos a apostar forte para a criação desta unidade multi-disciplinar de cirurgia da coluna.

Frederico Figueiredo 
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