Escrutinar a Democracia? Sim! Zelar e cuidar dela? Sim, fundamental! Valor perene da Liberdade? Insquestionável!
Estará a Democracia em perigo? Sim, está! Quem ousa negá-lo, está a olvidar a História recente.
Ao contrário, existem académicos e comentadores que não hesitam em sublinhar que o populismo de direita não põe em causa a Democracia.
Eles que voltam…Fartos
Em 2024 a Democracia volta a ser questionada e posta em causa.
No ano em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril, há quem se perfile para não o fazer, refugiando-se, cobardemente, apenas no 25 de Novembro de 1975, como o verdadeiro dia da restauração da Democracia, quando têm por objectivo derrubá-la.
Aliás como se vem assistindo por esse mundo fora.
Exemplos não faltam. No passado dia 8 de Janeiro assinalou-se um ano do ataque aos palácios sedes dos três poderes em Brasilia, por parte de apoiantes de Bolsonaro, que ainda recentemente veio declarar o seu apoio ao aliado português
Oportunistas, servindo-se das vulnerabilidades da democracia, dela se aproveitam, não para a melhorar, mas para a substituir por regimes alternativos autoritários e ditatoriais, fomentando o ódio e a divisão, do “nós” e “os outros”.
Recentemente chegou um partido proclamando.
Chega, estamos fartos. Há que mudar o sistema. Urge outra Constituição.
Chega de ciganos, pretos e emigrantes.
Nós trabalhamos e pagamos impostos, para andarem para aí malandros a viverem do rendimento mínimo. Chega de subsídios. Chega de Estado. Privatizar já.
Contam com aliados de peso. Aplica-se aqui o popular ditado. “diz – me com quem andas dir-te-ei quem és”.
Na Europa com Abascal, Le Pen , Orbán, Putin, Fico ou Salvini.
Nas Américas com Trump, Bolsonaro e Milei.
Têm como financiadores, alguns representantes de grandes grupos económicos protegidos da “velha senhora”, entretanto ressuscitados.
Defendem a pena de morte, castração química para pedófilos ou retirar os ovários às mulheres que abortem.
Barbárie, trevas ou retrocesso civilizacional?
Alguma vez sociais – democratas ou democratas cristãos subscreveriam tais barbaridades?
São ímpares e criativos. Discurso curto, directo e proclamatório.
Com sentido de oportunidade têm vindo a aproveitar um “nicho de mercado eleitoral” descontente, injustiçado e desalentado.
Como ninguém sabem o clamor do povo.
Na rua, no café, na fábrica, no campo, no bairro mais degradado, até ao condomínio mais luxuoso, nas vilas e aldeias mais remotas às cidades de província ou às metrópoles urbanas.
Mas não se ficam por aqui, aos com muito dinheiro prometem baixar impostos e oportunidades de novos negócios na saúde, na educação, nos transportes e até na segurança, sectores que devem ser privatizados.
Aos desempregados ou empobrecidos da classe média, prometem emprego e melhores salários.
Discurso cativante e mobilizador. Negam quando lhes chamam populistas e oportunistas, porque falam consoante a plateia a que se dirigem.
Têm a apoiá-los, alguma comunicação social escrita e áudio – visual. De forma subtil e dissimulada.
Certas personagens que ontem os “olhavam” com alguma suspeição, hoje procuram normalizá-los e até se aborrecem que se esteja sempre a dizer que são anti-sistema e contra a democracia.
E lá vem o “chavão”. São democratas e reconhecidos pelo Tribunal Constitucional.
Alinhados com os seus camaradas do “Vox” de Espanha, igualmente combatem qualquer pretensão federalista ou independentista, pelo que os resistentes da “causa açoriana” devem ficar de sobre aviso.
“Açores – Precisam duma limpeza”. Propagandeiam.
São gente desiludida ou despeitada que já militou noutros partidos, só os abandonando quando, enquanto candidatos a eleições por esses partidos, perderam para os seus adversários, provando que só lhes interessa a oportunidade de serem poder.
Em entrevista recente o filósofo britânico Jules Evans afirmava:
“Não se deixem enganar. Não negoceiem com grupos de extrema-direita autoritários. Eles não acreditam na liberdade de pensamento…”
Normalizar e aceitar esta ideologia extremista de direita é cometer o mesmo erro que nos anos 30 do passado século, os democratas fizeram com o nacional socialismo de Hitler.
Depois foi o que a história nos tem transmitido.
Antes de terminar justo enaltecer e louvar a iniciativa corajosa e consequente do cidadão Açoreano Filipe Cordeiro, militar de Abril, que tem desde há 50 anos liderado e organizado as comemorações da Revolução dos Cravos.
Nas suas dissertações Cordeiro não tem deixado de reafirmar que “há um modelo de desenvolvimento do 25 de Abril que ainda está por cumprir”, embora reconhecendo que nestes últimos anos se têm dado “passos importantes” e “alterações qualitativas na sociedade portuguesa”.
Saibamos escrutinar a Democracia sem deixar de a zelar e cuidar, como valor perene da Liberdade.
António Benjamim