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“Uma sociedade onde existam grandes desigualdades é mais susceptível a ocorrerem vários tipos de problemas internos”

Professor Luís Andrade e o 25 de Abril

Correio dos Açores – Que idade tinha quando se deu a revolução de 25 de Abril de 1974?
Professor Luís Andrade – Eu tinha 18 anos quando ocorreu o 25 de Abril de 1974.

Onde se encontrava e como soube do início da revolução
Eu estava em Ponta Delgada quando tive conhecimento da revolução através da rádio. Na altura, um dos pontos de encontro era no então Café Liz, e foi aí que eu e vários colegas meus pudemos compartilhar o pouco que sabíamos e as possíveis consequências para o nosso arquipélago e para o país.

Como seguiu os momentos mais decisivos do 25 de Abril e os tempos que se lhe seguiram?
No início, foi tudo muito confuso na medida em que havia notícias contraditórias e muitas delas sem fundamento. No entanto, o que nos parecia mais importante era, de facto, a alteração de regime que se estava a operar em Portugal. Após várias décadas da existência de um regime claramente autoritário, houve a possibilidade de se poder viver numa democracia com todas as vicissitudes que a caracterizaram, sobretudo nos meses e anos que se lhe seguiram. As minhas primeiras impressões foram caracterizadas por uma grande imprevisibilidade e preocupação face aos acontecimentos que estavam a ter lugar no país com implicações tanto a nível interno como externo. Lembro-me, já nos EUA, em Julho de 1975, ouvir Henry Kissinger dizer que, e estou a citá-lo “ Portugal está perdido para o comunismo”.
Por outro lado, a descolonização que teve lugar após o 25 de Abril foi, em meu entender, inevitável, por um lado, e imprevisível, por outro. Lembro-me deste assunto ser abordado, várias vezes, nas aulas de Relações Internacionais, na minha Universidade, com grande curiosidade na medida em que muitos norte-americanos não entendiam como foi possível a um pequeno e pobre país manter uma guerra colonial em três frentes.

Quais os benefícios da revolução para Portugal e para os Açores?
Os benefícios para o país e para os Açores foram evidentes. Desde logo, a liberdade alcançada, decorrente da implementação de uma democracia, era algo que os Portugueses almejavam há muito tempo. Por outro lado, a possibilidade de os cidadãos deste país poderem participar em eleições livres era e é extremamente importante. Independentemente dos muitos problemas que existiram e continuam a existir, a democracia continua a ser a melhor das piores formas de governo.
No que aos Açores diz respeito, não podemos deixar de referir a possibilidade, decorrente da Constituição de 1976, da existência de uma Autonomia que possibilitou a criação de uma Assembleia Legislativa e de um Governo. Por outro lado, a criação da Universidade dos Açores, constituiu um marco fundamental no que diz respeito ao desenvolvimento do nosso arquipélago. É, de igual modo, relevante referir que a referida Constituição permitiu aos Açores ter uma palavra a dizer relativamente aos acordos internacionais em que estão envolvidos.
Foi, de igual modo, a democratização do nosso país que lhe permitiu a adesão à então Comunidade Europeia, em 1986. Portugal não tinha, em meu entender, outra alternativa a não ser a sua participação nos assuntos europeus. O “orgulhosamente sós” não podia continuar.

Qual a renovação que é preciso fazer para garantir o primado da democracia em Portugal e nos Açores?
Esta questão é fundamental, sobretudo nos dias de hoje. A sua resolução não é fácil nem compete exclusivamente ao Governo. Deve ser um esforço de toda a sociedade para se evitar, o mais possível, os populismos que têm vindo a aumentar não apenas na Europa. A título de exemplo, veja-se o caso paradigmático da Hungria, um país membro da União Europeia e da OTAN. Por outro lado, o aumento significativo de partidos e de movimentos conotados com a extrema direita é, no mínimo preocupante.
Consequentemente, é fundamental que, por exemplo, nas escolas, se faça um esforço para explicar aos alunos a relevância dos princípios democráticos, como a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.

Qual a pergunta que gostaria que lhe fizesse a propósito do 25 de Abril de 1974 e qual a sua resposta?
Será a nossa sociedade mais justa? Penso que o conceito de justiça, neste contexto, se reveste de grande importância na medida em que uma sociedade onde existam grandes clivagens e desigualdades é mais susceptível a ocorrerem vários tipos de problemas internos. O 25 de Abril de 1974 constituiu um marco fundamental no que diz respeito, por um lado, à democratização da sociedade e, por outro, ao aumento das possibilidades que se abriram à população em geral.

João Paz

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